Edição nº 526

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 14 de maio de 2012 a 20 de maio de 2012 – ANO 2012 – Nº 526

Pesquisa demonstra interação
em agente causador da doença de Chagas

Farmacêutico investiga sistemas mitocondrial e antioxidante citoplasmático de protozoário


Um estudo inédito conduzido no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp pode abrir perspectivas para o desenvolvimento de nova terapia para a cura da doença de Chagas. Parasitose provocada pelo Trypanosoma cruzi, o mal de Chagas, como também é conhecido, acomete cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Passados mais de 100 anos após a descoberta da enfermidade pelo sanitarista brasileiro Carlos Chagas, ainda não há vacinas e tratamentos eficazes para a doença, que atinge, principalmente, a população dos países latino-americanos.

A pesquisa da Unicamp foi desenvolvida pelo farmacêutico Eduardo de Figueiredo Peloso como parte de seu doutoramento junto ao Departamento de Bioquímica do IB. A docente Fernanda Ramos Gadelha coordenou o estudo como orientadora de Peloso. O trabalho foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que concedeu bolsa ao aluno; e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que custeou o projeto. A investigação foi elaborada no âmbito da linha de pesquisa “Bioenergética e mecanismos de defesas antioxidantes em tripanosomatideos”, liderada por Fernanda Gadelha desde 1995. A docente coordena no IB o único laboratório do gênero no país.

Os resultados obtidos pelos cientistas mostram, pela primeira vez, que há uma interação entre os sistemas antioxidante citoplasmático e mitocondrial do Trypanosoma cruzi, protozoário e agente causador da doença de Chagas. O Trypanosoma cruzi tem apenas uma mitocôndria, organela fundamental para a viabilidade celular e relevante para a produção de energia. Já o sistema antioxidante é responsável pela defesa do protozoário contra as espécies reativas de oxigênio e hidrogênio.

“Buscamos compreender o sistema bioenergético mitocondrial e o antioxidante do Trypanosoma cruzi a fim de identificar novos alvos para o desenvolvimento futuro de uma terapia mais específica. Até o momento da tese do Eduardo não havia dados sobre sistema antioxidante mitocondrial, pois ele é muito pouco estudado. A ideia foi elucidar a sua importância para a viabilidade do parasita juntamente com o sistema citoplasmático. Nós também avaliamos o possível envolvimento destes mecanismos”, explicou a orientadora Fernanda Gadelha.

Os dados do trabalho reforçam os componentes do sistema de defesa antioxidante do Trypanosoma cruzi como alvo em potencial para o desenvolvimento de uma terapia mais eficiente para a doença de Chagas. Eduardo Peloso acrescenta que foi possível consolidar estes alvos porque a pesquisa identificou diferenças bioquímicas entre o parasita Trypanosoma e o hospedeiro vertebrado (homem, animais silvestres e outros mamíferos em geral). “O sistema antioxidante do parasita é diferente do hospedeiro em termos de composição e funcionamento. O objetivo para se obter um tratamento mais eficiente é conseguir um fármaco que tenha efeito apenas sobre o parasita, de modo a não afetar o hospedeiro vertebrado. Isto vai diminuir a toxidade ou efeito colateral da terapia”, explicou.

O tratamento para a doença de Chagas no Brasil conta praticamente com um tipo de droga, o benzonidazol (Rochagan®), medicamento com alto efeito colateral e pouco eficiente, sobretudo na fase crônica da doença. “Esta droga foi introduzida como medicamento entre as décadas de 1960 e 1970. Na época os cientistas que a formularam não sabiam que ela produzia efeitos colaterais também no hospedeiro. É importante ressaltar que ela não foi direcionada para um alvo terapêutico específico”, avalia Fernanda Gadelha.

Além da interação entre os dois sistemas, a pesquisa também apontou que as formas infectantes do parasita conseguem se adequar para se protegerem frente a uma situação de estresse oxidativo. Este é outro ponto inédito do trabalho, destacou Gadelha. “A pesquisa foi elaborada com as duas formas do Trypanosoma, a infectante e não infectante. Pela primeira vez mostrou-se na literatura que a forma infectante consegue modular a expressão das enzimas antioxidantes, assim como a forma não infectante. Pela segurança, facilidade em se obter um maior número de células, e também relevância, a maior parte dos estudos é feita com as formas não infectantes”, reconhece.

Estes experimentos com as formas infectantes e não infectantes do parasita foram desenvolvidos em parceria com a docente Maria Júlia Manso Alves, do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP).

Manifestada de forma aguda e crônica, o mal de Chagas é uma doença debilitante. Os infectados apresentam, frequentemente, comprometimento nos sistemas cardíacos, digestório e nervoso. Os sintomas da moléstia, de acordo com Eduardo Peloso, geram um problema socioeconômico porque o doente, muitas vezes, tem dificuldade de trabalhar. “A pessoa pode viver anos com a doença, mas em condição debilitante. Quando, por exemplo, há comprometimento cardíaco, qualquer esforço deixa o doente cansado”, exemplifica.

A enfermidade ainda é agravada pela diversidade genética que há dentro da população do Trypanosoma cruzi. Estas variações podem levar a diferentes resistências do parasita ao tratamento, representando também grande complexidade para o desenvolvimento de um fármaco eficaz.

A transmissão ocorre pela via vetorial, quando o inseto conhecido como barbeiro deposita suas fezes contendo o parasita na lesão feita no local da sua picada. O contágio, então, acontece no momento em que o parasita penetra no hospedeiro vertebrado por meio da ferida causada pela picada ou através de alguma membrana mucosa, como a conjuntiva.
A enfermidade também é transmitida de forma oral, pela ingestão de alimentos contaminados pelo parasita. No Brasil, este tipo de contágio foi registrado em 2005, no Estado de Santa Catarina, com o caldo de cana contaminado e, recentemente, no Amazonas pela ingestão de suco de açaí. Podem acontecer ainda contaminações congênitas, de mãe para filho, e por transfusão de sangue.

 

Publicação

Tese: "Sistema antioxidante de Trypanosoma cruzi: expressão protética nas diferentes formas, ao longo da curva de proliferação e o seu envolvimento na bioenergética mitocondrial"
Autor: Eduardo de Figueiredo Peloso
Orientadora: Fernanda Ramos Gadelha
Unidade: Instituto de Biologia (IB)

Comentários

Comentário: 

sou rece4m formada em biomedecina com estágio na Fio Cruz RJ, e tenho intersse em pesquisar a doença com a finalidade de combater esta terrivel doença mortal que assola nosso pais nas regiões mais pobres, apesquisa visa descobrir uma vacina para prevenir a doença e aos infectados fazer a doença regredir, e ainda submeter ao tratamento aos infedctados para recuperar os órgãos afetados, aguardo resposta sobre as minhas intenções.

Obrigada

Eveline Monteiro -Biomedica formada pelo IBMR e pós graduação IBMR em imonologia e hematoligia UFRJ