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Ambulatório de Oncogenética oferece suporte
médico e psicológico a pacientes e familiares

Tratando (e prevenindo)
o câncer hereditário

CARMO GALLO NETTO

Da esq. para a dir., as professoras Carmen Silvia Bertuzzo, Carmen Silvia Passos Lima e Fátima Botcher: diagnóstico precoce é importante (Foto: Antoninho Perri)Não é incomum o caso de famílias em que determinadas doenças se manifestam por gerações. O câncer está entre elas, gerando, por sua natureza, apreensão, medo e incertezas em descendentes de portadores da doença. O ambulatório de Oncogenética do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Clinicas da Unicamp (HC) presta atendimento a pacientes com possível câncer hereditário e a seus familiares.

O ambulatório foi criado há um ano por iniciativa da médica e professora Carmen Silvia Passos Lima, responsável pela Disciplina de Oncologia Clínica, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade. O atendimento é realizado pelas biólogas e geneticistas Carmen Silvia Bertuzzo, professora do Departamento de Genética Médica, e Fátima Botcher, professora do Departamento de Tocoginecologia, ambos da FCM.

Cerca de 15% dos tumores são de natureza hereditária

Carmen Lima explica que ao longo do atendimento no Serviço de Oncologia Clínica percebeu-se que um contingente considerável de pacientes apresentava o câncer em idade mais precoce do que a esperada na forma convencional da doença. Além disso, casos recorrentes do câncer em indivíduos da mesma família sugeriam que a doença fosse herdada dos ancestrais.

A especialista revela que estas constatações a levaram a convidar as especialistas em Genética Carmen Bertuzzo e Fátima Botcher, para identificar os casos efetivamente hereditários, que merecem receber terapêuticas específicas, bem como para orientar os seus familiares sobre as formas de prevenção e diagnóstico precoce da doença no ambulatório.

Estas ações, observa Carmen Lima, dão suporte médico e psicológico a familiares e pacientes com câncer hereditário e permitem a exclusão daqueles cujos cânceres são adquiridos.

Segundo Carmen Bertuzzo, cerca de 15% dos tumores são hereditários. Nesses casos, a doença acomete indivíduos mais jovens do que os que a apresentam em sua forma adquirida. Outra característica da doença hereditária é a recorrência em outros membros da mesma família.

Criado há cerca de um ano, o ambulatório de Oncogenética já atendeu aproximadamente 300 famílias com suspeita de câncer hereditário.

Carmen Bertuzzo entende que o fundamental é determinar o padrão da doença, hereditária ou adquirida, o que é feito avaliando a idade de ocorrência da doença e a recorrência do câncer em familiares.

Para tanto, são entrevistados primeiro o paciente e depois os seus familiares. Ela explica que no aconselhamento genético estabelece-se o risco da doença para cada membro da família, sugerem-se medidas profiláticas e exames que permitam a detecção precoce do câncer.

As recomendações aos familiares variam com o tipo de câncer. No câncer do cólon e reto, por exemplo, sugerem-se colonoscopia anual e a adoção de dieta com pouca gordura, rica em fibras, frutas, legumes, verduras e cereais.

A maior parte dos pacientes recebidos no ambulatório de Oncogenética é encaminhada pelos médicos da Oncologia do próprio hospital, mas o setor tem capacidade de também receber pacientes encaminhados por profissionais do SUS.

Como o aconselhamento genético foi implantado há apenas um ano, a primeira medida foi informar e conscientizar os próprios médicos do hospital sobre a importância de identificar estes casos.

Carmen Lima lembra que, no começo, quando ainda se desconhecia a natureza do trabalho, os pacientes que apresentavam evidências de câncer hereditário raramente eram encaminhados para a avaliação pelas geneticistas.

“Mas conseguimos, em pouco tempo, reverter a situação com a orientação dos médicos, e hoje inclusive outras disciplinas nos encaminham pacientes com possíveis cânceres hereditários”, diz ela.

Multidisciplinaridade - Para que se entenda a estrutura de um hospital-escola, caso do Hospital de Clínicas da Unicamp, a professora Carmen Lima explica que a FCM está dividida em departamentos, constituídos de disciplinas referentes a várias especialidades.

No seu caso, o Departamento de Clínica Medica agrega as disciplinas de Oncologia Clínica, da qual é a responsável, Cardiologia, Dermatologia, Endocrinologia, Gastroenterologia, Hematologia e Hemoterapia, e Medicina Interna, entre outras.

Ela entende que devido a sua complexidade, o tratamento de pacientes com câncer exige profissionais de várias áreas e, portanto, é multidisciplinar. Pacientes com alguns tipos de câncer são tratados apenas com a remoção cirúrgica do tumor; outros recebem quimioterapia e radioterapia; e outros, ainda, necessitam de todas estas terapêuticas.

“O tratamento clínico e a quimioterapia são realizados aqui na Oncologia, enquanto que as outras terapêuticas são próprias de outros setores do hospital, para os quais os pacientes são encaminhados”, enfatiza.

Mas, além desses três procedimentos terapêuticos básicos, os pacientes chegam à Oncologia com outras necessidades: tratamento odontológico para debelar focos infecciosos que seriam agravados pelos procedimentos médicos; orientação nutricional para os que perderam peso; atendimento psicológico para pacientes e familiares que exibem problemas emocionais; e aconselhamento genético para as famílias em que a doença é hereditária, entre tantas outras necessidades.

