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Tese mostra que, a despeito da produção esporádica,
gênero tem representantes na cinematografia nacional

Ficção científica, um
alienígena
no nosso cinema?

LUIZ SUGIMOTO

Alfredo Suppia: filmes surpreendem pela qualidade (Foto: Antoninho Perri)A ficção científica sempre foi um gênero invisível na história do cinema brasileiro, mas nunca deixou de existir. A produção esporádica de filmes com essa temática é conseqüência de alguns fatores, entre eles a inexistência no país de uma indústria cinematográfica consolidada, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e em nações européias.

A análise é do jornalista Alfredo Suppia, que esmiuçou o assunto em sua tese de doutoramento apresentada no Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. De acordo com o autor, embora pouco conhecida e estudada, a ficção científica não chega a ser um alienígena dentro da cinematografia nacional.

A pesquisa desenvolvida por Suppia, que foi orientada pelo professor concentrou-se nos filmes produzidos fora do eixo Hollywood-Europa. O jornalista analisou cerca de 30 obras de países como Rússia, República Tcheca, México, Argentina e Brasil. Um aspecto comum a essas produções, segundo ele, é o baixo orçamento. “Mas nem por isso os filmes são necessariamente ruins. Alguns deles surpreendem pela qualidade do roteiro, pela beleza da fotografia e pela criatividade da cenografia”, afirma.

Em relação à abordagem da ficção científica pela cinematografia brasileira, o jornalista considera que ela deve ser analisada sob dois aspectos. “Existem os filmes de ficção científica genuínos e as paródias, que usam o tema para fazer troça”, pontua. Uma diferença marcante entre os dois segmentos é que o primeiro normalmente procura ocultar a precariedade que envolveu a produção, enquanto o segundo usa essa mesma dificuldade como traço estilístico. “Nos filmes produzidos pelos Trapalhões e nas pornochanchadas, por exemplo, essa precariedade é assumida e incorporada à obra”, considera o autor da tese, que foi orientada pelo professor José Mário Ortiz Ramos.

Suppia assinala que a FC, como é intimamente tratada pelos iniciados, é freqüentemente relacionada ao uso de efeitos especiais espetaculares, como ocorre nos blockbusters norte-americanos. “Existem ótimos filmes que praticamente não lançam mão dessa solução. O que sustenta a produção, nesses casos, é o roteiro. Ao longo da pesquisa eu concluí que não é verdadeiro o argumento de que no Brasil o gênero é pouco abordado no cinema por falta de dinheiro para a realização de efeitos especiais. Penso que o principal entrave está na falta de uma indústria cinematográfica consistente e na ausência de uma cultura relacionada à ciência e tecnologia”, analisa.

Ainda em relação a esse ponto, Suppia lembra que o capitalismo brasileiro convive com estruturas arcaicas. A notícia da existência de trabalho escravo no país é um exemplo dessa realidade. Ademais, de acordo com o jornalista, as nações centrais reivindicam cotidianamente a paternidade do desenvolvimento científico e tecnológico mundial.

Hibridismo – Embora esporádicos, os filmes brasileiros de ficção científica podem ser identificados em todas as fases do cinema nacional. De acordo com Alfredo Suppia, que investigou o tema em sua pesquisa, as primeiras experiências remetem ao período das produções mudas. “Daquela época, identifiquei três obras que fazem referência ao gênero”, diz o jornalista. Ele considera que a primeira investida mais evidente ou objetiva do cinema brasileiro no campo da ficção científica foi com o filme Uma aventura aos 40, comédia rodada em 1947, no Rio de Janeiro. O produtor foi Silveira Sampaio, que ficou mais conhecido pela sua atuação no teatro e na televisão.

Um dado relevante destacado por Suppia é que a maioria dos filmes brasileiros sobre FC é híbrida, ou seja, não trata apenas da ficção científica. Esta normalmente surge relacionada com outros temas, alguns ligados ao cotidiano nacional. Um exemplo nesse sentido é Carnaval em Marte, longa produzido por Watson Macedo em 1954. A comédia musical, também rodada no Rio, conta a história de uma “comitiva” marciana formada apenas por seres do sexo feminino que aporta na Cidade Maravilhosa em pleno carnaval. Seduzidas pela festa, as alienígenas levam a folia para o seu planeta.

Na opinião de Suppia, cuja pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), dois dos mais importantes filmes brasileiros de FC foram produzidos nos anos 60. Ambos, conforme o pesquisador, são de excelente qualidade. O primeiro é Os cosmonautas, chanchada de 1961 que traz como protagonistas os humoristas Ronald Golias e Grande Otelo. Escrita e dirigida por Victor Lima e produzida por Herbert Richers e Arnaldo Zonar, a obra foi lançada no ano seguinte, logo após a primeira viagem do homem ao espaço. Extremamente inventiva, a produção faz um interessante retrato da geopolítica da época, conforme Suppia.

O segundo é O quinto poder, rodado em 1962, com produção de Carlos Pedregal e direção de Alberto Pieralisi. A fita conta a história de uma potência estrangeira que tenta dominar o mundo por intermédio da propaganda subliminar, que pode atingir o inconsciente das pessoas por meio de artefatos eletrônicos. No elenco, alguns atores conhecidos do público, como Eva Wilma, Oswaldo Loureiro, Sebastião Vasconcelos e Augusto César Vanucci. “Além disso, também tivemos experiências interessantes com curtas, como Túnel 93 graus, rodado em Campinas no início da década de 70. O roteiro conta a história de um desastre ambiental”. A questão ecológica, registre-se, é assunto recorrente nos filmes brasileiros de FC.

Em 1977, por exemplo, Parada 88 - O limite de alerta, dirigido por José de Anchieta e co-produzido pela atriz Regina Duarte, trata de um acidente tóxico. Quatro anos depois, tema semelhante volta a ser abordado em Abrigo Nuclear, que teve direção de Roberto Pires. Depois dessas, outras produções também trataram ou fizeram referência à ficção científica, entre eles Oceano Atlantis, de 1993, dirigido por Francisco de Paula.

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