196 - ANO XVII - 28 de outubro a 3 de novembro de 2002
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A psicóloga Edna Rosa Correia Neves: "Os alunos estão intrinsicamente motivados"Pesquisa avalia motivação
das crianças para o estudo

Alunos que executam tarefas por prazer
predominam sobre os que esperam alguma recompensa


"Carlos costuma se esforçar bastante,
tanto nos trabalhos de casa como em sala de aula, mesmo sabendo que os trabalhos não vão valer como nota".

ROBERTO COSTA

Era este o enunciado no alto da folha; abaixo, perguntava-se ao aluno se concordava ou não com Carlos, e por que. Ao todo, 12 pranchas (páginas formatadas utilizadas neste método de avaliação) foram apresentadas a 160 alunos de 2a, 4a, 6a e 8a séries de uma escola estadual da periferia de Campinas. O objetivo: avaliar como ocorrem as orientações motivacionais entre alunos do ensino fundamental. Ao mesmo tempo, 18 questões abertas serviram para colher as crenças dos estudantes sobre inteligência, esforço e sorte.

Trata-se de uma pesquisa para a dissertação de mestrado da psicóloga Edna Rosa Correia Neves, defendida junto à Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. “Os resultados indicam que a maioria dos alunos deveria apresentar um desempenho mais efetivo na escola, já que são intrinsecamente motivados”, afirma Edna. Ela explica que, quando a motivação é intrínseca, o aluno se mantém na tarefa pela atividade em si, porque ela é interessante, envolvente e geradora de satisfação, ou seja: a motivação é natural. Já na motivação extrínseca, o aluno executa a tarefa em troca de recompensas externas, materiais ou sociais – o reconhecimento de competência ou habilidade por outras pessoas.

No exemplo da prancha acima, a psicóloga constatou que 68,1% consideram o estudo um benefício para si próprio e 23,8% o têm como um valor importante; 8,1% classificaram a nota como valor importante. “No geral tivemos uma porcentagem muito alta de alunos que acham o estudo importante. Além disso, os indivíduos mais intrinsecamente motivados eram de séries e idades mais avançadas”, afirma. Como tais índices nem sempre se refletem nas notas e no aproveitamento escolar, Edna considera que o problema, em parte, pode estar no próprio sistema escolar.

Na outra avaliação, entre os estudantes predominou a definição de inteligência como capacidade, estudo e sabedoria. Esforço, para eles, é estudo, luta e vontade. E sorte significa achar ou ganhar, havendo ainda os que não acreditam que ela exista e os que não sabem defini-la.

Para a pesquisa, Edna Neves, formada pela Unimep, contou com financiamento da Capes e realizou um piloto para testar as pranchas e os questionários sob supervisão da professora Evely Boruchovitch, sua orientadora na Faculdade de Educação. As entrevistas deram-se de forma aleatória, em proporção igual de homens e mulheres, na faixa etária de 6 a 16 anos. Dentre os 160 alunos, 78% nunca haviam repetido de ano; 22%, sim. A psicóloga ouviu nove estudantes por dia, freqüentando a escola por dois meses para concluir o levantamento.

Progressão continuada – Edna também avaliou se a progressão continuada afeta ou não a motivação dos estudantes. O novo método de ensino foi implantado pelo governo do Estado de São Paulo em 1997. De acordo com ele, o aluno deve ser automaticamente aprovado ao final de seis das oito séries do ensino fundamental, havendo risco de reprovação na quarta e oitava séries. A partir dos dados obtidos, a pesquisadora verificou que os alunos das séries iniciais desconhecem as regras da aprovação automática, enquanto pequena parte dos mais velhos sabe dela. Edna defende a necessidade de pesquisas futuras que atentem para o impacto da progressão continuada na motivação dos alunos.