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Metodologia desenvolvida por pesquisadores
do IQ permite agregar valor ao produto

Técnica determina origem floral do mel

CARMO GALLO NETTO

O professor Fábio Augusto, orientador da tese: tempo necessário para a análise não é superior a uma hora e meia (Foto: Antoninho Perri)Não há consumidor que, ao comprar mel, não coloque em dúvida sua origem. É puro? Será mesmo de eucalipto ou de laranjeira, como garante o rótulo? Não são poucos, também, aqueles que só adquirem o produto de fornecedores de confiança. Estas indagações são pertinentes, pois “não existem metodologias que possibilitam identificação não-subjetiva, rápida e confiável da origem floral do mel”, garante Ana Claudia Lemes da Silva no resumo que consta da página inicial da sua tese de doutorado defendida no Instituto de Química (IQ) da Unicamp. O estudo foi orientado inicialmente pelo professor Antonio Luiz Pires Valente, falecido em 2002, e depois pelo professor Fabio Augusto.

Mel nacional é apreciado e não tem antibióticos

O problema poderá vir a ser solucionado se órgãos como o Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) referendarem a metodologia desenvolvida pela pesquisadora para a “Tipificação de méis brasileiros por microextração em fase sólida combinada com cromatografia gasosa”.

O professor Fábio Augusto revela que o trabalho passou a ser desenvolvido por sugestão de uma empresa incubada na Incubadora de Empresas de Bases Tecnológicas da Unicamp (Incamp) durante um workshop. A empresa, que trabalha com análises químicas e bioquímicas de méis, propôs algumas linhas de pesquisa que pudessem ter interesse com vistas a futuros convênios. Uma delas era o desenvolvimento de uma metodologia que permitisse caracterizar a origem floral do mel.

Fábio Augusto enfatiza a importância de a idéia ter partido de uma pequena empresa para o atendimento de centenas de pequenos produtores (o setor emprega cerca de 350 mil pessoas), porque se sabe que o mel tem valor agregado quando associado a uma florada, o que, entretanto, precisa ser certificado por uma metodologia reconhecida.

A determinação da origem botânica do mel tem grande importância econômica porque alguns tipos de méis são mais apreciados pelo consumidor. Ademais, o seu valor nutritivo depende da origem floral. Como a flora apícola brasileira é muito diversificada e varia de lugar para lugar, é imperioso conhecer a composição e a qualidade dos produtos oriundos de cada região para caracterizá-los e estabelecer padrões, fundamentais para a abertura de mercados internacionais.

Segundo o pesquisador, o mel brasileiro tem boa aceitação no mercado exterior porque não contém antibióticos, já que as abelhas melíferas brasileiras, acidentalmente cruzadas com abelhas africanas, tornaram-se resistentes e estão menos sujeitas a infecções comuns em outros paises.

Além disso, prossegue Fábio Augusto, o Brasil apresenta condições climáticas diversificadas, do que resulta produção de mel durante o ano todo, e uma ampla flora apícola que origina uma variedade de sabores e aromas exóticos, apreciados principalmente pelos europeus. Os méis de aroeira e de marmeleiro, exemplifica o pesquisador, além de outros, agregam valor muito grande ao produto.

Entretanto, observa o cientista, essa circunstância não tem sido aproveitada por falta de certificação de florada, o que leva os importadores europeus e americanos a utilizá-lo quase exclusivamente em misturas para correção de méis de qualidade inferior. “A falta de métodos certificados para a determinação de antibióticos em méis também tem gerado problemas, como o embargo europeu ao mel brasileiro, que fez reduzir a quantidade exportada, em 2005, de 21 para 14 toneladas”, revela o pesquisador.

O objetivo do trabalho foi então desenvolver uma metodologia que permita a identificação da origem floral de méis brasileiros a partir da caracterização química de sua fração volátil, responsável pelo aroma e pelo sabor, utilizando inicialmente a Microextração em Fase Sólida e, na seqüência, a Cromatografia Gasosa – Solid Phase Microextraction - Gas Chromatografhy (SPME-GC), que usa dispositivos e procedimentos relativamente pouco complexos, esclarece o professor Fabio Augusto.

O professor estima que o tempo necessário para a análise, da entrada da amostra no laboratório ao resultado, não seja superior a uma hora e meia. Fábio Augusto garante que o procedimento é simples e qualquer técnico treinado pode executá-lo em equipamentos rotineiramente disponíveis em laboratórios de análise.

No desenvolvimento da metodologia, foram avaliadas 90 amostras de méis brasileiros de 20 origens florais e variadas procedências geográficas, oriundas diretamente dos produtores e de fontes fidedignas e não-comerciais. As identificações das floradas foram atestadas pelos produtores e assumidas como verdadeiras.

Segundo o professor Fabio Augusto, cada um dos tipos de méis estudados apresenta perfis cromatográficos diferentes, mas os resultados obtidos mostraram que a metodologia empregada permite a separação e a identificação de compostos marcadores, assim chamados porque possibilitam a identificação da origem, permitindo a certificação desses produtos.

Em nove das 20 floradas, foi possível identificar marcadores e determinar as concentrações que possibilitam sinalizar suas origens. Ele dá exemplos: “O mel de laranjeira apresenta características-padrões tanto na composição do volátil como no perfil cromatográfico. Para a identificação de sua origem floral, os isômeros do aldeído lilálico, com o antranilato de metila, podem ser usados como marcadores. No mel de eucalipto o L-pinocarveol, o fencho e a pinocânfora mostram-se possíveis marcadores na maioria das amostras estudadas”.

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