| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 306 - 17 a 23 de outubro de 2005
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Chá verde fortalece sistema imunológico, conclui estudo
Pesquisa mostra índice de sedentarismo entre idosos
Lingüista desvenda as funções das preposições
Os bandidos vão para as telas, em épocas distintas

Chá verde fortalece sistema imunológico, conclui estudo

Velho conhecido da medicina oriental, o chá verde foi o objeto de pesquisa na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) em aspectos pouco explorados pela literatura médica. Em geral, as pesquisas apontam sua eficácia contra a obesidade. O estudo, porém, realizado em camundongos, conseguiu estabelecer os mecanismos imunológicos da substância no organismo e seu efeito na prevenção de infecções por conta da ação imunomoduladora – agentes que modulam ou interferem no processo de imunidade. A constatação foi da farmacêutica Camila Alexandrina Viana de Figueiredo, autora da tese de doutorado “Avaliação dos efeitos do extrato do chá verde (Camellia sinensis L. Kuntze) sobre a resposta imunohematopoética de camundongos infectados com Listeria monocytogenes”.

Na pesquisa, orientada pela professora Mary Luci de Sousa Queiroz, Camila dividiu os animais em dois grupos, sendo que um não recebeu nenhum tipo de tratamento e, em outro, o chá foi introduzido previamente durante sete dias consecutivos. Após o tratamento, os animais foram infectados com uma dose letal da bactéria Listeria monocytogenes. Enquanto os animais sem tratamento morreram dentro de quatro dias, 50% dos animais que receberam previamente o chá sobreviveram à inoculação da bactéria. Em outro momento, a pesquisadora utilizou o modelo Listeriose murina, que provoca alterações no sistema imunológico, o que permitiu investigar os mecanismos subjacentes a esta proteção.

Embora o chá verde seja amplamente difundido no Brasil para outros tratamentos, com a pesquisa ficou clara sua capacidade de interferir no sistema imunológico, deixando-o mais apto no combate a alterações patológicas. É certo, porém, que outros estudos pré-clínicos e clínicos são necessários para comprovar essa ação no homem. Atualmente, um outro interesse das pesquisadoras é a investigação de seus efeitos sobre células-tronco, visto que o chá demonstrou intensa atividade hematopoética – formação das células sangüíneas – em seu mecanismo de ação. “A busca por drogas estimuladoras hemapoéticas, particularmente oriundas de células primitivas como as células-tronco, é de extrema importância pela possibilidade de emprego das mesmas em certas condições patológicas nas quais o tratamento é ineficaz ou inexistente”, afirma a pesquisadora.

Oriundo da planta Camélia sinensis, o chá verde é muito consumido no Japão e na China. Possui propriedades estimulantes e desintoxicantes, além de ativar a circulação sangüínea e aumentar a resistência às doenças. No Brasil, o cultivo da planta é dificultado pelo clima tropical, mas o produto é encontrado facilmente, na forma de saches, em supermercados e farmácias.


Pesquisa mostra índice de sedentarismo entre idosos

A fisioterapeuta Maria Paula do Amaral Zaitune: alerta a profissionais  (Foto: Antonio Scarpinetti)É alto o sedentarismo no lazer entre os idosos de Campinas. Setenta e um por cento deles não praticam atividade física de lazer, sequer uma vez por semana, sendo os mais sedentários aqueles de menor nível sócio-econômico, tabagistas e com transtorno mental comum. Estes são alguns dos resultados apontados na pesquisa realizada pela fisioterapeuta Maria Paula do Amaral Zaitune ao aplicar questionários em 426 indivíduos com mais de 60 anos de idade.

Os resultados, segundo a fisioterapeuta especializada em gerontologia, sugerem que os programas e políticas de saúde deveriam estimular a prática de atividade física no lazer em conjunto com outras ações de promoção de estilos de vida mais saudáveis. De preferência, enfocando o abandono do tabagismo, já que a pesquisa constatou que o sedentarismo é mais prevalente em idosos fumantes.

