| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição Especial 382 - 3 a 9 de dezembro de 2007
Leia nesta edição
Capa
Opinião: José Tadeu Jorge
Rede da elite acadêmica
Espectro do ranking
Berço da pesquisa
Celeiro de cérebros
Impacto social
O papel da universidade pública
A Unicamp de fora
Inovação internacional
Cidadãos de todas as latitudes
 


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Procura por inovadores faz da Unicamp importante celeiro de cérebros

CLAYTON LEVY

O pós-graduando Leonardo Fiorini faz experimento no LabPetro, laboratório do Centro de Estudos do Petróleo: Unicamp tornou-se referência no setor (Foto: Antônio Scarpinetti)A necessidade de fazer frente às novas demandas tecnológicas está levando um número cada vez maior de empresas a enxergar na Unicamp um importante celeiro de cérebros. Pesquisa recente mostra que dos 40 mil alunos que se graduaram na universidade até o ano passado, 88% estavam empregados e que, desses, 48,3% ocupam cargos de direção ou gerência em organizações públicas ou privadas. Seja em gigantes multinacionais como IBM e Motorola, ou em corporações nacionais com peso estratégico, como Petrobras e Embraer, é cada vez maior o número de ex-alunos disputados pelo mercado de trabalho.

“A formação na Unicamp foi determinante em minha carreira profissional”, diz o presidente da IBM para América Latina, Rogerio Oliveira, que se graduou em Ciências da Computação em 1971. “Na época tive outras ofertas de trabalho, mas como sonhava com um carreira técnica, decidi entrar para a empresa que era referência nessa área”, conta. “Naquele momento, não imaginava que minha trajetória poderia ter um curso tão diferente e que minha realização profissional estaria na linha de frente do negócio, no relacionamento com o cliente, como acabou acontecendo”, completa.

Foi no trabalho de campo, em vendas,  que Oliveira deparou com as grandes oportunidades e enfrentou os maiores desafios, até chegar à presidência da IBM Brasil, em 2002, e à posição número um da empresa na América Latina, em outubro de 2007. “Porém, é interessante como mesmo fora da carreira técnica, os princípios do profissionalismo, do respeito à diversidade e da excelência, que pontuaram a minha formação na Unicamp, me acompanham até hoje”, diz.

Para Oliveira, é justamente a rigidez nos princípios de excelência e profissionalismo que nivelam a Unicamp com muitas das melhores universidades do mundo. “E isso se nota pelo número significativo de profissionais formados pela instituição e que hoje exercem funções de liderança no país”, destaca. Outra característica importante apontada por Oliveira é a diversidade. “Ali, você encontra gente do Brasil todo e  de outros países, o que torna a convivência no campus muito enriquecedora”.

A visão de mercado mais abrangente também é sentida em setores estratégicos, como o de energia. “O principal diferencial apresentado por ex-alunos da Unicamp está na maneira como enxergam as relações com o mundo corporativo”, diz Mauro Becker, gerente da área de geoengenharia do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes). “Eles têm uma visão mais aberta”, destaca. Segundo ele, este é um dos principais motivos que levaram a empresa, líder mundial em tecnologia offshore, a estabelecer parcerias com a Unicamp no campo do ensino e pesquisa ao longo dos último vinte anos.

A primeira delas resultou num dos mais importantes núcleos brasileiros voltados à pesquisa de petróleo. O Centro de Estudos de Petróleo da Unicamp (Cepetro) nasceu em 1987, dando início a outras iniciativas que ajudariam a tornar a universidade uma referência no setor. Logo depois do Centro, foi implantado o curso de pós-graduação em Engenharia de Petróleo que levou à criação do Departamento de Engenharia do Petróleo (DEP) na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM).

“Tratava-se de uma visão inovadora”, observa o diretor do Cepetro, Saul Suslick. “O estímulo mútuo resultante da integração universidade-empresa alimentou projetos e gerou resultados tão positivos que a pesquisa em petróleo na Unicamp não parou mais de crescer”, completa. A Petrobrás, por sua vez, não parou mais de mandar engenheiros para os cursos de mestrado e doutorado na Universidade. “Ao retornarem, eles carregam o DNA da Unicamp, o que facilita a inserção do profissional no dia a dia”.

No caso específico da geoengenharia de reservatórios, a Unicamp, segundo Becker, formou uma geração inteira de profissionais, o que ajudou a empresa a se tornar líder mundial na exploração de petróleo em águas profundas. A parceria nessa área começou em 1990, com os cursos de pós-graduação no Instituto de Geociências e Faculdade de Engenharia Mecânica. “Em pouco tempo, os níveis de recuperação de diferentes reservatórios de petróleo apresentaram um considerável aumento”, observa. Até 1993, os cursos do IG e da FEM somavam 100 dissertações de mestrado apresentadas, e cinco anos depois esse número dobrou.

