Pesquisador desenvolve 
                            mistura com borracha natural
                          LUIZ 
                            SUGIMOTO 
                          
                             
                              |  | 
                             
                              | O pesquisador Pedro Carlos de Oliveira: tese de 
                                doutorado gerou outras duas na França | 
                          
                          Até a década de 1950 
                            o Brasil foi o maior produtor e exportador de borracha 
                            natural do mundo, mesmo porque a seringueira é 
                            originária da Amazônia. Problemas econômicos 
                            e fitossanitários na região, porém, 
                            impediram o desenvolvimento sustentável da 
                            atividade que era totalmente extrativista, e mudas 
                            da seringueira cruzaram o planeta para formar densas 
                            florestas na Ásia. Hoje, Tailândia, Malásia 
                            e Indonésia, que fizeram melhor uso desta fonte 
                            renovável, respondem por cerca de 75% das 5 
                            milhões de toneladas de borracha natural produzidas 
                            anualmente. 
                          
                          Um pouco abaixo no mapa mundi, a 
                            Austrália aproveitou a proximidade da fonte 
                            para desenvolver pesquisas de ponta com a borracha 
                            natural e outros polímeros, atrás de 
                            novas propriedades e aplicações. Os 
                            estudos envolvem dezenas de pesquisadores no Key Centre 
                            for Polymer Colloids, da Universidade de Sydney. À 
                            frente do centro está o professor Robert G. 
                            Gilbert, um cientista ousado que divide a evolução 
                            da técnica de polimerização em 
                            emulsão em três fases: a descoberta dos 
                            polímeros em emulsão, a exploração 
                            das propriedades desses polímeros, e a terceira 
                            compreendendo o nivelamento de conhecimentos e reformulações 
                            para a criação de novos materiais.
                            O brasileiro Pedro Carlos de Oliveira foi convidado 
                            a elaborar novos experimentos com a borracha natural 
                            nos laboratórios do Key Centre, ganhando bolsa, 
                            passagens e estadia. Em troca, os australianos detiveram 
                            a propriedade intelectual dos resultados. Já 
                            tinha feito mestrado na Unicamp e vinha preparando 
                            o doutorado quando recebi o convite para ir à 
                            Austrália, relembra Oliveira. Para sua 
                            tese, ele recebeu a orientação do próprio 
                            Robert Gilbert e, no Brasil, da professora Cecília 
                            Amélia de Carvalho Zavaglia, da Faculdade de 
                            Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, e do professor 
                            Amilton Martins dos Santos, da Faculdade de Engenharia 
                            Química de Lorena. 
                          
                          Pedro de Oliveira explica que todo 
                            polímero é uma macromolécula 
                            e apresenta a característica de de possuir 
                            uma dupla ligação na cadeia principal, 
                            o que lhe empresta a elasticidade: o material estica 
                            e, quando retirado o esforço, recupera as dimensões 
                            originais. No meu trabalho, a preocupação 
                            foi não alterar essa estrutura da borracha 
                            natural. Utilizamos um iniciador de reação 
                            que, segundo a literatura, preservaria a dupla ligação. 
                            Esse iniciador foi o responsável por criar 
                            na molécula um radical, ou seja, um ponto ou 
                            sítio de reação, desencadeando 
                            a modificação do material. Trata-se 
                            de uma enxertia, assim como se faz nas árvores, 
                            introduzindo uma molécula química na 
                            estrutura matriz da borracha natural, ilustra 
                            o pesquisador. 
                          
                          Primeiramente, Oliveira realizou 
                            uma modificação já conhecida, 
                            usando um monômero hidrofóbico, o metacrilato 
                            de metila, que torna a borracha mais resistente, com 
                            boas propriedades em termos de tensão e deformação. 
                            Depois, introduziu outro polímero, a partir 
                            de um monômero hidrofílico, o metacrilato 
                            de dimetilaminoetila, visando dar à borracha 
                            novas características físico-químicas, 
                            como a de se tornar compatível com outros polímeros. 
                            Viabilizamos a possibilidade de formulação 
                            de novos materiais a partir da borracha modificada, 
                            esclarece. 
                            
                            Aplicações  Modificada 
                            a borracha, suas propriedades precisam agora ser confirmadas. 
                            Minha tese de doutorado gerou duas outras, que 
                            estão sendo desenvolvidas por estudantes brasileiros, 
                            mas na França. Eles vêm testando a compatibilidade 
                            com outros materiais e avaliando que propriedades 
                            advirão desta mistura. Esses resultados serão 
                            então avaliados com o objetivo de formular 
                            blendas e indicar em que artefatos poderão 
                            ser utilizados, adianta o engenheiro químico. 
                            O Key Centre já solicitou a patente provisória 
                            desta borracha natural modificada.
                            Pedro de Oliveira vê grande possibilidade de 
                            aplicações principalmente na indústria 
                            de pneumáticos. Creio que a utilização 
                            dessa borracha modificada possa melhorar as propriedades 
                            dos componentes, a partir da mistura de materiais, 
                            emprestando mais resistência ao produto final, 
                            prevê. Ele soube, também, da utilização 
                            do látex que tornou a borracha hidrofílica 
                            em pesquisa sobre argamassas para a construção 
                            civil. Com pequena quantidade do látex 
                            de borracha modificada, conseguiu-se homogeneizar 
                            a mistura de cimento, areia e resíduos de pneus 
                            reciclados, sem fugir às normas impostas para 
                            a confecção de painéis de alvenaria, 
                            informa. 
                          Segredos  Pedro de 
                            Oliveira chegou a ser questionado sobre o porquê 
                            de não ter iniciado seu trabalho a partir da 
                            borracha sintética. Sua resposta foi de que 
                            o material sintético vem do petróleo, 
                            que vai acabar, enquanto o látex de borracha 
                            natural vem de fonte renovável. É 
                            lamentável que o Brasil, tendo sido o maior 
                            produtor do mundo, hoje responda por apenas 1% da 
                            extração mundial, tendo que importar 
                            60% do látex consumido internamente. Instituições 
                            com a Embrapa e o IAC estão tentando reverter 
                            essa situação, pesquisando clones de 
                            seringueiras que, ao contrário das originais, 
                            não sofram com variações de clima, 
                            ph do solo e temperaturas, mantendo as propriedades 
                            da borracha independentemente da região do 
                            país, afirma. 
                          
                          Segundo Oliveira, a modificação 
                            que obteve é parte ínfima das pesquisas 
                            com polímeros financiadas pelo Key Centre, 
                            que está muito à frente do Brasil e 
                            recebe pesquisadores do mundo inteiro para somar conhecimentos. 
                            Certa vez, intrigado com o repentino interesse de 
                            grandes indústrias em incorporar a sílica 
                            ao látex de borracha natural, dois materiais 
                            totalmente incompatíveis, o brasileiro fez 
                            uma experiência utilizando seu material modificado. 
                            Joguei um pouco de sílica na borracha, 
                            deixei meia hora em agitação e obtive 
                            uma mistura ótima, altamente homogênea. 
                            Esse material está sendo caracterizado e espero 
                            obter bons resultados, finaliza.