Edição nº 526

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 14 de maio de 2012 a 20 de maio de 2012 – ANO 2012 – Nº 526

Pedro Biffi, o funcionário
que povoou o IE de árvores

Secretário da Pós do Instituto faz as vezes de ‘jardineiro’ desde 1985

A alma “ecobotânica” fez com que Pedro Antonio Biffi sentisse falta dos pássaros como companheiros de trabalho no ambiente do então jovem Instituto de Economia (IE) da Unicamp, em 1985. Ao chegar ao IE, em 1985, aprovado em concurso público para o cargo de oficial de administração, deparou com fileiras intermináveis de pés de eucalipto, mas faltavam plantas frutíferas que atraíssem algumas aves cantadoras para acompanhar as longas horas de trabalho. Diante disso, assumiu a jardinagem como uma segunda missão durante sua trajetória de 27 anos no IE. Em horário contrário ao expediente, começou imediatamente a plantar várias mudas de árvores frutíferas, entre as quais estão cerejas, nêsperas, amoras, pitangas e jambos amarelos, com o intuito de aumentar a fauna local. “Nunca gostei de pássaros na gaiola. Acho que podemos tê-los perto de nós com liberdade”, pontua o secretário de apoio à Pós-Graduação do IE.

Hoje, a comunidade do IE agradece. Durante a entrevista, Pedro pede licença para atender ao telefone e é surpreendido com a pergunta do interlocutor, que relatava as características de alguns pássaros entre os galhos de uma paineira. Sem titubear, Pedro responde, rapidamente, que são periquitos, pois adoram passear e fazer das sementes seu alimento predileto. Esta foi apenas uma demonstração das orientações constantemente dadas a funcionários, estudantes e professores de sua unidade.

O tempo de permanência possibilitou o plantio de 111 árvores, que dada a diversidade atrai diversas espécies de pássaros. Pedro encontrou no IE sua segunda casa, onde diz ter uma convivência gostosa com professores, alunos e funcionários. “Nunca pensei em mudar para outro instituto; tenho comigo uma filosofia de que não faz muito sentido mudar, pois o tempo amadurece a convivência. A pessoa faz seu ambiente”, acentua.

Mais que se realizar com a jardinagem do IE e de sua atual casa, na cidade de Americana (SP), onde também é responsável pelo cuidado com as plantas, Pedro almeja um ambiente saudável, onde as pessoas possam respirar ar puro, como aquele deixado em Birigui, onde nasceu e cresceu com a família na zona rural. A sabedoria herdou no campo, onde aprendeu a preservar a natureza e escolher o que ficaria bem na mesa do almoço e do jantar. Os pais sempre incentivaram seus dez filhos a se dedicar ao cultivo de árvores frutíferas e de hortaliças. Uma lembrança muito viva é a exigência do pai pelo consumo diário de mamão. “Em casa não podia faltar fruta”, recorda, esboçando um sorriso.

Doações

Se alguém ousa perguntar o preço de determinada muda, ele prontamente responde: “Tenho prazer de fazê-las e doar. Se você levar e tornar o ambiente mais saudável, já me sinto recompensado”. Se um dia os filhos dessas pessoas que vêm aqui pedir muda puderem respirar ar puro, um pouquinho que seja, será graças à iniciativa deles de plantarem mais árvores e, por consequência, atraírem a fauna, na opinião de Pedro. O funcionário tem clientela cativa, inclusive um docente do instituto conta com suas mãos sábias para arborizar uma área. Alunos da moradia estudantil também aprimoram o ambiente externo com as mudas doadas por Pedro. As mudas são procuradas por estudantes de vários cursos, segundo o funcionário.

Formado em letras e pedagogia pela faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Lins, interior de São Paulo, Pedro sempre estimulou em seus alunos a preocupação com o ambiente onde vivem. “A escola deve discutir sobre preservação ambiental. Não é preciso ter uma disciplina específica para discutir questões ambientais no ensino médio. Com boa vontade, o professor pode dar embasamento teórico e prático sobre ecossistema e ambiente”, afirma. A preocupação com o ecossistema fez com que Pedro recortasse de grandes jornais brasileiros flagrantes de pessoas jogando objetos nos rios, inclusive aparelhos de tevê, para usar como ilustração em busca de conscientização de seus alunos.

O técnico acredita que entre os adultos, a conscientização está melhorando, mas ainda precisa ser ampliada. Ele mesmo, em seu bairro, em Americana, se surpreende com pessoas limpando a calçada e a sarjeta com água tratada, em vez de vassoura. Ou até mesmo pessoas lavando calçada protegidas por um guarda-chuva. Preocupado com o futuro dos recursos naturais, Pedro questiona: “Você já parou para pensar que seu neto pode sentir falta dessa água quando tiver sua idade?” Evidentemente, o vizinho não gostou, mas passou a varrer a calçada. A caminho de casa ou do trabalho, sempre observa as pessoas jogando o lixo da calçada em bueiros ou boca-de-lobos. “Depois aparecem em reportagem reclamando que a água invadiu a casa”, questiona Pedro.