A parceria mais recente foi firmada em outubro de 2006, visando projetos de pesquisa e desenvolvimento. A Universidade atuará em 19 das 38 redes temáticas definidas pela companhia para incrementar sua atuação nos segmentos de petróleo, gás e energia. As 38 redes temáticas estabelecidas pela Petrobras desdobram-se em pelos menos 400 projetos. No total, a empresa, que no ano passado registrou lucro líquido de R$ 26 milhões, estará investindo nesses projetos cerca de R$ 1,5 bilhão até 2009.

Uma das maiores exportadoras nacionais, a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Embraer), quarta colocada no ranking mundial de fabricantes de aeronaves comerciais, também tem buscado na Unicamp boa parte dos profissionais que integram o seu quadro de 23 mil trabalhadores. A exemplo da Petrobrás, o vínculo entre as duas instituições também vem ocorrendo por meio de parcerias destinadas à formação de engenheiros e desenvolvimento de pesquisas na área aeroespacial.

Em outubro de 2002, por exemplo, a Unicamp passou a participar do Programa de Especialização em Engenharia (PEE), criado pela Embraer com o objetivo de formar pessoal qualificado para trabalhar nas várias etapas de construção de um avião. A parceria resultou no lançamento de um curso de extensão, com concessão de bolsa, na área de engenharia de software. O programa teve importância estratégica, já que as turmas formadas anualmente pelo ITA e pela Poli não vinham suprindo a necessidade da empresa, sobretudo após a inauguração de uma nova fábrica e uma pista de ensaio em vôo localizadas em Gavião Peixoto, cidade do interior paulista.

A empresa, que até o terceiro trimestre deste ano já havia registrado um lucro líquido de R$ 306 milhões, propôs o acordo com base no retrospecto de engenheiros formados pela Unicamp que se tornaram profissionais em suas linhas de produção. “A qualidade deles é um de nossos pontos de aferição”, disse à época o gerente do PEE, Sidney Lage Nogueira. “Outro aspecto é a grande capacidade de enfrentar problemas técnicos complicados e de natureza multidisciplinar”, completou.

O trabalho de ex-alunos formados pela Unicamp também desempenha importante papel nas empresas mesmo quando os profissionais não estão diretamente ligados a elas. No Instituto Eldorado, que desenvolve em Campinas projetos na área de tecnologia da informação para empresas como Motorola, IBM, Semp Toshiba e Magnetti Marelli, entre outras, 25% dos 450 funcionários saíram das salas de aula da universidade campineira.

Em muitos casos, o Instituto nem espera o futuro profissional concluir o curso. “Ainda em processo de graduação, já contratados, temos cerca de 7 %, e na condição de estagiários 25 % também vieram da Unicamp”, diz o gerente de Recursos Humanos, Paulo Ribeiro. Segundo ele, a maior parte vem dos cursos de Engenharia Elétrica, Engenharia de Computação, Ciência da Computação, Física, Estatística, Tecnologia da Informática e Economia. Uma vez inseridos no trabalho, os profissionais atuam no desenvolvimento de sistemas hardware, software, testes e cargos de gestão. “O principal diferencial é a qualidade da formação técnica”.

A sintonia com as demandas sociais e econômicas não é algo gratuito na história da Unicamp. Desde o lançamento da pedra fundamental, em 1966, seu idealizador e fundador, Zeferino Vaz, preocupou-se em dar esse viés à instituição. Designado reitor, uma de suas primeiras providências foi reunir-se com empresários da cidade. Com 350 mil habitantes, uma classe média vigorosa e um histórico de atração de empresas internacionais desde a década de 50, Campinas era, então, o principal pólo industrial e econômico do interior paulista.

A reunião, primeira de uma série, aconteceu no dia 13 de setembro de 1966 e foi convocada, a pedido de Zeferino, pela seção local da Federação das Indústrias do Estado. Nela, o reitor fez uma explanação do que seria a nova universidade, esboçou o perfil dos cursos e explicou de que modo se daria a aproximação com a indústria. Solicitou o uso das oficinas fabris para estágios e para o ensino prático de algumas disciplinas. No fim, pediu que os empresários formassem um grupo de trabalho e o ajudassem a preparar um anteprojeto para os cursos de Engenharia Elétrica, Mecânica e Química a partir da experiência de cada um e das necessidades da indústria. Os empresários saíram impressionados e dias depois voltaram com uma pauta de sugestões para a estrutura didática dos cursos.

Na percepção do reitor, era importante inserir a jovem Unicamp na comunidade local e a ação junto às pequenas e médias empresas industriais foi o caminho escolhido. Os cursos de planejamento econômico, por exemplo, eram a pemailto:kassab@reitoria.unicamp.brlde;es de Zeferino com o empresariado. Ele fazia questão de estar presente nas cerimônias de diplomação. Ao apertar a mão de cada formando, era como se desse um impulso à indústria brasileira.

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