MANUEL ALVES FILHO

A primeira revista de divulgação científica do Brasil, a Ciência Hoje, acaba de completar 20 anos. A publicação, que leva a chancela da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), mantém uma espécie de ligação umbilical com Campinas, não apenas por encontrar na cidade diversas fontes de informação, materializadas nos institutos de pesquisa aqui instalados, mas principalmente porque a edição nº 1 foi lançada por estas plagas, durante a 34ª reunião anual da entidade, em 7 de julho de 1982. Deste então, a Ciência Hoje tem cumprido com eficiência os seus objetivos: estabelecer um canal de comunicação entre a comunidade científica e o grande público e promover o debate político em torno de questões fundamentais, como cidadania, educação e participação universitária.

O esforço para democratizar a ciência exigiu a superação de um obstáculo decisivo: substituir a linguagem hermética dos artigos científicos, carregada de jargões e fórmulas, por textos de maior simplicidade e clareza, sem a perda do rigor científico. Até então, como lembra a atual editora executiva de Ciência Hoje, Alicia Ivanissevich, não existia outra publicação do gênero. "Havia apenas alguns programas de rádio e TV esporádicos que tentavam levar a ciência ao cidadão comum", afirma. O pioneirismo da revista não se restringiu, porém, à questão da palavra. A CH, como é informalmente chamada por muitos de seus leitores, também juntou várias áreas do conhecimento em torno dos seus objetivos centrais. "Não havia tradição, no país, de biólogos intercambiarem seus conhecimentos com físicos, lingüistas ou antropólogos", exemplifica a jornalista.

A Ciência Hoje inovou, ainda, ao mostrar o cotidiano do pesquisador em seu laboratório ou no campo. "A revista abriu, dessa forma, caminhos para outras publicações que foram surgindo anos mais tarde, como a Su-perinteressante, a Galileu e a Pesquisa, da Fapesp", afirma Alicia. De acordo com ela, a CH tem um cuidado especial com a precisão da informação. Todos os artigos e reportagens passam pela avaliação de um corpo de editores que representam as grandes áreas do conhecimento. Freqüen-temente, os textos também são submetidos ao crivo de especialistas nos assuntos tratados. "Com isso, o índice de erros torna-se mínimo", assegura. A publicação conta com um Conselho Diretor, que define as grandes linhas editoriais, em conjunto com a redação.

Números – Parte do sucesso de Ciência Hoje pode ser constatada por meio de alguns números significativos. Nos últimos 20 anos, até a data do aniversário, foram produzidas 184 edições. Foram cerca de 15 mil páginas trazendo histórias, notícias, flashes, opiniões, debates, perfis, arte e humor. De acordo com Alicia, perto de 2 mil cientistas de todo o Brasil, além de dezenas de outros que trabalham no exterior, escreveram artigos para a revista. Aproximadamente 850 pesquisadores foram consultados para avaliar os textos de seus pares e mais de 70 jornalistas passaram pela redação ou colaboraram com a publicação. "Ciência Hoje tornou-se, portanto, um verdadeiro laboratório de idéias e realizações, um marco na história da divulgação científica do país", analisa a editora executiva.