Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 237 - de 10 a 16 de novembro de 2003
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Parceria reúne pesquisa
e sabedoria popular
Idosos desenvolvem atividades coordenadas por cientistas
que atuam na área de plantas medicinais

ANTONIO ROBERTO FAVA

Integrantes do Grupo da Terceira Idade em viveiro de mudas do CPQBA: troca de conhecimentos

Convênio entre o Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp e o Centro de Ação Comunitária da Prefeitura de Paulínia (Caco), mostra que pode ter êxito a fusão de conhecimentos populares com a ciência acadêmica no desenvolvimento de atividades teóricas e práticas em relação ao cultivo de plantas medicinais.

Projeto com esse propósito começou há cerca de três anos, quando os pesquisadores decidiram contar também com a experiência e a sabedoria popular de pessoas que formam o Grupo da Terceira Idade e que, pelo menos uma vez por semana, freqüentam os viveiros e campos do CPQBA. O principal objetivo do Caco é que os idosos aprimorem a capacidade para desenvolver habilidades e conhecimentos sobre o cultivo de plantas medicinais. E, para isso, não há a de necessidade conhecimentos técnicos anteriores, mas apenas que o interessado goste do campo e de mexer com plantas e com a terra.

“O que o CPQBA busca com esse trabalho é apresentar as atividades de pesquisas que desenvolve, passar aos interessados a importância da identificação de plantas medicinais e, com o pessoal da terceira idade, trocar informações sobre o uso e aplicação das espécies”, diz a engenheira agrônoma Glyn Mara Figueira, coordenadora do projeto, que divide as tarefas com o biólogo Benício Pereira. E os resultados obtidos até agora têm sido muito bons, em virtude da cooperação mútua que há entre a experiência popular com a ciência desenvolvida dentro dos laboratórios de pesquisas do Centro.

Informação popular – Glyn explica que já houve momentos em que seus colaboradores deram informações importantes sobre plantas, cujas propriedades e aplicações iam além daquelas que a pesquisadora conhecia. “Eram informações novas, que logo registramos em nosso banco de dados para ser investigadas com mais acuidade”, explica.

Os participantes do projeto têm uma série de atividades no campo, onde é feita a coleta de sementes de plantas, e no viveiro – no próprio Centro de Pesquisas – onde têm contato com as etapas de produção de mudas. As plantas, depois de crescidas, são levadas para o campo.

A engenheira agrônoma Glyn Mara Figueira, coordenadora do projeto: resultados animadores

“Para nós, isso é muito importante porque, nesse processo todo, resgatamos a informação popular que os mais antigos usavam, que aprenderam com seus pais e avós sobre a utilização de determinada planta medicinal, e a maneira como é produzido o fitoterápico originado dessa planta”, diz Glyn. Às pessoas que formam o grupo é mostrado também como é desenvolvida a pesquisa, a partir da informação popular sobre determinada erva ou planta, para se confirmar cientificamente se o seu uso é viável para a produção de medicamento.

Um bom exemplo de todo esse processo é a planta Cordia curassavica, mais conhecida pelo nome de Erva-baleeira, Maria-milagrosa ou Maria-preta. Trata-se de uma erva de alto poder de cura, largamente usada no tratamento de contusões.
“Pesquisas desenvolvidas aqui no Centro relacionam-se ao cultivo e à extração do princípio ativo. Foi confirmado que a Erva-baleeira possui também substâncias antiinflamatórias que poderão se transformar em fitoterápico para contusões, reumatismo, artrite ou nevralgias, entre outros males”, explica a pesquisadora.
Outros estudos estão sendo desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas com plantas medicinais. O poejo, planta medicinal da família das labiadas (Mentha pulegium L.) e o guaco – para tratamento da tosse – da família das compostas (Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker), são duas das plantas usadas nessas linhas de pesquisa do Centro.

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O legado do campo

Todas as sextas-feiras, pelo menos por duas horas, aposentados que têm entre 60 e 70 anos, se reúnem no viveiro do CPQBA. Nem todos vieram do meio rural, mas todos, pelo menos em algum momento de suas vidas, tiveram alguma experiência com o campo. E agora querem resgatar um pouco desse tempo que ficou para trás. No viveiro do CPQBA, manipulam cerca de 350 espécies de plantas.

Dona Miriam dos Santos tem 59 anos. Diz que sempre gostou de plantas, “embora meus conhecimentos sobre as medicinais sejam um pouco diferentes dos conhecimentos que estou adquirindo aqui”. Miriam revela que herdou certos conhecimentos sobre plantas medicinais de sua mãe e avó. Tempos depois, procurou transmitir aos netos e a outros parentes próximos. “É o que tento fazer aqui”, diz com um sorriso, enquanto manipula uma mudinha num tubete para que a planta cresça sozinha.

Natural da Bahia, Alaíde Evangelista Figueiredo, 60 anos, não nega seu saber sobre plantas medicinais. “Um conhecimento que adquiri nos fundos do quintal de minha casa, principalmente as receitinhas de remédios caseiros, que servem para uma porção de coisas”, diz. Ela manipulava uma porção de Erva- baleeira, muito popular, e diz que hoje no Centro ficou sabendo que seu nome científico é Cordia curassavica. “Um excelente remédio para torções e para ser usado também como antiinflamatório”.

Já Yochimitsu Shimabukuro, 65 anos, engenheiro aposentado do ITA, diz que “as plantas são tão ‘humanas’ quanto os homens: o homem tem vida própria e, como tal, sofre as mesmas perdas e dores de uma planta. Isso se pode verificar quando vemos uma planta que perdeu suas folhas, seus ramos ou que tenha secado. O mesmo ocorre com o homem, que sente as mesmas dores, a mesma angústia de envelhecer, quando se fere. Ou morre”.

 

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