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Pioneiros no desenvolvimento da fibra óptica, pesquisadores
da Unicamp aprimoram outra tecnologia revolucionária

Na ponta das pesquisas
com a fibra fotônica

LUIZ SUGIMOTO

O pesquisador Cristiano Monteiro de Barros Cordeiro segura carretel de fibra fotônica: controle sem precedentes do guiamento da luz (Foto: Antoninho Perri)A fibra óptica acaba de completar 30 anos no Brasil, período em que revolucionou as comunicações no país. Bem mais recentemente, no final da década de 1990, na Universidade de Bath, o pesquisador inglês Philip Russel e sua equipe propuseram e produziram uma fibra óptica que está causando outra revolução: a fibra micro-estruturada, também chamada de fibra de cristal fotônico ou simplesmente de fibra fotônica.

Busca de aplicações
já gerou 3 patentes

Esta fibra, que contém microfuros da ordem de um mícron (a milésima parte do milímetro), veio permitir um controle do guiamento da luz sem precedentes, gerando inúmeras e intensas pesquisas sobre suas possíveis aplicações, incluindo a sua utilização como sensor óptico. Os pesquisadores da Unicamp, que contribuíram decisivamente para a implantação da fibra óptica brasileira, também não perderiam o bonde da história da nova fibra.

O jovem pesquisador Cristiano Monteiro de Barros Cordeiro, do Laboratório de Fenômenos Ultra-rápidos do Instituto de Física Gleb Wataghin, circula nos centros mundiais de ponta que investigam a fibra fotônica. Foi introduzido neste círculo pelo próprio Philip Russel, seu supervisor no pós-doutorado na Universidade de Bath.

Ao voltar da Inglaterra em 2005, Cristiano Cordeiro pôde manter-se no novo campo de pesquisa dentro do laboratório do professor Carlos Henrique de Brito Cruz e tem colaborado com diversos pesquisadores do Instituto de Física e da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC).

Neste curto período de retorno ao Brasil, Cordeiro já participou do desenvolvimento de uma nova classe de fibras, juntamente com o doutorando Gustavo Wiederhecker e o professor Hugo Fragnito, do Grupo de Comunicações Ópticas. Este trabalho ganhou destaque na Nature Photonics, há poucos meses. Sim: foi o jovem pesquisador quem fabricou as primeiras fibras fotônicas brasileiras.

A busca de novas aplicações para a fibra micro-estruturada gerou três patentes pela Inova (Agência de Inovação Inova Unicamp), além de uma patente internacional em parceria com um grupo da Universidade de Sydney, na Austrália. Para mensurar a relevância dessas patentes é preciso entender ao menos as diferenças básicas entre a fibra óptica tradicional e a fibra fotônica.

Segundo Cristiano Cordeiro, em três décadas de desenvolvimento e com o interesse em produzir fibras ópticas capazes de transmitir o sinal por distâncias cada vez maiores, a sílica – material do qual elas são feitas – foi seguidamente melhorada e purificada. “Trata-se de um material com a melhor qualidade óptica possível e que praticamente alcançou a perfeição”.

O pesquisador explica que a fibra convencional é composta de dois tipos de vidros, um deles dopado, formando o núcleo por onde é guiada a luz. “O vidro da casca, com índice de refração menor, funciona como um batente que permite o confinamento da luz pelo núcleo, onde o índice de refração é maior. Já a fibra fotônica é feita de um único tipo de vidro, sendo que o ar dos microfuros serve para formar o batente de índices de refração”.

Ocorre que, enquanto a espessura da fibra convencional é de 125 mícrons, o seu núcleo, onde a luz está confinada, é de apenas 8 mícrons. Isto significa uma limitação quando a fibra é aplicada com fins de sensoriamento, pois o material analisado está distante do núcleo onde a luz é guiada. Na fibra fotônica, o material é inserido nos microfuros ao redor do núcleo, submetendo-se a grande interação com a luz.

Mas é a possibilidade de guiar a luz em qualquer ambiente, inclusive no ar e na água, que atrai tanto interesse pela fibra fotônica. “Se imaginarmos um tubo oco em ziguezague, e tentarmos fazer a luz guiar pelo núcleo de ar, ela vai escapar pelos lados, já que não é totalmente refletida de volta – efeito que chamamos de reflexão interna total. Já o cristal fotônico que forma a casca das novas fibras funciona como um espelho onde a luz bate e volta, sendo guiada com baixas perdas”, exemplifica Cordeiro.

1ª patente – A primeira patente obtida pelo pesquisador, juntamente com o doutor Enver Chillcce e o professor Luiz Carlos Barbosa, já tem dois anos e envolveu a fabricação de tubos de vidros especiais para a produção de fibras fotônicas.

