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A ciência de clonar orquídeas

Pesquisadora utiliza conhecimentos
da clonagem de plantas para disputar um difícil mercado

LUIZ SUGIMOTO

O tratamento meticuloso das mudas e Monique Segeren (abaixo), doutora pela Unicamp: "A clonagem é conhecida, a semi-automação é nosso diferencia"A bióloga Monique Inês Segeren, com mestrado e doutorado na Unicamp, faz parte daquele grupo de pesquisadores que utiliza os conhecimentos desenvolvidos em laboratório para lutar diretamente por uma fatia do mercado produtivo. Ela está nesta trincheira há 15 anos, com sua empresa ProClone, multiplicando mudas de flores geneticamente idênticas, em grande escala, para comercialização no Brasil e agora visando à exportação para Europa e Estados Unidos.

Na multiplicação clonal, também chamada de micropropagação in vitro, a produção de mudas é obtida a partir de partes da planta ou mesmo de um pequeno conjunto de células que, exatamente por serem poucas, permitem uma seleção que as livrem de contaminação por patógenos, sobretudo vírus. Sob condições ideais que só podem ser alcançadas em laboratório arejado e com uma equipe treinada, as células se multiplicam e podem ser subdivididas em qualquer quantidade. A qualidade, padronização e saúde das mudas asseguram sua viabilidade comercial.

"Nos últimos três anos tenho adotado como plantas principais a orquídea e a Zantedeschia, que é o copo-de-leite colorido, grande novidade do momento -- estamos trabalhando com cerca de 50 cores e formatos", afirma Monique. A pesquisadora explica que o mercado de flores quer novidades. "O laboratório precisa visualizar o que será consumido em 2004 ou 2005. Ao programarmos uma clonagem, devemos considerar que nosso cliente-produtor ainda vai trabalhar a muda por mais um ou dois anos na estufa, até que chegue à prateleira", acrescenta.

A clonagem de plantas é uma técnica surgida nos anos 1960. Segundo Monique Segeren, existem no país perto de cem laboratórios que fazem uso do método, mas de forma artesanal. "Nosso diferencial está na semi-automação, que incorporamos graças ao projeto Fapesp. O custo cai, a qualidade e a padronização melhoram", diz a bióloga. A fitosanidade é garantida pelo teste Elisa (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay), específico para cada vírus.

Os recursos do Pipe-Fapesp e do Rahe (Recursos Humanos em Áreas Estratégicas) do CNPq viabilizaram equipamentos, treinamento de pessoal (há intercâmbio com unidades públicas de pesquisa) e a ampliação do laboratório, onde uma nova sala permitirá elevar a produção de 400 mil mudas anuais para 2 milhões – os concorrentes ficam na média de 30 mil mudas. "O meu cliente-produtor já exporta suas flores, o que espero conseguir agora com minhas mudas in vitro, em decorrência do aumento da capacidade", prevê a pesquisadora.

Conflito - Filha de holandeses, Monique teve outro motivo para instalar sua empresa em Holambra, maior pólo de produção de flores do Brasil e detentora de 35% do mercado. "Ao redor do laboratório estão 160 grandes produtores que podem alugar um pedaço de estufa para cruzamentos e melhoramentos", observa. A bióloga tenta seguir a proposta da Fapesp de trabalhar também com laboratórios coligados, mas encontra dificuldades para formar uma rede que os fortaleça enquanto associados.

De qualquer forma, a empresa arrecada o suficiente para funcionar. Acaba de renovar um contrato de 155 mil mudas de Zantedeschias -- cada uma a R$ 0,55 --, cobrindo o pagamento de 15 profissionais e os custos fixos. O copo-de-leite responde por 60% do faturamento. Uma fonte suplementar de renda seria a comercialização dos potes esterilizados para cultivo das mudas. Surge, então, um conflito pessoal: "Mexo com a ciência, mas também estou disputando mercado. Há uma contradição, já que a ciência pede que se divulgue o conhecimento adquirido. Mas fornecer o pote plástico barato, ajudando na competitividade do concorrente, é algo que ainda estou avaliando", afirma Monique.

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