Os dados, apurados na dissertação de mestrado “Fatores associados à hipertensão arterial e à prática de atividade física no lazer em idosos do município de Campinas”, são originários de um estudo multicêntrico de morbidade e uso de serviços de saúde denominado Inquérito da Saúde (ISA-SP). O estudo teve financiamento da Fapesp e Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Em Campinas, a unidade correspondente é o Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde, que recebe suporte do Ministério da Saúde. A pesquisa de mestrado foi orientada pela professora Marilisa Berti de Azevedo Barros, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas.

Atividades de lazer - “A prevalência da prática de atividade física no lazer foi de 29,1%, porcentagem muito baixa se considerar os benefícios do exercício físico, especialmente nesta faixa etária”, destaca Paula. O mais preocupante foi constatar que os idosos com Transtorno Mental Comum (TMC) – presença de sintomas como irritabilidade, fadiga, insônia, ansiedade, sintomas depressivos e outros – são mais sedentários no lazer. Na opinião de Paula, este aspecto sugere que os profissionais de saúde precisam estar atentos em identificar idosos com dificuldades de aderir aos exercícios, pois poderiam ser beneficiados, inclusive nos aspectos emocionais, com a prática.

O trabalho apurou ainda a prevalência de 51,8% de idosos com hipertensão arterial e aponta para uma taxa significativa de migrantes, com menor escolaridade e com sobrepeso ou obesidade. Segundo a fisioterapeuta, o Sistema Único de Saúde em Campinas está com boa cobertura quanto ao acesso aos serviços de saúde e ao uso de medicamentos. “Há uma lacuna, porém, para estimular estilos de vida mais saudáveis. Pelas respostas dos idosos, os hipertensos de maior nível de escolaridade, ao contrário dos que estudaram menos, disseram reconhecer a prática de atividade física e o uso de dietas de controle da hipertensão. Eles incorporam essas atividades no controle da doença. Portanto, nas práticas relacionadas aos comportamentos saudáveis e estilo de vida é que as desigualdades sociais se manifestam”, explica.


Lingüista 'desvenda' as funções das preposições

A lingüista Lou-Ann Kleppa: estudos vão ser aprofundados (Foto: Antonio Sparpinetti)Vamos de a pé?” é uma frase comum dita por uma criança ao aprender as primeiras letras e que não tem a noção de que é muito rara a combinação de duas preposições em língua portuguesa. Os “erros” pronunciados por Raquel aos cinco anos de idade foram o ponto de partida para que a lingüista Lou-Ann Kleppa entendesse o sistema de funcionamento da preposição. Tema muito pouco estudado, que a pesquisadora tem tentado sistematizar desde o mestrado. Aprofundou no doutorado e transformou-se em capítulo na publicação Gramática do Português Falado, editada por lingüistas do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, Universidade de São Paulo e Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As preposições, segundo Lou-Ann, são mal descritas na gramática. “As definições são fragmentadas e aparecem em três blocos desconexos nas gramáticas. São descritas no capítulo sobre classe de palavras, sobre regência e crase”, exemplifica. A pesquisadora percebeu que as preposições não formam uma classe homogênea. Algumas podem ter sua forma alterada – em + a = na –, ou não como é o caso de “até, contra e sobre”. Algumas têm um sentido muito claro – até indicam limite – outras nem tanto. Um exemplo é o que significa o “de”, na frase “Eu gosto de chocolate?”.

Num primeiro momento para a sua dissertação de mestrado “Preposições ligadas a verbos na fala de uma criança em processo de aquisição de linguagem - ou ‘vamo de a pé no carro do vovô?’”, a pesquisadora queria comparar as preposições ditas por um afásico – indivíduo afetado na fala por motivo de lesão cerebral – com as preposições ditas por uma criança para testar a hipótese de que o afásico aprenderia por último o que a criança aprende primeiro. No percurso de seu trabalho, porém, ela percebeu que os universos da criança e do afásico são muito diferentes, pois o afásico é um falante que teve sua linguagem afetada e, normalmente, tem consciência do seu distúrbio. Já a criança está adquirindo uma linguagem e não sabe que está errando. “Contudo, o contraste entre a fala da criança e do afásico não é impossível. Apenas não é espelhado. Pretendo investigar mais a fundo a questão no doutorado”, explica.


