Jornal da Unicamp 188 - 2 a 8 de setembro de 2002
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Juliana de Campos Leite, engenheira agrônoma: "A chicória tem maior rendimento"O açúcar da chicória

Unicamp desenvolve nova técnica para extrair da verdura a inulina, que substitui o açúcar e a gordura com vantagem de ter baixa caloria

MANUEL ALVES FILHO

Pesquisadores da Unicamp estão concluindo um novo processo para a extração de inulina a partir da raiz da chicória, verdura comum na mesa dos brasileiros. Em países como os Estados Unidos, Canadá e integrantes da União Européia, únicos a deter esse tipo de tecnologia, a substância é utilizada pelas indústrias alimentícia e farmacêutica como substituta do açúcar e da gordura, com uma vantagem adicional: tem baixíssima caloria.

A pesquisa em torno da extração da inulina está sendo realizada em duas frentes. A primeira, sob a responsabilidade do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), tem por objetivo desenvolver a cultura da chicória no Brasil. A planta é típica de regiões de clima temperado, como EUA e Europa. A segunda etapa, feita em laboratório por especialistas da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), consiste justamente na definição da nova técnica para a extração da substância substituta do açúcar.

De acordo com a engenheira agrônoma Juliana Tófano de Campos Leite, cuja dissertação de mestrado faz parte da pesquisa, a escolha da chicória se deu porque, além de ser de cultivo relativamente fácil, a planta tem uma grande concentração de inulina. "Existem cerca de 30 mil vegetais que contêm a substância, mas a chicória apresenta vantagens em relação à produção e rendimento", explica. A extração da inulina, segundo ela, é executada por meio da difusão em água quente. Com isso, obtém-se um extrato líquido, que posteriormente passa por um processo de secagem por atomização. O produto final é apresentado na forma de um pó branco, mais fino do que o açúcar comum.

A inulina, conforme Juliana, é um tipo de açúcar (frutoligossacarídeo) que não é digerido pelo estômago. Ou seja, ela não acrescenta calorias ao ser ingerida. Essa característica faz com que o produto possa ser utilizado por pessoas que sofrem restrição ao consumo do açúcar, como diabéticos e obesos. A inulina pode ser considerada, ainda, um alimento funcional. Ou seja, ela melhora algumas funções do organismo, ajudando assim a prevenir doenças. Pesquisas indicam que a substância fortalece as bifidobactérias (bactérias encontradas no intestino humano e que fazem parte da flora intestinal), que auxiliam nas atividades digestivas. Para completar, também contribui para o controle dos níveis de colesterol.

Patente – Os pesquisadores da Unicamp ainda não têm idéia de quando a inulina estará sendo produzida em escala industrial no Brasil, pois isso dependerá de entendimentos com a iniciativa privada. De acordo com Kil Jin Park, professor da Feagri e um dos coordenadores da pesquisa, o pedido de patente do novo processo já foi depositado. Isso poderá trazer ganhos para o país, dado que o Brasil ainda é obrigado a importar a substância. A pesquisa realizada conta com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).