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Jornal da Unicamp - 3 a 9 de junho de 2002
Agora semanal

Saúde

Tese avalia prescrição de oftalmologistas
Pesquisa mostra que equívocos afetam
desempenho escolar de crianças

Antonio Roberto Fava

Quando um estudante não vai bem na escola, demonstra apatia e desatenção às aulas, ele pode estar com distúrbios visuais, causa bastante comum de encaminhamento de crianças em idade pré-escolar ao oftalmologista. Pesquisa elaborada pela professora e oftalmologista Rosane Silvestre de Castro, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, revela que cerca de 25% delas apresentam algum tipo de problema de visão, como miopia, astigmatismo e estrabismo, para citar apenas alguns exemplos. A pesquisa mostra que o mau desempenho visual da criança "dificulta o aprendizado e influencia negativamente nas suas atividades normais, explica a professora.

"As conclusões são parte da tese de doutorado de Rosane intitulada "Correção óptica de escolares – condições de uso dos óculos após prescrição", defendida recentemente na área de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Para chegar a esses resultados, Rosane trabalhou com 225 crianças de 7 e 8 anos e estudantes da 1ª série do Ensino Fundamental de escolas da rede pública de Campinas. O estudo mostra que após consulta oftalmológica, num projeto comunitário de triagem visual intitulado 'Olho no Olho', por indicação médica, essas crianças passaram a usar óculos.

A oftalmologista da Unicamp explica que seis meses depois, os escolares, a maioria de famílias de baixo nível socioeconômico, apresentavam o que os médicos chamam de 'erros refracionais'. Isto é, distúrbios ou perturbações na visão, como astigmatismo, por exemplo. Acontece que os óculos que receberam, por intermédio do Ministério da Saúde, foram prescritos de forma incorreta. Embora a criança usasse óculos normalmente, houve, efetivamente, necessidade de alteração para que se procedesse a correção óptica em alguns casos.

"A prescrição dos óculos deve seguir critérios baseados na percepção visual sem correção, além dos erros refracionais – modificação sofrida pelos raios luminosos - onde os graus de astigmatismo não devem ser prescritos, a menos que haja indicação específica por ser acompanhado de sintomas e/ou estrabismo", avalia a professora. O estudo de Rosane mostra que foi preciso que as crianças deixassem de usar óculos quando se verificou o erro de comparação entre a refração e a utilização dos óculos.

Segundo a pesquisadora, 98,2% das crianças fizeram uso de óculos, enquanto 17,3% deixaram de usá-los porque os óculos se quebraram, foram perdidos ou porque os usuários não acreditavam que os óculos poderiam ser a solução para que tivessem uma visão melhor. "Houve crianças que chegaram a me dizer que se achavam feias usando óculos e que por isso mesmo não iam usá-los mais", lembra Rosane.

Em seis meses de uso de óculos, verificou-se que 18% das crianças haviam trocado os seus devido à alteração no grau, e quase 14% não precisavam usá-los mais, porque a prescrição inicial já se configurava algo totalmente obsoleto dentro dos critérios predeterminados. Nos casos de astigmatismo ocorreu desistência ou ausência de uso dos óculos. "As principais barreiras para que as crianças deixassem de usá-los foram basicamente no erro refracional e a impossibilidade de reposição de óculos que foram perdidos ou danificados", diz Rosane.

Para que a criança com idade entre 7 e 8 anos de idade continue a usufruir uma saúde visual satisfatória, a médica da Unicamp sugere "que os parâmetros utilizados para a prescrição de óculos sejam revistos nas campanhas governamentais – tanto do governo federal quanto do município –para que prescrições desnecessárias sejam evitadas". E mais: que as crianças tenham um programa de acompanhamento enérgico e eficaz de pelo menos dois anos. Rosane sugere ainda que seja desenvolvido um trabalho educativo com as famílias com o propósito de mostrar a necessidade do uso de óculos, quando necessário, e que os exames oftalmológicos das crianças sejam realizados periodicamente.

'Só dessa maneira é que se pode evitar - ou tratar bem - de problemas que afetam diretamente a visão, como a rubéola congênita e toxoplasmose, cujo tratamento deve ser feito pelas mães durante todo o período de pré-natal", assinala. Há ainda a questão da catarata congênita, um problema sério que, no Brasil, pode levar à cegueira, mas que ainda causa espanto e indignação quando apresentado em congressos internacionais, porque nos Estados Unidos e em países da Europa isso já não acontece, explica Rosane.

Transplantado fica menos em hospital
Investigação inédita no País avalia condições de 39 pacientes submetidos a transplante de medula óssea
Durante um ano, 39 pacientes submetidos ao transplante de medula óssea foram diariamente analisados pelo farmacêutico bioquímico da Unicamp José Fernando de Almeida Noronha. A avaliação compreendia exames rotineiros de sangue com o propósito de se proceder a uma contagem de células vermelhas imaturas (reticulócitos) do paciente. Procedimento inédito no Brasil, o objetivo dessa investigação é avaliar o sucesso do Transplante de Medula Óssea (TMO), no qual a recuperação dessas células antecedeu em média de dez a 15 dias a recuperação das células brancas (granulócitos), atualmente tidas como parâmetro de avaliação do sucesso do TMO.

Segundo Noronha, o procedimento possibilita uma série de vantagens, tanto para o paciente quanto para o médico. Para o paciente, uma das principais vantagens refere-se ao tempo de permanência em enfermaria do hospital. "Quanto menos tempo ficar numa enfermaria, melhor para o paciente. Isso significa que se conseguirmos dizer precocemente o sucesso de enxertamento, consegue-se também uma redução no tempo de internação e, por conseqüência, redução do risco de infecção. Quanto ao médico que o atende, certamente vai reduzir também o uso de medicamentos, como os antibióticos, por exemplo."

Esses resultados são parte da dissertação de mestrado de Noronha – "Reticulócitos imaturos como preditores precoces do sucesso do enxertamento no transplante de medula óssea alogênico e autólogo" - defendida no Departamento de Patologia Clínica e Serviço de TMO do Hemocentro/Unicamp.

Tarefa complexa - Dos 39 pacientes avaliados, 17 foram submetidos a transplante autólogo. Isto é, quando as células progenitoras usadas como enxerto da medula são do próprio paciente, sem utilização de outro indivíduo como doador. Os outros 22 pacientes foram submetidos ao transplante alogênico, que é quando recebem células progenitoras de irmãos ou de outro indivíduo, que sejam compatíveis com a medula do paciente transplantado.

Noronha assinala que esse procedimento mobiliza um grande número de profissionais da área de saúde, além de causar impacto considerável à rotina, não apenas do paciente, mas também de seu doador e de seus familiares. "O paciente deve estar muito bem esclarecido no que se refere à doença e sobre todas as opções terapêuticas disponíveis. A opção pelo transplante de medula óssea, no entanto, depende da avaliação do médico", explica. Por outro lado, a indicação para esse tipo de tratamento, em suas mais diversas modalidades, é tarefa bastante complexa.

Atualmente, com o aparecimento de novas técnicas para o TMO, vem diminuindo de modo considerável o índice de morbidade e mortalidade. Tanto é que o índice médio de cura atinge um patamar considerável em termos de Brasil, que é de 75% a 80%. Os pacientes estudados no trabalho de Noronha apresentavam o diagnóstico de diferentes distúrbios neoplásicos hematológicos como leucemia mielóide crônica, a leucemia mielóide aguda e a leucemia linfóide aguda. Há também a anemia aplástica, que é causada pela não-produção na medula óssea de células vermelhas. (A.R.F.)