| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Enquete | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 207 - 24 a 30 de Março de 2003
.. Leia nessa edição
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.. Previdência, mitos e fatos
.. Comentário
.. Falta mãe no país
.. Jurandir Pitsch
.. Painel da semana
.. Oportunidades
.. Previdência, o que pensa o
 Congresso?
.. O Congresso e a reforma
.. Brant prega novas regras
.. Vida da gente na telinha
.. Produção do conhecimento
.. Teses da semana
.. Unicamp clona genes
.. Unicamp na Imprensa
.. O canto da baleia
 

9

O dia em que a vida da gente
começou a passar na "telinha"

Mais revelações sobre o acervo do Ibope
doado ao Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp

LUIZ SUGIMOTO

A televisão foi trazida ao Brasil em 1950, por Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados - cadeia de jornais e emissoras de rádio. Ele trouxe não apenas a parafernália para pôr no ar a TV Tupi de São Paulo, em 18 de setembro, mas também os televisores: 300 aparelhos importados, vendidos em uma única loja. Exatamente um ano depois, e com oito meses de operação da emissora no Rio, o Ibope divulgava uma pesquisa justificando que "não podia ignorar o súbito desenvolvimento da televisão" nas duas capitais.

Sendo seu objeto de estudo o mercado, o Ibope via na televisão, mesmo naquela fase experimental, um veículo de propaganda que superava a todos os demais: "A televisão apela para a vista e para o ouvido, simultaneamente, permitindo mostrar detalhes mais complicados de um produto: o funcionamento de um motor, o processo de aplicação de um produto de beleza, a maneira de preparar um doce...", esclarecia.

Como veremos nesta página, em termos de comunicação, estavam enraizados na população fortes hábitos de leitura e o entretenimento era garantido no cinema e o rádio, sem esquecer os jogos de azar. Uma curiosidade é que mesmo as casas de meretrício tinham a aprovação velada da sociedade. Mudar tais hábitos era um poder que não se atribuía à televisão, ainda mais diante da precariedade dos equipamentos - geração inconstante de imagens e sons ruins - e da programação pobre.

"Não nos preocupamos com os bons ou maus resultados da televisão nos Estados Unidos, porque no Brasil tudo acontece de maneira diferente, falhando aqui até mesmo as leis econômicas", prosseguia o comentário, mas questionando: "Como reagiu o público diante da novidade? Há poder aquisitivo para compra de receptores em número comercialmente compensador? Há viabilidade para esse veículo recém-nascido? Quantos receptores de televisão possuímos?".

Pesquisa encomendada ao Ibope pela TV Tupi, em abril daquele ano, dizia que as casas especializadas do Rio de Janeiro estavam vendendo um total de 1.500 a 2.000 aparelhos por mês, a grande maioria no sistema de prestações. Calculava-se que em setembro a cidade tinha 14.000 receptores, incluindo de 7.000 a 8.000 aparelhos "importados com a bagagem".


O biquíni
(março de 1951)

(...) os maillots vêm sendo reduzidos em peso e em tamanho. Entendem os críticos que a franca exibição de formas e epidermes vem excluir, pela sociedade, o próprio interesse que a mulher deveria despertar no homem.

No mesmo grupo contrário de críticos estão aqueles que, simplesmente por preconceito, consideram imoral a exposição de peças anatômicas vivas.

(...) Veremos que nesta primeira metade do século, o maillot vem sendo gradualmente reduzido, de ano a ano, e parece revelar tendência inexorável para a nudez pura e simples, como a dos suecos e noruegueses.

Considera imoral ou não o "maillot bikini"?
É imoral 62.2%
Não é imoral 29.8%


Votos de incentivo ao cinema nacional
(dezembro de 1951)

O cinema nasceu francês, cresceu americano, mas agora já está procriando em todas as línguas. (...) A 2ª Guerra Mundial incrementou os cinemas nacionais. Prejudicada a produção americana, dificultada a distribuição, foi fácil o florescimento dos cinemas em vários países.

As películas brasileiras a princípio foram aceitas com reservas. Até o surgimento de um Cavalcanti na direção de uma película, das referências elogiosas da crítica estrangeira, dos prêmios internacionais como o concedido ao documentário "Santuário". Abrem novos horizontes.

Quantas vezes foi ao cinema na semana passada?
1 vez 17%

2 vezes

17.5%

3 vezes

7.8%

nenhuma

49.2%
Gosta de filmes nacionais?
Sim 72%
Não 23.5%
OBS: Esta aceitação do cinema nacional não representa, no entanto, um louvor incondicional a nossa produção. Quase que representa mais uma demonstração de patriotismo, um gesto de incentivo.