Os bandidos vão para as telas, em épocas distintas

A socióloga Ana Cláudia Taú: contestação é a marca comum (Foto: Mani Maria Pereira) Não foi por acaso que a socióloga Ana Cláudia Taú escolheu personagens de quatro bandidos famosos encenados nas telas do cinema brasileiro para realizar sua dissertação de mestrado financiada pela Fapesp. Grande parte de sua infância, Ana Cláudia viveu no Jardim Sapopemba – bairro violento de São Paulo – e buscou no audiovisual e nas Ciências Sociais algo que pudesse aplicar à realidade vivida. Ela analisou a figura do bandido em filmes recentes para conseguir estabelecer comparação entre o Cinema Novo e o Marginal. “Minha observação foi que o cinema após Lei de Audiovisual de 1993, ou o ‘Cinema da Retomada’, permanece contestador. As questões mercadológicas, no entanto, trazem algumas modificações na forma de retratar os aspectos sociais. A justificativa seria que o cinema precisa se inserir no mercado, formar seu público cativo e ser competitivo”, avalia Ana Cláudia.

O contexto histórico de globalização abre um leque de oportunidades para esse novo entendimento. Na verdade, explica a socióloga, o cinema brasileiro quer se reafirmar no cinema mundial, concorrer no mercado, mas sem perder a qualidade. No cinema da década de 60 – no Cinema Novo – também se observa essa expectativa. Nas duas fases, os problemas sociais permanecem os mesmos, mas nos anos 60 prevalecia o romantismo revolucionário. “Na década de 60 se acreditava que podia propor mudanças na situação política do país. Já nos filmes dos anos 90, a utopia nesses moldes está ausente. O pessimismo é uma marca freqüente. A idéia não seria derrubar para construir e sim reformular o que já existe para se inserir”, explica.

Foto: ReproduçãoA dissertação “A figura do bandido no novo cinema brasileiro”, orientada pelo professor Marcius Freire, traz um paralelo dos personagens centrais de quatro filmes, comparando João (O Primeiro Dia, dirigido por Daniela Thomas e Walter Salles, 1999) e Jasão (A grande cidade, dirigido por Cacá Diegues, 1965), ambos personagens migrantes e desfavorecidos, que encontram no crime uma alternativa de sobrevivência. Jasão é combatente, revolucionário e afronta autoridades, marca do cinema de 60. João, ao contrário, é conformado nas atitudes e conivente com o sistema precário dentro da cadeia. Embora reflita o sistema no qual se insere, não enfrenta a situação.

Em outro momento, a comparação entre o personagem Anísio (O Invasor, dirigido por Beto Brant, 2001) e O Bandido da Luz Vermelha (direção de Rogério Sganzerla, 1968). “Esses bandidos são bem semelhantes nos aspectos físico e psicológico. Debochados e irônicos, eles denotam bem a marca do momento em que foram construídos. Enquanto Anísio é um alpinista social, representando pontos do cinema político atual, O Bandido da Luz Vermelha se caracteriza pelo rompimento do Cinema Novo com o marginal”, avalia a socióloga.

Para melhor entender alguns conceitos sociológicos, Ana Cláudia parte da análise feita dos personagens para chegar à sua teoria. No filme O Primeiro Dia há um caso de entrecruzamento de classes sociais. João se apaixona por Maria, a mulher de classe média que se sente atraída pelo bandido e o conhecimento do “mundo dos excluídos”. “Isto explica o fascínio de uma classe sobre a outra”, afirma. Em O Invasor, situação semelhante acontece com Anísio que se envolve com Marina, filha de empresário, com o objetivo de tentar uma escalada social.

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