Edição nº 596

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 12 de maio de 2014 a 18 de maio de 2014 – ANO 2014 – Nº 596

Boschiero recebe o título de Professor Emérito da Unicamp


O professor Antonio Carlos Boschiero, do Instituto de Biologia (IB), recebeu no último dia 30 o título de Professor Emérito da Unicamp, em cerimônia presidida pelo reitor José Tadeu Jorge e prestigiada por familiares, docentes, alunos, funcionários e amigos na sala do Conselho Universitário. O título é conferido a professores que se distinguiram no exercício da atividade acadêmica por seus relevantes serviços à ciência e à instituição. Nascido em Descalvado (SP) em 27 de janeiro de 1943, Antonio Carlos Boschiero é o 11º e penúltimo filho de uma família de trabalhadores, tendo sobrevivido como metalúrgico dos 14 aos 21 anos de idade até de se formar em história natural e iniciar uma densa trajetória acadêmica. 

“O sentimento pelo título é indescritível porque sou meio caipira do interior e esse tipo de coisa toca muito a gente – inclusive pela presença dos meus familiares, a gente que vem de uma família pobre de trabalhadores, como a grande maioria dos brasileiros. Chegar a uma universidade, a professor titular e conseguir esse reconhecimento é muito bom, gratificante e emocionante”, disse o homenageado, mostrando a mesma humildade ao falar da carreira. “Sempre digo que o cientista é um pedreiro, uma profissão igual a outra qualquer: é preciso construir, desde a base, um alicerce forte para que a casa seja habitável e ir fazendo melhorias. Também foram importantes meus estágios no Exterior, a família que me apoiou muito e os grandes alunos e colaboradores que sempre tive; sem eles, não chegaria aqui.” 

Boschiero preparou um discurso de três páginas para a cerimônia, mas temeroso de que a emoção o impedisse de fazê-lo na íntegra, preferiu ir diretamente aos agradecimentos pelo título de Professor Emérito. “Meu maior agradecimento vai para a Unicamp, quero deixar claro que foi uma honra, um privilégio ter sido e continuar sendo professor desta casa. Sempre me pergunto se durante todos esses anos me dediquei com a intensidade necessária para devolver a essa instituição tudo aquilo que ela me proporcionou”, declarou, sem esquecer os colegas professores e funcionários do IB, os alunos de pós-graduação e as agências de fomento. “E finalmente, aos meus familiares: minha esposa Carmen e meus filhos Camila e Fernando, com menção especial ao Felipe, que devido a uma doença importante que o consumiu durante toda a vida, veio a falecer há um ano e meio, com apenas 37 anos de idade.” 

O reitor Tadeu Jorge observou que estes momentos de homenagem aos que construíram a Unicamp são de relevância histórica para a cultura interna. “São de grande valia e valor porque a Universidade homenageia os exemplos que merecem ser destacados e principalmente seguidos. A contribuição do professor Boschiero à Unicamp, ao avanço do conhecimento, está aqui reverenciada como exemplo para as novas gerações. Vivo a Universidade há mais de 40 anos e, ainda como estudante ou professor em início de carreira, mesmo em área distante, ouvia nomes tidos como referências em termos de dedicação e de iniciativa que fizeram a Unicamp ganhar a qualidade dos dias de hoje. E um desses nomes era o seu.” 

Convidado para fazer a saudação ao homenageado, o professor Mario Saad, diretor da Faculdade de Ciências Médicas, lembrou que estava no primeiro ano da pós-graduação quando teve uma palestra que marcaria sua vida. “O professor Boschiero apresentou um conceito novo de que a secreção de insulina é estimulada pela metabolização de glicose na ilhota, e não por um receptor de glicose, como até então se ensinava nos departamentos de fisiologia – foi a primeira mudança de paradigma que vivenciei. Agradeço a ele por ter me ensinado não só sobre a secreção de insulina, mas principalmente por ter mostrado a mim e a uma geração da Unicamp, através do seu exemplo, coerência, ética e humildade; a honestidade e integridade pessoais transparecem ao longo da sua trajetória, nada compromete seu amor pela verdade científica e humana.”

 

A trajetória

Antonio Carlos Boschiero possui graduação em história natural pela Unesp de Rio Claro (1968) e doutorado em ciências biológicas pela Unicamp (1973). Ingressou no Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do IB em 1970, onde ainda atua como professor colaborador após a aposentadoria. Fez pós-doutorado na Universidade de Bruxelas em 1978 e, voltando à Unicamp, instalou seu laboratório de pesquisa criando um grupo voltado ao estudo da fisiopatologia das células produtoras e secretoras de insulina; atualmente chefia um grupo de pâncreas endócrino e metabolismo no mesmo departamento onde se formaram mais de 40 pesquisadores que atuam em diferentes instituições pelo Brasil. 

Vários dos estudos iniciais de Boschiero, sobre as permeabilidades iônicas nas células secretoras de insulina, permitiram elaborar sua tese de livre docência defendida e aprovada em 1979. Ele é autor de mais de 200 trabalhos científicos em revistas indexadas e de larga distribuição internacional; orientou inúmeros alunos de iniciação científica, 22 mestres, 15 doutores e supervisionou 10 pós-doutores. Foi contemplado com o Prêmio Zeferino Vaz por duas vezes, e com o Prêmio Governador do Estado por sua colaboração no Projeto Genoma da Xylella fastidiosa. Foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências em 2010 e da Academia paulista em 2012. É pesquisador 1A do CNPq desde 1993.