Já assistiu algum espetáculo de televisão?
Sim 48%

Não

50,8%
Assistiu em casa particular ou em exibição pública?
Particular 54%
Pública 52%
O que achou dos programas?
Gostaram 37.8%
Regular

12.6%

Não gostaram 27.3%


A nobre fachada das casas de meretrício
(junho de 1951)

A Delegacia de Costumes e Diversões, com base em dispositivos do Código Penal, resolveu levar a efeito, no Rio, o fechamento das casas de meretrício. A medida gerou alguns protestos, refletindo-se na imprensa, onde observadores e estudiosos expuseram seus pontos de vista.

Lembraram a promiscuidade nos lares, com a perseguição às serviçais, por parte dos jovens privados da regularidade do ato sexual, e mostraram ser mais aflitiva a situação dos pais pobres, que não podem manter "garçonnières" ou "nurses".

(...) Outros aspectos tratados: o recrudescimento dos atos de violência sexual, a prática do onanismo, a propagação da pederastia ativa e o aumento do desrespeito, da agressão às famílias que transitam nas ruas, como possível algoz da mocidade. Um observador dizia: "Os jovens pronunciam palavrões em voz alta, à passagem das senhoras, como se estivessem praticando a vingança. E o que é pior: vingança com quem não tem nenhuma culpa dessa formidável inabilidade social".

E note-se que as atuais condições da população, premida pela elevação constante do custo de vida, dificultando as uniões matrimoniais, não foram também esquecidas.

A Polícia fez bem ou mal em fechar as "casas de mulheres"
Contra 55.2%

A favor

27.1%

O bicho salvador
(junho de 1951)

(...) Eis que o popular "jogo do bicho" surgiu em 5º lugar [na pesquisa sobre preferências quanto a jogos de azar], seguindo-se uma ordem percentual decrescente. Quantos não terão escondido uma "fezinha" no bicho salvador das finanças abaladas, sob a capa do "jogo-diversão"?

Quem conhece a história relata que o jogo começou em 1892, com o "jogo das flores", do mexicano Manoel Ismael Zevada.

(...) Como seu "jogo das flores" não teve muito êxito, Zevada procurou o barão de Drumond, que criara o Jardim Zoológico em terrenos de sua propriedade, e que se achava em crise financeira após a Proclamação da República, pois se vira privado de uma subvenção de 10 contos anuais, dada pelo Imperador D. Pedro II.

(...) No recinto do zoológico, um quadro içado a um mastro, e ocultado por um tapavista, continha um bicho desenhado, que servia de orientação para o prêmio. À tarde, na presença de curiosos e jogadores, revelava-se o segredo.

Honradez, eis o lema do negócio que canalizou fortuna para os bolsos do barão e do mexicano.

Avançando no tempo por cerca de 1916, sabe-se que o senador Érico Coelho tentou legalizar o jogo. No projeto a argumentação era de que, se se podia apostar sob as patas de um só dos 25 bichos, o cavalo, era natural e coerente que se apostasse nos demais 24, visto que o cavalo não era mais nobre, nem mais útil ao homem do que, por exemplo, o cachorro, o burro, o touro, o carneiro, o porco, o galo, o peru e a vaca.

Quais são seus jogos prediletos?
Buraco 44.3
Turfe 36.6
Poker 35.3
Loteria 34
Bicho

32


Leitura de jornal e saudade do bonde
(outubro de 1951)

Muitos visitantes estrangeiros viajando pelo Brasil de antes da Guerra estranhavam a imensa quantidade de pessoas agarradas a livros ou jornais nos transportes coletivos ou nas bancas de vendas de cigarros e revistas, bem como nos elevadores. Dir-se-ia ter o Brasil um grau muito elevado de alfabetização e o povo interesse incomum por sua própria instrução.

Talvez a única coisa que houvesse então fosse uma vida mais sossegada, permitindo a estas pessoas a satisfação de suas curiosidades intelectuais.

Tudo mudou agora. O transporte preferido é o ônibus e não mais o pacato bonde cheio de "lugares sentados" e sem tanto "balanço". E o ritmo da vida é outro, acelerado, cheio de problemas. Deve-se ter as mãos vazias para se ter um apoio nos balaústres do bonde ou nos pingentes do ônibus.

Quantos jornais leu ontem?
1 jornal 30.2%

2 jornais

24.8%

3 jornais

12%

4 jornais

2.2%

nenhum

28.7%
Obs: 71,3% da população do Rio têm o hábito de leitura de jornais contra 28.7%. Ressalte-se que 63% da população pobre lêem jornais.
Leu algum nos últimps 3 meses?
Sim 35,6%
Não 61,3%

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