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Automóvel que usa hidrogênio
como fonte de energia deve estar pronto até o final do ano

Carro elétrico entra na reta final

CLAYTON LEVY


Pesquisadores da Unicamp estão trabalhando no desenvolvimento do primeiro veículo elétrico nacional com células a combustível, uma tecnologia que utiliza o hidrogênio como fonte de energia. O projeto, orçado em R$ 400 mil, foi encomendado pelo Ministério de Minas e Energia, devendo estar concluído até o final do ano. Batizado de Vega II, o protótipo do carro deverá ser exposto em agosto no Salão de Inovação Tecnológica, em São Paulo.

"A utilização das células a combustível como sistema de conversão de energia tem importância estratégica do ponto de vista ambiental e econômico", diz o físico e professor Ennio Peres da Silva, coordenador do Laboratório de Hidrogênio e do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), responsável pela pesquisa. "Além de não emitir poluentes, essa tecnologia permite reduzir a dependência por combustíveis fósseis, como o petróleo". Segundo ele, o único subproduto obtido com a utilização do hidrogênio é vapor d'água.

O que os cientistas chamam de célula a combustível é um dispositivo eletroquímico que transforma energia química do combustível em eletricidade. Semelhante a uma caixa metálica retangular, sua principal função é combinar o hidrogênio com o oxigênio, que pode ser retirado da atmosfera, para a produção de energia elétrica.

Para obter eletricidade a partir do hidrogênio, os veículos desta natureza contam com três alternativas: combustíveis fósseis, como gasolina e gás natural; combustíveis gerados através da biomassa, como o etanol (álcool usualmente obtido a partir da cana-de-açúcar) e metanol (álcool que pode ser produzido a partir do eucalipto); e o próprio hidrogênio na forma gasosa ou líquida. O protótipo da Unicamp, abastecido por hidrogênio gasoso, será do tipo híbrido, baseado na utilização simultânea de baterias e células a combustível. E é nesse aspecto, segundo o professor Ennio, que o projeto brasileiro apresenta vantagens em relação a outros veículos desenvolvidos em alguns países.

Hoje, 96% do hidrogênio produzido no planeta provém de combustíveis fósseis. Segundo o pesquisador, a obtenção de hidrogênio por esse meio pode reduzir localmente a emissão de poluentes, mas não elimina a dependência em relação às fontes não-renováveis, como o petróleo. Já a utilização do etanol, não apenas eliminaria a emissão de poluentes, mas também romperia a dependência em relação aos combustíveis fósseis.

"Nesse aspecto, o Brasil pode ser um exemplo para o mundo, já que possui um enorme potencial agrícola para a produção do etanol", afirma o professor Ennio. Segundo ele, no futuro, o país poderá até exportar esse tipo de energia. "Chegará um dia em que as pessoas produzirão a energia elétrica para consumo próprio a partir de células a combustível sem sair de casa", acredita o pesquisador.

A célula a combustível usada para desenvolver o protótipo da Unicamp tem o tamanho aproximado dos motores utilizados atualmente nos veículos de passeio. Importada dos Estados Unidos, tem capacidade para fazer funcionar, em conjunto com as baterias, um carro de 30 KW. Essa potência equivale a um motor de 35 HP ou cerca de 500 cilindradas. "Não estamos preocupados com a potência por enquanto", diz o professor Ennio. "O principal objetivo é disponibilizar uma plataforma de testes para veículos elétricos que utilizem células a combustível".

Um levantamento realizado pela engenheira mecânica Paula Duarte, estudante de mestrado que participa do projeto, revelou que até o ano de 2001 foram desenvolvidos no mundo 64 protótipos de veículos elétricos com células a combustível. Em média, os protótipos alcançam uma autonomia de até 200 quilômetros e velocidade máxima de 120 km por hora. Além da engenheira Paula também participam do projeto o físico Paulo Fabrício Palhavam Ferreira, mestrando da Engenharia Mecânica, e Antonio José Marin Neto, graduando em Física.


Corrida tecnológica
começou na década de 90

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que em 1998 o consumo mundial de energia primária proveniente de fontes não renováveis (petróleo, carvão, gás natural e nuclear) já correspondia a 86% do total, cabendo 14% às fontes renováveis. "Essa enorme dependência de fontes não renováveis tem acarretado a preocupação permanente com o seu esgotamento, além da emissão de grandes quantidades de poluentes na atmosfera", afirma o professor Ennio.

Segundo o Relatório sobre Desenvolvimento Mundial, divulgado em 2001 pelo Banco Mundial, só em 1996 foram liberados na atmosfera cerca de 23 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), quase o dobro da quantidade emitida em 1965. No Brasil, o setor de transportes responde por 80% das emissões de CO2, segundo o Balanço Energético Nacional, divulgado em 2000 pelo Ministério das Minas e Energia.

Diante desse quadro, a partir da década de 1990 começou uma corrida tecnológica em busca de alternativas capazes de, ao mesmo tempo, eliminar a dependência de fontes não- renováveis e reduzir drasticamente a emissão de poluentes. Atualmente, apenas carros elétricos satisfazem essa necessidade. Para o funcionamento desses veículos há, até o momento, duas alternativas com base na chamada "energia limpa": o uso de baterias eletroquímicas ou de células a combustível.

No primeiro caso, segundo o professor Ennio, apesar dos modelos já estarem no mercado há muito tempo, há problemas técnicos como o tempo de recarga. "No caso das células a combustível, embora a tecnologia seja recente, o abastecimento é facilitado já que o hidrogênio pode ser obtido a partir de combustíveis comuns como gasolina e álcool".

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