“A sílica permite fazer uma fibra de quilômetros de comprimento e mesmo assim com perda muito baixa de luz, o que é fundamental para todo o campo das comunicações ópticas. Mas existem aplicações específicas onde a fibra pode ter poucos metros ou mesmo centímetros, importando mais as características especiais do seu material”, justifica Cristiano Cordeiro.

Produzir fibras destes vidros especiais é trabalho de artesão. Misturam-se os constituintes químicos de vidros, transformando-os em blocos que são processados para se chegar a tubos com alta qualidade. Os tubos, depois de esticados até 1 milímetro de diâmetro, são empilhados manualmente, formando-se a estrutura macroscópica da fibra planejada. Na torre de puxamento, todo este conjunto sai espremido em uma fibra com microfuros. Seu diâmetro total é de um fio de cabelo.

“Foi a maneira que encontramos de obter tubos e capilares de fibras a partir de vidros feitos no laboratório e que atendiam às nossas necessidades específicas. O leque de aplicações da fibra fotônica é semi-infinito, mas estávamos limitados ao material disponível no mercado. Não estamos mais”, assegura Cordeiro.

2ª patente – A fibra fotônica pode ser muito sensível ao ambiente externo, mas apresenta um problema quando se quer sensoriar, por exemplo, um líquido contendo bactérias ou um gás perigoso: a luz e o material analisado precisam entrar por um só lugar, a ponta da fibra. “Isto dificulta aplicações práticas, como no sensoriamento de grandes ambientes da indústria”.

A segunda patente refere-se à criação, em co-autoria com o professor Christiano Matos, da Universidade Mackenzie, de uma técnica para abrir microfuros na lateral da fibra, por onde é introduzido o material examinado, reservando as extremidades para entrada e saída da luz. “Para monitorar um ambiente com gás usando a fibra convencional, teríamos que afiná-la até 1 ou 2 mícrons de espessura, tornando-a extremamente frágil. Com alguns centímetros de comprimento, ela quebraria”.

Nesse ponto, Cristiano Cordeiro lembra uma propriedade inerente à fibra óptica em geral, que é a resistência a qualquer interferência eletromagnética e a possibilidade de realizar medidas à distância. “Tanto a fibra tradicional como a fotônica podem ser instaladas em ambientes extremamente hostis, seja para mediar a corrente numa rede de alta voltagem, seja para resistir à pressão e temperatura de um poço de petróleo”. Já temos aqui alguns trabalhos em colaboração com grupos da PUC-Rio.

O pesquisador informa que um processo semelhante a este, também visando acessar o interior da fibra micro-estruturada, resultou na patente em colaboração com o grupo do Optical Fiber Technology Center, da Austrália. “Creio que o trabalho é interessante o suficiente para que a Universidade de Sydney se dispusesse a pagar vários milhares de dólares pela patente internacional”.

3ª patente – A terceira patente obtida através da Inova, novamente em parceria com o professor Matos, é especialmente importante para a área de biologia, que geralmente se ocupa de líquidos em suas análises. Segundo Cordeiro, a fibra fotônica pode ser de núcleo líquido e oferecer grande comprimento de interação da luz com o meio analisado. “Um sensor tradicional faz a luz atravessar apenas centímetros do material, que geralmente precisa estar em grande volume”.

Recentemente, o pesquisador teve a curiosidade de enrolar 20 metros de fibra, que ficaram do tamanho de um palito de fósforo. Dobrado ao meio, este “palito” permitiria a interação da luz com o líquido no espaço de três centímetros. “Com as fibras micro-estruturadas, o volume necessário é da ordem do nanolitro (um bilionésimo de litro), vantagem preciosa se o meio analisado for, por exemplo, um material biológico de difícil processamento”.

A patente, no entanto, vai bem além desta introdução. Cristiano Cordeiro explica que, também em fibra de núcleo líquido, a onda pode viajar em velocidades e caminhos diferentes, no que se chama de dispersão modal, embaralhando a informação na outra ponta. “Procuramos produzir uma fibra monomodo, em que a luz segue apenas um caminho”.

A solução foi utilizar um segundo líquido na casca da fibra, controlando o guiamento do primeiro. Este líquido no centro da fibra pode conter uma bactéria que se queira medir ou um material líquido difícil de ser caracterizado com outras técnicas.

“Chegamos a uma fibra de núcleo e de casca líquidos. Até ano e meio atrás, era difícil colocar um líquido na extremidade diminuta da fibra fotônica. Agora colocamos outro líquido sem que se misture com o primeiro, abrindo ainda mais o leque de aplicações”, finaliza Cordeiro.

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