É impossível evitar a confusão. Muitas vezes foi chamado de jardineiro por funcionários novos do instituto. “Como sempre chego antes do horário de expediente, começo a cuidar das plantas. Um dia, um segurança novato não sabia orientar alguns visitantes sobre a localização do auditório e orientou-os a pedir informações ao jardineiro.” Confusão que ele não faz questão de desfazer, pois é tratada naturalmente por ele. Mas a “dupla personalidade” também revela o preconceito velado de algumas pessoas. Certo dia, exercendo as funções de “jardineiro”, encontrou um pós-graduando com o qual se relacionava muito bem como responsável pela secretaria de apoio, mas este não emitiu nem um bom-dia. “Percebi que as pessoas ainda têm preconceito com certas profissões. Ele nem imaginou que o ‘jardineiro’ pudesse ser um amigo dele”, pontua.

Rosas

Mas como até para as boas amizades é preciso estabelecer limites, que ninguém no tão hospitaleiro Instituto de Economia ouse tocar nas roseiras ou nas flores da espirradeira. Um dia, o desejo de um aluno de presentear a namorada com uma linda rosa foi frustrado por uma funcionária, amiga de Pedro. “Não deixe que o Pedro o veja tocando nas rosas”, relembra o secretário.

Além de plantar, Pedro também se dedicou a cuidar da vegetação já existente antes de sua chegada. Na longa história com esses vislumbrantes seres vivos somente de uma coisa se ressente: ainda não conseguiu experimentar gabiroba bem madura, como sugere o cancioneiro brasileiro na música “Nas penas do tiê”. A árvore cresce portentosa, mas ainda não deu frutos, como prometera o fornecedor da muda. “O importante é que é uma árvore bonita e ajuda a ornamentar e melhorar a qualidade ambiental”.

De longe, é possível observar que o IE, além da excelência acadêmica, tem uma paisagem privilegiada ao redor e em seu interior. Uma paisagem na qual ainda é possível olhar pela janela e avistar um colorido de rosas vermelhas e espirradeiras rosas e brancas. Agora todos sabem de quem são as mãos generosas que “pintaram” este quadro: do secretário-jardineiro.

Comentários

Comentário: 

Parabéns, Pedro! Fiquei emocionada ao ler a notícia do seu pomar e jardim. Desejo que o seu "espírito jardineiro" continue sua jornada neste nosso planeta enfeitando e colorindo os lugares por onde você passar.
um abraço
Maria Elena

meb@unicamp.br

Comentário: 

Pedro, que felicidade termos você na Unicamp, com esse instinto "jardineiro" e sua capacidade de respeitar e amar a natureza como deveria ser feito por todos nós! Parabéns!
Simone.

simone@fcm.unicamp.br

Comentário: 

Até que emfim sei a origem dessa paisagem tão bonita que nos abençoa toda vez que atravessamos os corredores do IE. Obrigada Pedro!

ivette@eco.unicamp.br

Comentário: 

Parabéns Senhor Pedro, realmente o instituto de economia é bem arborizado.

Comentário: 

Pedrinho, a acerola que vc me doou tá quase dando fruto. Estou cuidando bem dela. Os pássaros já vieram de brinde!

ricardov@eco.unicamp.br

Comentário: 

Que boa surpresa! A matéria faz justiça ao esforço e à dedicação do Pedro.

fcorlandini@gmail.com

Comentário: 

Gostaria de parabenizar tanto o Pedro, quanto à pessoa responsável pelo "manejo do texto", pois conseguiu deixar esta matéria leve, gostosa de ler e grande na essência do objetivo de nosso querido amigo "Pedrão".
"Quando o desejo vem do fundo coração, tudo ganha brilho e beleza!!"

thelma@eco.unicamp.br

Comentário: 

Para ser um bom jardineiro é preciso em primeira mão ter o dom de Deus para isso, porque não é qualquer pessoa que possui esse dom maravilhoso. Parabens Pedrinho (nosso passarinho) e a Maria Alice que soube captar com perfeição o real objetivo da matéria.

dena@eco.unicamp.br

Comentário: 

Pedro: Parabéns pelo reconhecimento merecido.
Grata pelos ensinamentos valiosos sobre essa parte maravilhosa do mundo que nos cerca. Junto com as árvores, ainda ganhamos outra maravilha: a proximidade dos pássaros.

neitp@eco.unicamp.br

Comentário: 

Prazer em conhecer autor de obra tão importante para a Unicamp.
Parabéns!

paulao@reitoria.unicamp.br

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