Carta “Aliança Entre Nós” propõe a criação do Plano Municipal de Apoio Indígena

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“Aliança Entre Nós” é o primeiro passo para a criação de um Plano Municipal de Apoio ao Indígena em Contexto Urbano na cidade de Campinas

O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, assinou nesta quarta-feira (9), ao lado do prefeito Dario Saadi, uma carta de intenções denominada “Aliança Entre Nós” — que pretende ser o primeiro passo para a criação de um Plano Municipal de Apoio ao Indígena em Contexto Urbano na cidade de Campinas.

A ideia do plano é criar uma ampla rede de apoio a essa população, que, em geral, sofre com falta de assistência e tem pouco ou nenhum acesso aos serviços públicos. A Unicamp foi convidada pela Prefeitura para participar da Aliança por conta da realização do Vestibular Indígena e de outras ações afirmativas que vêm sendo desenvolvidas na universidade para atendimento dessa população.

Segundo dados de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), há em Campinas uma população de 1.569 indivíduos que se autodeclararam indígenas e que informaram possuir residência na cidade.

O dado, porém, é contestado pela liderança Guarani M´Bya, Lu Ahmy M´Bya, diretora do Coletivo e Ponto de Cultura EtnoCidade, que desde 2018 trabalha no acolhimento e suporte a indígenas que circulam pela Região Metropolitana de Campinas.

De acordo com ela, o número está defasado. “Temos, hoje, perto de 3 mil indígenas em Campinas”, afirmou Ahmy. “Temos registro de indivíduos de 40 etnias, que falam 20 diferentes idiomas”, complementou.

Originária da etnia Guarani M´Bya, que vive no litoral sul de São Paulo, Lu Ahmy está há seis anos em Campinas e diz ser grande o número de itinerantes.  “Mais de mil itinerantes já passaram pelo Etno. Gente dos kariri-xocó, fulni-ô, piratapuia, ticuna, tukano e muitas outras etnias”, revela.

Lu Ahmy diz que a criação de um plano de acolhimento representa muito para a população indígena que vive na cidade e região. “Vemos que há muita gente chegando e precisamos desse apoio (oficial), porque nossos braços já não estão aguentando”, afirma ela. Segundo Ahmy, o coletivo começou a fazer esse trabalho de acolhimento com apoio de entidades parceiras da sociedade civil. “Agora estamos ampliando essa parceria com a secretaria de Direitos Humanos, com a Educação, e queremos agradecer muito pelo acolhimento”, finalizou.

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Segundo Lu Ahmy M´Bya (primeira à esquerda), o número de indígenas residentes em Campinas apontado pelo IBGE está defasado

Dia Mundial dos Povos Indígenas 

A assinatura da Carta de Intenções e o lançamento do Plano coincidem com o Dia Municipal dos Povos Indígenas, comemorado em Campinas em 9 de agosto, de acordo com uma lei municipal aprovada em 2020. Além do prefeito e do reitor, a carta foi assinada por representantes de três secretarias municipais (Cultura, Direitos Humanos e Desenvolvimento Econômico), pelo vereador Gustavo Petta, autor da lei, e por lideranças de populações indígenas.

A cerimônia foi aberta com um cântico. Membros de diferentes etnias cantaram o “Chamado ao Grande Espírito” — um canto religioso de origem Kariri-Xocó. O líder Pataxó Awa M´barete presenteou o prefeito com um conjunto de arco, flechas e um maracá. Também participaram da cerimônia de lançamento do Plano representantes da Associação e Pontão de Cultura Areté, Circuito Cultura Viva e Tatu Cultural.

“Apesar do crescimento da comunidade indígena em nosso município, especialmente desde 2019, com o início do programa de cotas para indígenas da Unicamp — que recebe anualmente mais de 100 novos acadêmicos indígenas de todas as regiões do país, totalizando cerca de 400 acadêmicos —, é inegável que esses indivíduos ainda enfrentam uma série de desafios ao migrarem para grandes centros urbanos como a cidade Campinas”, diz trecho da carta.

“Nossa Aliança tem o propósito de promover a sustentabilidade do ecossistema indígena em nossa cidade, criando oportunidades reais para que essas comunidades possam prosperar e contribuir ainda mais para a construção de um futuro melhor”, continua o documento.

Para o prefeito Dario Saadi, o Plano é uma forma de reparação. “É uma honra assinar essa carta que, sem dúvida, vai ajudar a pagar uma dívida histórica do país com os povos originários”, disse o prefeito. Segundo ele, o Grupo de Trabalho que irá elaborar o plano será composto por representantes de diversas secretarias municipais e da sociedade civil.

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A cerimônia foi aberta com um cântico entoado por membros de diferentes etnias

Vestibular Indígena 

O reitor da Unicamp disse que a Universidade assumiu a pauta das ações afirmativas com intensidade e que o Vestibular Indígena é um exemplo disso. “A Unicamp chegou à política de cotas um pouco tardiamente, mas assumiu essa pauta com extrema intensidade. Hoje, grande parte dos nossos alunos vêm de escolas públicas, e muitos são pretos e pardos. A Unicamp tem, ainda, uma característica importante de fazer o vestibular onde a maior parte da população indígena está”, disse ele.

“E isso tem provocado uma mudança muito grande na Universidade, por se tratar de um processo de mão dupla. A Universidade está aprendendo a conviver de forma harmônica com a diversidade”, avalia.

Meirelles diz que o fortalecimento da rede de apoio aos povos originários é um tema que supera eventuais diferenças políticas. “Está é uma das pautas que se sobrepõem a eventuais diferenças políticas e se tornam algo verdadeiramente transformador”, finalizou o reitor.

O Vestibular Indígena de 2023 — feito em conjunto pela Unicamp e a Universidade Federal de São Carlos — teve recorde de 3.480 inscritos. De acordo com a Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp, quase 80% dos inscritos residiam no estado do Amazonas (79,7%). Entre as etnias declaradas pelos candidatos, a maioria é Ticuna (28%), seguido das etnias Baré (17%) e Tukano (7%).

Leia a carta de intenções:

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Confira outras imagens da cerimônia de assinatura da "Aliança entre nós":  

Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Iniciativas celebram o Dia Municipal dos Povos Indígenas, em 9 de agosto
Imagem de capa
Em Campinas, segundo IBGE, uma população de 1.569 indivíduos se autodeclararam indígenas e informaram possuir residência na cidade

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