196 - ANO XVII - 28 de outubro a 3 de novembro de 2002
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Professores da Unicamp
comentam o
Nobel 2002

Os laureados com o Prêmio Nobel de 2002 foram anunciados em outubro pela Academia Real das Ciências Sueca. São seis categorias, com prêmio de US$ 1 milhão para cada uma. Como a Academia escolheu 13 vencedores, esta quantia é dividida por duas ou mais personalidades em algumas categorias. A maior parte das pesquisas contempladas neste ano teve início na década de 1970, formando hoje a base de muitos projetos de aperfeiçoamento. Nesta página, especialistas da Unicamp comentam a premiação.

Química

Rogério CustodioDividem o Nobel de Química deste ano o cientista japonês Koichi Tanaka, o norte-americano John Fenn e o sueco Kurt Wuetrich, pelo aprimoramento de métodos mais eficazes para análise de macromoléculas com atividade biológica. O professor Rogério Custodio (foto), diretor associado do Instituto de Química da Unicamp, manifestou sua satisfação com as escolhas, por considerar que as pesquisas vêm melhorar as informações em nível molecular já adquiridas.

"Com essas combinações de técnicas, conseguimos informações detalhadas sobre a estrutura de moléculas mais complexas, fator essencial para compreendermos as propriedades da matéria", avalia o professor. Os trabalhos premiados tratam do aperfeiçoamento de métodos para a identificação, entre outras coisas, de proteínas em soluções, possibilitando o desenvolvimento de novos fármacos ou mesmo o controle e o diagnóstico de determinados tipos de doenças.

Paz

Arnoldo De Hoyos"O mundo parece estar acordando para o fato de que existem autênticos líderes em favor da paz", afirma o professor da Unicamp Arnoldo De Hoyos (foto), manifestando-se sobre Jimmy Carter, ganhador do Nobel da Paz em 2002. Na sua opinião, o prêmio concedido ao ex-presidente norte-americano, que sucedeu Richard Nixon após o escândalo de Watergate, "veio como reconhecimento e um sinal da urgente necessidade de se contar hoje com líderes que promovam o bem-estar e a paz global".

De Hoyos ressalta a contínua dedicação do fundador da ONG The Carter Center na atuação em áreas críticas, visando a solução de conflitos e a o respeito aos direitos humanos, à democracia e à sustentabilidade. "Jimmy Carter é um exemplo de como é possível aproveitar o conhecimento, a experiência e a boa vontade de lideranças esclarecidas na construção de um mundo melhor, mais justo, mais pacífico e mais solidário".

Economia

David DequechO Nobel de Economia contemplou duas linhas de trabalho diferentes, mas relacionadas. Uma é a psicologia econômica, que tem como um dos pioneiros Daniel Kahneman, israelense-norte-americano; a outra é a economia experimental, cujos fundamentos foram organizados por Vernon Smith, da Universidade George Mason, nos Estados Unidos.


Para o professor David Dequech, do Instituto de Economia da Unicamp, a grande contribuição de Kahneman é mostrar que os agentes econômicos não são tão Paulo Sérgio Fracalanzaracionais ou tão competentes quanto a teoria econômica convencional supõe. Ao incorporar observações da psicologia à economia, o cientista israelense defende que as pessoas dão mais importância a um lucro seguro do que a um lucro provável, mesmo prevendo que este último tenha valor maior. "A premiação de Kahneman é um incentivo, ainda que limitado, a trabalhos mais realistas em economia", afirma Dequech.

O professor Paulo Sérgio Fracalanza, também do IE, explica que Vernon Smith, por sua vez, foi premiado pelo método que consiste em reproduzir artificialmente, em laboratório, um contexto econômico, com participantes reais e incentivos monetários reais. "A simulação permite testar diferentes estruturas que podem ajudar gestores públicos ou privados em situações de negociações, resolução de conflitos ou tomadas de decisões", acrescenta Fracalanza. Na opinião do professor, o reconhecimento conjunto dos trabalhos de Smith e de Kahneman consagra a economia como uma ciência experimental.

Física

Marcelo Guzzo Duas pesquisas na área de astrofísica ganharam o Nobel 2002. Raymond Davis e Masatoshi Koshiba foram agraciados por suas experiências pioneiras envolvendo neutrinos solares e neutrinos de supernovas. Eles dividirão o prêmio com o físico italiano Riccardo Giacconi, criador de telescópios ultra-sensíveis a raios-X.

O professor Marcelo Guzzo (foto), do Instituto de Física Gleb Wataghin, informa que os estudos de Koshiba e Davis têm oferecido respostas eficientes nas investigações sobre o sol. As pesquisas abrem janelas ao contestar o conhecimento padrão sobre partículas elementares.

O italiano Giacconi foi o primeiro cientista a observar raios-X vindos de regiões onde não existiriam. De acordo com o professor da Unicamp, os físicos acreditavam que em algumas regiões do universo só houvesse matéria primordial, que foi formada logo no Big Bang – praticamente de hidrogênio e hélio. "Giacconi lançou os fundamentos da astronomia de raios-X", afirma.

Medicina

Iscia Lopes CendesSidney Brenner, John E. Sulston e H. Roberto Horvitz obtiveram informações sobre a morte programada de células que podem oferecer novo horizonte a pesquisas e tratamento de doenças neurodegenerativas, Aids e derrames. Brenner, 75 anos, é um pesquisador do Molecular Sciences Institute, em Berkley, no estado da Califórnia. Sulston, 60 anos, trabalha no Sanger Center, em Cambridge, na Inglaterra. E o mais jovem deles, Horvitz, 55, é do Massachussetts Institute of Technology.

Para a professora do Departamento de Genética Médica da Unicamp Iscia Lopes Cendes (foto), as três pesquisas mereceram o prêmio, pois "permitem a qualquer profissional de ciências biomédicas um melhor entendimento dos mecanismos que causam uma série de doenças, o que abre a possibilidade de se desenvolver terapias mais adequadas e específicas".

Literatura

Márcio SeligmanO Nobel de Literatura foi concedido ao romancista húngaro Imre Kertesz, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz . Para o professor do Instituto de Estudos da Linguagem Márcio Seligman (foto), a premiação é o reconhecimento da importância da obra de Kertsz e uma homenagem à literatura húngara. "É, também, uma atitude crítica ao pensamento fundamentalista e racista".

Seligman acrescenta que, em Kértsz, literatura e política aparecem de modo indistinto mas não em detrimento da qualidade literária. "Sua obra nos faz, ao mesmo tempo, penetrar no que há de melhor na literatura do século 20 e no que de mais terrível aconteceu nesse período".

Imre Kértsz nasceu em Budapeste. Em 1944, aos 15 anos, foi deportado para Auschwitz, e libertado pelos aliados no ano seguinte, quando estava no campo de Buchenwald. "Sua obra é um retrato sóbrio, direto e sem emocionalismo da terrível realidade dos campos de concentração", resume Seligman.