Como grande parte desses atendimentos exige a agilidade que nem sempre se consegue no complexo hospitalar, por iniciativa da professora Carmen Lima, foram criados pequenos núcleos no próprio Serviço de Oncologia para atender a maioria dessas necessidades.

Ela conta que tudo isso começou a ser pensado e implantado há cerca de três anos quando, juntamente com o médico e professor José Barreto Carvalheira, começou a reestruturar a equipe de Oncologia Clínica. A duplicação da área física disponível anteriormente facilitou as coisas.

Oncogenética – A determinação do caráter hereditário do câncer é identificada por geneticistas, pois exige conhecimentos que fogem das atribuições de um clínico. Cada caso estudado demanda um atendimento diferenciado e uma conduta específica, que apenas um profissional da área pode desenvolver, explica Fátima Botcher que fez mestrado e doutorado em Genética Humana e especializou-se em Oncogenética.

Carmen Bertuzzo esclarece que é necessário primeiro descartar outros fatores que possam determinar a doença para a seguir estabelecer o seu efetivo caráter hereditário. Uma de suas especialidades é o aconselhamento genético, que desenvolve na Oncologia, Pediatria e Hematologia, orientando famílias com doenças genéticas.

As geneticistas esclarecem que em famílias em que se comprova a hereditariedade do câncer, é estabelecido o grau de risco de cada um de seus membros. Para alguns tipos de câncer hereditário, como o de mama, se pode fazer a detecção dos portadores de genes que os tornam suscetíveis à doença através de exame no DNA.

As professoras Carmen Lima e Carmen Bertuzzo lembram que embora os laboratórios do Serviço de Oncologia e do Departamento de Genética tenham condições técnicas de realizar esse exame, não os oferece por falta de recursos, pois não constam da tabela SUS. “Somente os realizamos quando podemos incluí-los em pesquisas que envolvem dissertações de mestrado ou teses de doutorado”, diz Carmen Lima.

“Entendemos a preocupação do SUS de que esses exames passem a ser realizados indiscriminadamente, mas isso seria evitado com a sua liberação apenas para os centros de referência de identificação do câncer hereditário como é o caso o nosso, além de outros existentes no país”, pondera Carmen Bertuzzo.

O serviço de Oncologia Clínica é referência para o atendimento de pacientes com câncer. Realiza por mês cerca de 800 consultas e entre 300 a 400 procedimentos quimioterápicos. Aproximadamente 40% dos casos são de tumores de cabeça e pescoço, 30% de tumores do cólon e reto e 30% de outros cânceres, incluindo os de próstata, estômago, testículo, pulmão, mama, ósseos e melanomas.

Como o doente deve ser idealmente atendido por uma equipe multidisciplinar, os pacientes são também assistidos por profissionais de enfermagem, nutrição, serviço social, psicologia, odontologia e genética, em ambulatórios que funcionam na mesma área em sincronismo com os de atendimentos médicos.

Além do atendimento aos pacientes com câncer, os profissionais da equipe ministram conhecimentos básicos em Oncologia para alunos do curso de medicina da FCM da Unicamp e conhecimentos específicos a médicos residentes da Clínica Médica e Cancerologia. São contemplados também profissionais de enfermagem, serviço social, psicologia e nutrição que passam por processos de aprimoramento.

É também de responsabilidade dos profissionais da equipe a formação de alunos de iniciação cientifica e pós-graduandos de mestrado e doutorado em áreas básicas e clínicas de investigação em câncer. “Desta forma, são cumpridas na Oncologia Clínica as atividades de assistência, ensino e pesquisa, fundamentais a serviços universitários de qualidade”, afirma Carmen Lima.

Um país em transição

A incidência de câncer aumenta progressivamente no mundo. Entre os vários fatores apontados como responsáveis pelo aumento do número de casos de câncer, destacam-se a maior exposição de indivíduos a agentes cancerígenos e o aumento da expectativa de vida nas diversas populações.

A distribuição dos diferentes tipos de câncer indica que o Brasil sofre uma transição de país em desenvolvimento para desenvolvido, manifesto no aumento expressivo no número de casos de câncer de mama, próstata, cólon e reto.

Paradoxalmente, também se observam altas incidências de tumores associadas à pobreza, como o do colo do útero, pênis, estômago e cavidade oral.

Estima-se que cerca de onze mil homens e dez mil mulheres da macrorregião de Campinas tiveram câncer diagnosticado em 2006, sendo que possivelmente os mais freqüentes em homens tenham sido os de próstata, pele, pulmão e cólon e reto e, em mulheres, os de mama, pele, cólon e reto, colo uterino e pulmão.

A macrorregião de Campinas totaliza 6,1 milhões de habitantes, sendo 3,9 milhões na região de Campinas (42 municípios); 1,4 milhão na região de Piracicaba (28 municípios); e 800 mil na região de São João da Boa Vista (20 municípios).

O complexo hospitalar da Unicamp constitui o único serviço de atendimento integral ao paciente com câncer credenciado pelo SUS na macrorregião de Campinas.

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