196 - ANO XVII - 28 de outubro a 3 de novembro de 2002
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Pesquisando a pesquisa

Grupo da FE torna-se referência na análise sobre qualidade das teses de mestrado e doutorado no País

LUIZ SUGIMOTO

O professor Silvio Sánchez Gamboa, coordenador do Paidéia: "A massa crítica sobre a realidade da educação vai se acumular"Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp realiza há 20 anos um levantamento nacional sobre a quantidade e a qualidade das teses de mestrado e doutorado na área educacional. Essa análise começa pela própria produção da FE, onde, até dezembro de 2001, foram defendidas 477 teses de doutorado e 822 dissertações de mestrado. Para a análise crítica desta produção, organizou-se uma matriz de interpretação – a chamada epistemologia da pesquisa. Tanto a matriz como os resultados obtidos por meio dela – e disseminados em livros - têm despertado o interesse de outras instituições de ensino e de outras áreas do conhecimento na Unicamp, tornando o grupo uma referência.

"Acreditamos que essa pesquisa epistemológica se reverta diretamente em melhoria da produção científica em educação - tanto nos níveis de mestrado e doutorado como no nível de iniciação científica -, por submetê-la a uma perspectiva crítica constante", afirma o professor Silvio Sánchez Gamboa, que coordena o Paidéia - Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia e Educação. Ao contar com um balanço sobre a forma como se faz pesquisa no Brasil, o aluno pode conhecer de antemão as vertentes teóricas, as metodologias, as limitações de determinadas abordagens e as vantagens de outras, evitar a repetição de temas e dispor de atualização bibliográfica permanente. "Quando chega, o pesquisador já tem todas essas informações, não precisa buscá-las sozinho".

De acordo com Silvio Gamboa, na área da educação, as pesquisas estão passando de um modelo teórico para um modelo de análise da realidade. "Se antes se estudava uma temática, hoje se estuda uma problemática. Têm crescido em grande medida os estudos voltados à análise da política educacional brasileira, dos desdobramentos dessa política, dos problemas de alfabetização, das relações professor-aluno, da aprovação automática no ensino fundamental, da violência na escola", atesta.

Ilustração: FélixGamboa informa que uma questão interessante é em que medida toma-se decisões políticas com base em resultados de pesquisas. Em sua opinião, se as pesquisas tomam como ponto de partida o estudo de uma problemática específica e concreta, o caminho de volta é mais rápido, permitindo diagnósticos da realidade e a apropriação desses diagnósticos para a tomada de decisões. "Os resultados da pesquisa, de certa forma, se sintetizam na elaboração de respostas para esses problemas. Nesta medida, entendemos que a massa crítica sobre a realidade da educação vai se acumular e trazer grandes discussões de diretrizes, pelos menos no âmbito das secretarias municipais", prevê.

Gamboa comemora o fato de que a atuação e os estudos de sua equipe estejam contribuindo em outras áreas. "Esta análise crítica das pesquisas científicas, das tendências e teorias, tem influído em outras instituições, em áreas tão diversas como a educação física e a comunicação, todas interessadas em utilizar o balanço da nossa produção".

Dinâmica - A Faculdade de Educação da Unicamp responde, atualmente, por 30% da produção nacional de pesquisas de mestrado e doutorado. Mantém 14 linhas de pesquisas gerais e oito áreas de conhecimento. Dentro desta dinâmica, Silvio Gamboa defende a inserção de alunos da graduação e da iniciação científica nesses grupos de pesquisa, ressaltando que os graduandos marcam presença na maioria dos grupos da FE. "O pesquisador que se inicia na graduação é um excelente candidato para progredir na carreira de mestrado e doutorado. Este seria um resultado concreto do nosso trabalho", afirma.

A proposta é contribuir para assegurar na FE uma formação menos abstrata. "A nossa pesquisa, desenvolvida inicialmente na pós-graduação, hoje contempla também a graduação. Precisamos de um professor que mantenha um olhar crítico sobre a complexidade da escola e as suas relações com a sociedade, que se preocupe com a sua problemática. Possuímos os indicadores para que esta pessoa não atue apenas no repasse de conhecimento, mas na produção de conhecimento novo, fazendo diagnósticos da escola e ajudando a instrumentá-la. O grande problema na formação do educador é a distância entre teoria e prática".