Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 237 - de 10 a 16 de novembro de 2003
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A memória sobe ao palco
Grupo teatral formado por ex-alunos da Unicamp se destaca em festival
e conquista prêmio nacional

ANTONIO ROBERTO FAVA

Quando um grupo de ex-alunos do Instituto de Artes procurou apoio do Centro de Memória (CMU) da Unicamp, certamente não poderia imaginar que algum tempo depois se destacaria num dos mais importantes eventos do País: o FIT (Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte), e que um de seus trabalhos conquistaria o Prêmio EnCena Brasil, patrocinado pelo Ministério da Cultura, que financiaria dois espetáculos do grupo. O Centro de Memória acabou aceitando a proposta desde que o grupo, então batizado de Grupo do Santo, desenvolvesse projetos que envolvessem também pesquisas com embasamento científico.

E assim foi feito. O primeiro espetáculo inteiramente montado pelo grupo foi Retrato na Janela, imediatamente sucedido pelo O Boi falô? e Museu De Ver Cidade, que acaba de estrear na cidade, todos desenvolvidos

coletivamente – desde a concepção da idéia, texto, figurinos, músicas e cenários. Há um ano e meio, o Centro de Memória passou a prestar orientação teórica ao grupo, que tem apoio da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários.
O grupo é composto por Ana Caldas Lewinsohn, Carlos Gomes, Cecílio Fraguas, Eduardo Brasil, Lidiane Lobo, Lilian Marques e Tânia Grinberg, todos formados pela Unicamp. A base do trabalho do Grupo do Santo é a relação direta com o espectador. Foi nas apresentações de rua – praças e espaços abertos da periferia – que a pesquisa se iniciou.

Os espetáculos não são apenas fruto de imaginação. Ou de inspiração. A concepção do espetáculo, como explica a professora Olga von Simson, coordenadora científica do projeto, “se dá com a experiência adquirida em diferentes espaços, no encontro e na troca de vivências, entrevistando moradores do lugar, observando o mundo em que vivemos e as relações que se estabelecem mutuamente”, diz Olga.

A professora Olga von Simson (a esquerda) e os integrantes do Grupo do Santo: trabalho de pesquisa

Essa experiência do Grupo do Santo começou em Diamantina, Minas Gerais. Após breve, porém intensa, pesquisa sobre o modo de vida, costumes e a cultura do povo da cidade, surgiu o espetáculo de rua Retrato na Janela, “que conta a história de pessoas que, ao encontrarem o carteiro, expressam sua vontade de receber alguma notícia, dividindo com ele a saudade, vivências e desejos”.

“É um espetáculo que continua sendo apresentado nos mais diferentes espaços em Campinas e também em outras cidades”, diz Ana Lewinsohn. Foi então que, com o apoio do Centro de Memória, o Grupo do Santo montou um outro espetáculo: O Boi Falô?, a pedido da Secretaria Municipal da Cultura Esportes e Turismo da Prefeitura de Campinas, com o propósito de ser apresentada em estabelecimentos de ensino do distrito de Barão Geraldo. Inspirado em uma lenda de Barão Geraldo, o espetáculo fala de uma sexta-feira, no tempo do Barão, quando um boi falou com um escravo. A história é contada por um viajante que chega à cidade no dia da festa do Boi Falô, comemorada com uma enorme macarronada servida na rua.

 

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Dinheiro, solidão e diversidade

Ana Caldas Lewinsohn contracena com Carlos Gomes: relação direta com o público

Mais recentemente, no último semestre, o grupo elaborou o terceiro espetáculo. Trata-se de Museu De Ver Cidade, com direção de Tiche Vianna, ex-professora do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, sendo agora apresentado em espaços fechados como no Barracão Teatro. “A proposta inicial era que o grupo trabalhasse com a memória do distrito de Barão Geraldo, por meio de entrevistas com antigos moradores, como se fez em Diamantina. Para isso, realizou um extenso trabalho de pesquisa nos acervos do Centro de Memória em busca de informações sobre o início da história do distrito, como se formou, tipo de população, a chegada da Unicamp, o impacto que isso trouxe para a comunidade e as transformações que o sofreu com a chegada de empresas de alta tecnologia”, diz a professora Olga.

O que provocou a pesquisa no distrito foi o desejo de falar sobre o mundo e não especificamente sobre Barão Geraldo. O que se detectava ali, naquele microcosmo, foi a diferença social, a diversidade educacional e uma série de conflitos que se verificam em qualquer parte do mundo. Como miséria, medo, violência, solidão e a questão do dinheiro.

“E a partir daí, a gente começou a investigar e a indagar o que, de fato, queríamos falar”, observa Lílian Marques. Com esse material em mãos é que partiram para a criação de cenas individuais, onde se destacam as vivências sociais, urbanas e de conflitos, de desentendimentos e até de encontros e desencontros.

“O texto de Museu De Ver Cidade acaba sendo uma parte da dramaturgia, mesmo porque o espetáculo é muito imagético, uma vez que procuramos trabalhar mais com esse tipo de material do que com a palavra como elemento digamos primordial na narrativa”, revela Eduardo Brasil. Ele diz ainda que o que é apresentado não é uma história que vai se desenvolvendo por meio de palavras, mas imagens que vão se sucedendo umas depois das outras, formando uma história que o público talvez possa construir na sua imaginação e refletir sobre o que está vendo. “Há uma série de situações que a gente traz de uma maneira às vezes até cômica, outras nem tanto. A nossa principal preocupação é provocar o público a refletir sobre a sua própria história”, conclui Tânia.

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