Jornal da Unicamp 188 - 2 a 8 de setembro de 2002
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A pediatra Maria de Lourdes Vieira: "Com menos dinheiro, a mãe adolescente alimenta o filho com ovos ao invés de carne". Mãe adolescente
não é negligente

Maus resultados perinatais e no desenvolvimento dos bebês se devem mais a carências sociais

ANTÔNIO ROBERTO FAVA


A mãe adolescente não é mais negligente ou imatura que a mãe adulta no cuidado com os filhos, embora a literatura aponte que essas crianças guardam desvantagens em relação ao crescimento, adoecem com mais freqüência e são vítimas de maior índice de mortalidade. É o que quis demonstrar a pediatra Maria de Lourdes Fonseca Vieira, professora da Universidade Federal de Alagoas, ao investigar 245 crianças – 122 de mães adolescentes e 123 de mães adultas – nascidas no Centro de Atenção à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp.

"A questão não é de caráter e sim social. Eventuais maus resultados perinatais e de desenvolvimento dessas crianças devem-se à falta ou má assistência pré-natal e de suporte familiar ou do companheiro", afirma a pesquisadora. Mesmo assim, ela acrescenta que, no que se refere a cuidados, alimentação, crescimento e desenvolvimento, no primeiro ano de vida os filhos das mães adolescentes não apresentaram diferenças consideráveis quando comparadas ao grupo de filhos de mães adultas.

A pesquisa de Maria de Lourdes compôs a tese de doutorado Filhos de mães adolescentes: avaliação do crescimento e do desenvolvimento com um ano de idade, sob a orientação do professor Antonio de Azevedo Barros Filho (FCM). Ela observa, a título de exemplo, que os filhos de mães adolescentes ingeriam menos carne que os das mães adultas. "As adolescentes têm menor renda per capita que as adultas, daí não poderem comprar carne, resultando carência desse tipo de alimento complementar, rico em ferro, importante para o crescimento e desenvolvimento da criança. Para substituir a carne, as jovens mães optaram pelo consumo de ovos, que são mais baratos", informa a pediatra.

Quanto à amamentação, outro benefício importante para a vida do bebê, Maria de Lourdes não registrou diferença no hábito em suas estatísticas. Com um ano de idade – quando ainda ocorre o chamado aleitamento continuado – 35% dos filhos de mães adolescentes ainda mamavam no peito, enquanto que o outro grupo apresentava um índice proporcionalmente menor, de 28%, sem diferença "estatisticamente significativa", conforme acentua a pesquisadora.

Quando os filhos fizeram um ano, Maria de Lourdes complementou sua pesquisa na própria residência das mães, avaliando o crescimento por meio de medidas antropométricas – peso, comprimento, perímetro cefálico, perímetro braquial e pregas cutâneas tricipital e subescapular. Avaliou-se ainda a relação entre peso/idade, peso/comprimento, comprimento/idade e perímetro cefálico/idade. Outro recurso utilizado foi a análise da composição corporal pela "bioimpedância elétrica", método que avalia o corpo por meio de dois componentes: massa magra e massa gorda.

A pesquisadora revelou outro dado curioso e relevante: quando engravidaram, 52% das mães adolescentes eram solteiras. Quando seus filhos completaram um ano de idade, a situação conjugal era bem diferente: de 52% o índice caiu para 25%, porque as adolescentes se casaram ou amasiaram. "Isto prova que essas mães vêem o suporte familiar e a presença de um companheiro como importantes para o desenvolvimento de seus filhos", conclui a pediatra.