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Pesquisa avalia divulgação científica feita por revistas


RAQUEL DO CARMO SANTOS


A professora Hosana Salette Curtt Silva: interesses mercadológicos também têm peso (Foto: Divulgação)A professora Hosana Salette Curtt Silva, especialista em ensino de ciências há mais de dez anos, se surpreendeu ao realizar uma pesquisa para analisar as concepções de Ciência, Tecnologia & Sociedade (CTS) veiculadas em revistas brasileiras que divulgam ciência. Ao desbravar o mercado editorial para observar as idéias contidas em cada artigo, constatou que existe uma preocupação dos editores em inserir concepções de CTS que muitas vezes não estão presentes nem em livros didáticos utilizados em sala de aula, e que não estão inseridos no discurso pedagógico dos professores de Ciências.

Quando iniciou seu trabalho, tinha uma suspeita, baseada na literatura existente, de que os periódicos mantinham um discurso de sublimação da ciência, como se ela fosse a solução para todos os problemas da sociedade. O que a professora encontrou, porém, não corresponde a esse pensamento. “Nas revistas existem indicadores que fornecem uma visão mais ampla de C&T na tentativa de superar a visão empiricista”, analisa.

Autora analisou 199 artigos

Por outro lado, Hosana observou que as cinco revistas escolhidas embutem em seu conteúdo aspectos que indicam uma preocupação muito forte com o mercado de consumo e são marcadas pelo caráter empresarial. “Todas elas, de uma forma ou de outra, se preocupam com o caráter mercadológico e, por isso, transformam a notícia em espetáculo, em detrimento, muitas vezes, da informação propriamente dita”.

Pode-se observar estes aspectos em exemplos recentes como o caso da clonagem humana. “Percebemos que a forma de abordagem estava estritamente ligada aos interesses de venda do periódico”. Outro caso citado pela professora foi o episódio da regulamentação dos medicamentos genéricos. Embora um periódico cuidasse para informar detalhadamente o assunto, outro privilegiou as informações de custo e acesso. “Mas ao final, observa-se o mesmo interesse no mercado”.

Todas essas considerações constam do trabalho de mestrado “Artigos de Divulgação Científica e o Ensino de Ciências: Concepções de Ciência, Tecnologia, Sociedade”, orientado pelo professor Jorge Megid Neto. A dissertação foi apresentada, em setembro de 2003, na Faculdade de Educação.

Análise – Foram selecionados 393 artigos de cunho científico, publicados em 2001, e que abordavam temas como saúde, ambiente, astronomia, dentre outros. Mas para a análise foi considerada uma amostra de 199 artigos. A autora priorizou revistas encontradas facilmente em bancas de jornais e de linguagem acessível tanto para estudantes de ensino fundamental e médio, como para a população em geral.

A partir de 18 variáveis e cinco codificadores adaptados de uma metodologia desenvolvida para avaliação de livros didáticos, Hosana lançou mão de tabelas e métodos estatísticos para considerar a ideologia constante do conteúdo. Embora tenha adotado uma postura crítica em seu trabalho, a professora destaca a importância de se buscar a interação entre os discursos produzidos no âmbito escolar e os realizados e divulgados pela mídia. Por isso, na análise que chamou de fatorial de componentes, ela constatou a apresentação da C&T como atividade social, sujeita a mudanças estruturais, fatores econômicos, interesses políticos, implicações sociais e éticas, entre outros aspectos.

Também está presente nos artigos a necessidade de desvelar quem é ou quais são os atores nas produções científicas com o objetivo de transmitir uma idéia de eficácia e credibilidade ao discurso da divulgação. A observação de Hosana também permite afirmar que os artigos colocam o conhecimento científico e tecnológico não centrados em si mesmo, mas transcendendo a esfera social.

Formato padronizado – Ensinar sobre dinossauros, vulcões e astronomia pode encontrar nas revistas um aliado. Os temas aparecem de forma espontânea na sala de aula, na medida em que a linguagem, rica em analogias e metáforas, chama a atenção dos alunos. Essa é a opinião da especialista no assunto e professora em um Colégio de Aplicação, em Minas Gerais. “Percebemos que alguns artigos abordam assuntos que alteram a forma com que alguns conteúdos programáticos estão sendo tratados no currículo de Ciências”. Ela avalia, com isso, que as matérias de divulgação científica são veículos adequados para se trabalhar em sala de aula desde que o professor consiga perceber as concepções e ideologias que perpassam os artigos para tornar as noções de CTS bem difundidas.

O cruzamento dos artigos das diferentes revistas selecionadas, no entanto, indicou uma semelhança muito grande entre eles. “Muitas vezes, até parece que as matérias foram escritas pela mesma pessoa”, destaca. No geral, as revistas não apresentaram nenhum diferencial entre si.


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