| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Enquete | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 214 - 26 de maio a 1 de junho de 2003
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Especialistas apontam alternativas
para que seja implantado um sistema nacional de inovação


CT&I e os caminhos do círculo virtuoso

MANUEL ALVES FILHO


O Brasil ainda precisa superar diversas dificuldades para construir o seu sistema nacional de inovação, tais como estimular o investimento privado, promover uma maior interação entre as empresas e destas com os institutos de pesquisa e cuidar para que a legislação crie incentivos ao avanço científico e tecnológico. A avaliação foi feita pelo professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp e secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) no governo Fernando Henrique Cardoso, Carlos Américo Pacheco, durante o seminário Campinas Inova 2003, realizado no Centro de Convenções da Universidade, no último dia 15 de maio. O objetivo do evento, que debateu inúmeros aspectos relacionados ao tema, foi apresentar às comunidades acadêmica e empresarial alternativas para o desenvolvimento de CT&I e, conseqüentemente, dos indicadores econômicos e sociais do país.

De acordo com Pacheco, o Brasil necessita fomentar a cooperação entre os diversos atores envolvidos com a inovação tecnológica, de modo a estabelecer um ambiente mais propício ao seu avanço. Nos Estados Unidos, destacou o professor do IE, os royalties gerados pela chamada economia do conhecimento alcançaram a cifra de US$ 40 bilhões em 2002. Segundo ele, que coordenou a implantação da Agência de Inovação da Unicamp (Inovacamp), lançada durante o seminário, essa maior interação entre as empresas e entre os entes públicos e privados constitui apenas um aspecto do desafio a ser vencido.

Na opinião do docente da Unicamp, o esforço requer também a geração de estímulos diretos à inovação, como a regulamentação da minirreforma tributária, aprovada em dezembro do ano passado. Ela concede descontos no Imposto de Renda às empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. Ainda no segmento das iniciativas políticas, Pacheco relaciona três medidas consideradas por ele indispensáveis à expansão da CT&I: capitalizar a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência de fomento do MCT; tornar o orçamento de C&T impositivo na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e derrubar a desvinculação, na reforma tributária em discussão, dos 20% destinados aos Fundos Setoriais. "Sem essas medidas, ficaremos patinando no mesmo lugar", advertiu.

Luís NassifO jornalista Luís Nassif, da Folha de São Paulo, que também participou do Campinas Inova 2003, afirmou que o Brasil dispõe de pessoal e recursos, mas ainda não conseguiu disseminar o conceito de inovação entre a sociedade. Ele cobrou uma maior transparência por parte das pessoas e organismos ligados à C&TI, de modo a fazer com que as pesquisas gerem resultados objetivos. "É preciso levar a inovação às pequenas empresas, por exemplo. Uma saída é disponibilizar os estudos num banco de dados, com acesso facilitado a todos os interessados. Infelizmente, a ciência ainda é produto para poucos no país", criticou.

Ainda em tom "provocativo", como ele mesmo classificou, Nassif propôs a adoção de novos indicadores de avaliação para a produção científica nas universidades e centros de pesquisa. Ao seu ver, a publicação de artigos em revistas indexadas e a geração de patentes não são os únicos fatores a serem considerados. "O que legitima a pesquisa e o pesquisador é a exposição para a sociedade. A ciência precisa deixar a redoma. Inovação não é só o genoma. O desenvolvimento de uma embalagem pode garantir a competitividade de uma pequena empresa. Essa experiência tem que ser iniciada e multiplicada", defendeu.

Para o presidente da Finep, Sérgio Machado Rezende, o Brasil desenvolveu ao longo dos últimos 40 anos o maior e mais eficiente sistema de C&T da América Latina. Ele reconheceu, porém, que tal esforço ainda não foi suficiente para disseminar o conceito de inovação, principalmente entre as empresas. "Infelizmente, o setor privado investe muito pouco em pesquisa e desenvolvimento. O número de cientistas nas companhias brasileiras é reduzido", disse. Rezende acredita que falta "cultura de inovação" ao empresariado. "Além disso, também nos ressentimos de uma política estrutural nesse segmento e de uma maior integração entre universidade/empresa/governo".

O presidente da Finep considerou que o país não pode deixar de enfrentar o desafio de criar uma nova geração de empreendedores de tecnologia. Para isso, afirmou, é indispensável adotar medidas como a ampliação do número de incubadoras de empresas, gerar novos parques tecnológicos e atrair o capital de risco, entre outras. "Precisamos estimular as atividades que promovam a nossa capacidade de inovação. Não podemos continuar importando tecnologia, sob pena de nos tornarmos eternos dependentes".

A Finep, de acordo com Rezende, continuará "trabalhando decisivamente" para que o sistema de C&T promova o desenvolvimento econômico e social do país. "Estamos articulando com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e alguns ministérios a criação de uma nova linha de financiamento. Vamos arriscar muito mais em empresas de base tecnológica", prometeu. Para 2003, estimou, a agência contará com um orçamento executável de R$ 500 milhões. "Apenas nos três primeiros meses deste ano, nós já investimos R$ 182 milhões em 250 projetos de 150 instituições diferentes", assegurou.


"Assumimos todos os riscos"


Conhecimento e formar profissionais competentes, a universidade também tem assumido, com o passar dos anos, papel cada vez mais importante no esforço para o desenvolvimento da inovação tecnológica. Diversas instituições de ensino e pesquisa do mundo têm criado organismos de gestão nessa área, a exemplo da recém-criada Agência de Inovação da Unicamp (Inovacamp). Duas dessas experiências internacionais foram apresentadas no seminário Campinas Inova 2003.

De acordo com o diretor da Fundação de Inovação Tecnológica da Universidade de Toronto, o brasileiro Fábio Almeida, as instituições de ensino superior estão começando a deixar o conservadorismo de lado, para valorizar o empreendedorismo. Isso não significa, segundo ele, que tenham abdicado da sua função primordial, que é gerar saber. "Essas instituições entenderam apenas que comercializar um produto é uma forma de ampliar o impacto da pesquisa junto à sociedade", explicou.

Apesar de estar ligada à Universidade de Toronto, a fundação não funciona no campus e nem é controlada pela instituição. Conforme Almeida, o organismo tem competência tanto na área científica quanto na de negócio. Cerca de 25% dos lucros gerados por uma invenção são destinados à fundação, que reinveste esses recursos nas suas próprias atividades. "Na parceria que firmamos com o pesquisador, assumimos todos os riscos. Cuidamos do patenteamento, do licenciamento e até dos planos de marketing e de negócios. Também damos suporte jurídico e contábil", afirmou. Nos últimos anos, a fundação tem conduzido uma média de 180 projetos por ano. Segundo Almeida, apenas uma em cada dez idéias não é aceita para ser desenvolvida. "Atualmente, um em cada dez projetos tem potencial para gerar uma nova companhia", disse.

A Universidade de Jerusalém também conta com uma companhia cujo objetivo é transferir os resultados das pesquisas para o mercado, a Yissum. Conforme a sua diretora, Renée Bem-Israel, a agência trabalha no sistema de licenciamento. "À universidade cabe produzir conhecimento. À Yissum cabe selecionar os estudos com potencial econômico e dar a eles a proteção adequada", esclareceu. A companhia é mantida com os royalties gerados pelos produtos comercializados. O dinheiro é reinvestido em novos projetos. Somente em 2002, segundo Renée, a Yissum obteve um lucro de US$ 32 milhões.

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