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Seqüenciamento genético permitirá identificação prévia de pacientes com resistência à medicação

Pesquisa identifica três
mutações genéticas em
pacientes com leucemia


CLAYTON LEVY



A pesquisadora Kátia Borgia Pagnano: “Estudo abre espaço para um combate mais eficiente à doença”Pesquisadores do Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro) da Unicamp acabam de registrar, pela primeira vez no Brasil, três mutações genéticas em pacientes com leucemia mielóide crônica, responsáveis pela resistência à droga mesilato de Imatinib, considerada atualmente como uma das principais armas contra a doença. Uma das mutações ainda não havia sido descrita na literatura. O resultado da pesquisa possibilitará identificar com antecedência, através de sequenciamento genético, os pacientes que poderão apresentar resistência ao medicamento, permitindo aos médicos adotar outras condutas terapêuticas.

Estudo feito pelo grupo foi premiado

O estudo foi um dos vencedores do 1º Prêmio de Oncologia Novartis-Saúde, na categoria Trabalhos Científicos, promovido pela empresa de capital suíço Novartis, que investe cerca de US$ 3 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos em 140 países. Intitulado Mutações de ponto do gene BCR/ABL em pacientes com leucemia mielóide crônica resistentes ao mesilato de imatinib (Glivec), o trabalho foi desenvolvido pelos pesquisadores Edson Ichihara, Natasha Busoli, Afonso C. Vigoritto, Márcia T. Delamain, Irene Lorand-Metze, Sara T. Saad, Cármino de Souza e Kátia B. B. Pagnano. O pró-reitor de Pesquisa, Fernando Ferreira Costa, também participou do trabalho. O resultado foi anunciado no final de abril, em São Paulo.

Segundo as estatísticas, a incidência da leucemia mielóide crônica no mundo varia de um a dois casos/ano a cada 100 mil habitantes. A doença, caracterizada pelo aumento dos glóbulos brancos, é causada pela presença do cromossomo Filadélfia (ou Ph1), resultante de uma translocação recíproca de material genético entre os cromossomos 9 e 22. Esta fusão origina o gene híbrido BCR/ABL, que codifica uma proteína citoplasmática de atividade tirosina quinase, responsável pelo surgimento da leucemia. O mesilato de Imatinib, conhecido comercialmente como Glivec, age como inibidor dessa proteína.

Mutações na proteína responsável pelo surgimento da doença são descritas na literatura como um dos mecanismos freqüentemente associados à resistência ao Imatinib por parte dos pacientes. Nos países desenvolvidos, vários grupos de pesquisadores já identificaram pelo menos 14 mutações diferentes nas células leucêmicas de pacientes que desenvolveram resistência ao Imatinib. No Brasil, porém, ainda não há publicações descrevendo as mutações mais freqüentes.

“Nosso estudo abre espaço para um combate mais eficiente à doença”, diz a pesquisadora Kátia Borgia Pagnano, que coordenou a pesquisa. Segundo ela, além da importância prognóstica, a detecção de novas mutações pode ser útil no desenvolvimento de novas terapêuticas para os casos resistentes e auxiliar no desenho de terapias com múltiplas drogas que previnam o surgimento de células resistentes.

O estudo envolveu cinco pacientes do Hemocentro com quadro avançado da doença. Entre eles, quatro apresentaram mutações que impedem a resposta do organismo ao Imatinib. Num dos pacientes não foi detectada nenhuma mutação, estando a resistência ao medicamento associada a outros fatores. Além de duas mutações já relatadas na literatura (F359V e E255K), a pesquisa também revelou uma outra ainda não registrada, classificada como E279K. “Sua importância clínica necessita de maiores estudos”, diz a pesquisadora. “O estudo está em andamento e atualmente estão sendo pesquisadas mutações também em pacientes que ainda não desenvolveram resistência à droga”, completa.

Os primeiros estudos com o Glivec começaram a ser feitos no exterior em 1998. Em alguns países, a droga já é adotada como medicamento de primeira linha no combate à leucemia mielóide crônica. Segundo Kátia, não se trata de uma quimioterapia convencional porque o medicamento foi desenvolvido para atacar apenas a proteína alterada. “É uma terapia dirigida que não afeta as células normais”, explica. No Brasil, os estudos começaram somente em 2002. No Hemocentro, até o final do ano passado, 48 pacientes vinham sendo tratados com Glivec. Desse total, 11 (22,9%) apresentaram resistência. Kátia destaca que a população tratada era constituída predominantemente (62% dos casos) por pacientes com doença em fase avançada na época do início do tratamento com imatinib.

Além do trabalho premiado, outras duas pesquisas do Hemocentro foram relacionadas entre os dez finalistas do 1º Prêmio de Oncologia Novartis Saúde Brasil. Um deles, assinado por Irene Lorand–Metze, Vanessa Aparecida Vieira e Kátia Borgia Barbosa Pagnano, investigou a “Análise do uso do Imatinib (STI-571) em pacientes com leucemia mielóide crônica”. O outro, produzido no Laboratório de Biologia Molecular e Genômica do Hemocentro, é de autoria dos pesquisadores Fernando Lopes Alberto, Fernando Costa e Tarcísio de Souza Peres. Ele enfatiza a “Avaliação do transcriptoma da leucemia mielóide crônica por Orestes (Open Reading Frame Expression Sequence Tags).

Os outros dois trabalhos premiados são: Clonagem gênica da t(1;5)(q23;q33) em doença mieloproliferativa associada à eosinofilia: envolvimento do PDGFRB e resposta a imatinib, desenvolvido por Elvira R. P. Velloso, Luiz Fernando Lopes e Ricardo C. T. Aguiar Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Hospital A.C. Camargo e Dana Faber Cancer Institute e Harvard Medical School São Paulo - SP/ Boston – EUA; e Efeito anti-tumoral do zoledronato nas células das doenças linfoproliferativas crônicas, apresentado pelos pesquisadores Raquel Ciuvalschi Maia e Déborah Vidal Vasconcellos Laboratório de Hematologia Celular e Molecular, Serviço de Hematologia do Hospital do Câncer I, Instituto Nacional de Câncer – INCa, no Rio de Janeiro.


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