| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição Especial 382 - 3 a 9 de dezembro de 2007
Leia nesta edição
Capa
Opinião: José Tadeu Jorge
Rede da elite acadêmica
Espectro do ranking
Berço da pesquisa
Celeiro de cérebros
Impacto social
O papel da universidade pública
A Unicamp de fora
Inovação internacional
Cidadãos de todas as latitudes
 


7

Formação e
empreendedorismo,
combustíveis do
círculo virtuoso

CLAYTON LEVY

Paulo Ribeiro, gerente de RH do Instituto Eldorado: “Diferencial é a qualidade da formação técnica” (Fotos: Antônio Scarpinetti)O fornecimento de quadros para o setor empresarial não se limita às gigantes de capital nacional e internacional. A própria formação do pólo tecnológico de Campinas, onde funcionam empresas e institutos de pesquisa voltados para tecnologia de ponta, está diretamente ligada à geração de mão-de-obra pela Unicamp. Boa parte das empresas de base tecnológica que se instalaram na cidade foi buscar nas salas de aula da instituição os profissionais de que precisavam para desenvolver seus produtos e serviços.

“Salta aos olhos a capacidade que os ex-alunos da Unicamp têm para se renovar e estar sempre aprendendo”, diz o empresário Cesar Gon, um dos proprietários da CI&T, especializada no desenvolvimento de softwares aplicados em tecnologias web. Segundo ele, 55% dos seus 460 funcionários vieram da Universidade. “Eles saem preparados não apenas para a aplicação de determinadas tecnologias, mas também para acompanharem a evolução destas tecnologias no mercado”, completa.

O próprio Gon, antes de tornar-se empresário, fez graduação e pós-graduação em Ciências da Computação na Unicamp. Ao concluir o mestrado, em 1995, optou pelo empreendedorismo. Aliás, o caminho seguido por ele foi o mesmo escolhido por centenas de ex-alunos, que decidiram transformar conhecimento científico em negócios bem-sucedidos. Nas últimas duas décadas, 146 empresas nasceram a partir das salas de aula da Universidade. Só o Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) gerou doze empresas nos últimos vinte anos.

Juntas, as chamadas “filhas da Unicamp” já respondem por um faturamento que beira a casa de R$ 1 bilhão por ano. A maior parte das empresas constituídas por ex-alunos é voltada para tecnologia da informação, um mercado que não pára de crescer e já movimenta anualmente cerca de R$ 20 bilhões. Há apenas 12 anos no mercado, a empresa de Gon, por exemplo, faturou nos últimos doze meses R$ 40 milhões, dos quais 25% vieram das exportações.

Natural de Amparo, no Circuito das Águas, Gon toca o negócio ao lado dos sócios Bruno Guiçardi e Fernando Matt, também ex-alunos da Unicamp. E se surpreende com a trajetória bem-sucedida à frente da Ci&T. “No começo tínhamos apenas nossos PCs em um quarto de fundos numa casa modesta”, conta. Hoje, a empresa ocupa um prédio de 1,2 mil metros quadrados no Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (CPqD), é equipada com recursos de última geração, mantém filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória, além de uma subsidiária nos Estados Unidos e um escritório na Inglaterra.

Rogério Oliveira, número um da IBM na América Latina: “Convivência no campus é enriquecedora”  (Fotos: Antônio Scarpinetti)O sucesso alcançado por ex-professores e ex-alunos reflete, de certa forma, o clima favorável ao empreendedorismo existente na Unicamp. Ao lado das atividades científicas, há um leque de programas extracurriculares que oferecem inúmeras opções aos estudantes que sonham com outros horizontes. Enquanto os estudantes com maior pendor para a pesquisa são atraídos para o programa iniciação científica mantidos pela Universidade, os jovens vocacionados para o empreendedorismo tendem a integrar-se à extensa malha de empresas juniores existente na instituição.

As juniores são organizações juridicamente autônomas, dirigidas por alunos sob supervisão docente, aptas a prestar consultoria, apoio técnico, realizar estudos e desenvolver projetos para empresas, entidades e em alguns casos para a própria Universidade. Sem fins lucrativos, o capital reunido com a execução de seus projetos é usado no pagamento de estagiários e na manutenção da própria empresa. Um requisito importante é que os projetos tenham a ver com as atividades curriculares do aluno. Durante o curso, os alunos têm a oportunidade de tomar contato com a realidade do mercado não apenas por meio de equipamentos, métodos e processos, mas também por intermédio dessas estruturas estudantis.

Na opinião de Cesar Gon, o conhecimento é a base do empreendedorismo. Reside aí, segundo ele, o fato de a Unicamp estar presente diretamente ou indiretamente em centenas de empreendimentos espalhados pelo país. “O conhecimento não pode ser algo estático. A base de conhecimento da Unicamp é muito sólida”. Segundo ele, este é o grande diferencial da formação oferecida pela Universidade. “Você sai da Universidade com fome de conhecimento. Isso é extremamente importante para o empreendedorismo e para a inovação”.

O empreendedorismo é algo levado tão a sério, que há um ano a Agência de Inovação da Unicamp (Inova) inaugurou a rede de relacionamentos “Unicamp Ventures”. Formada por ex-alunos e ex-professores que se tornaram empresários, a entidade inclui desde empresas com mais de 20 anos de atuação até pré-incubadas na Universidade. Uma das iniciativas foi formar um cadastro das empresas constituídas por ex-alunos e ex-professores. Por meio da lista é possível saber quantas estão estabelecidas, sua localização geográfica e o seu faturamento, informações tidas como fundamentais no ambiente da inovação. 

“A ‘Unicamp Ventures’ consiste num espaço de colaboração, por meio do qual fomenta-se a busca de conhecimento e a troca de informações sobre empreendedorismo. Todos têm uma base comum, que é a Unicamp. Isso gera confiança. E esse vínculo de confiança vai gerar negócios”, avalia César Gon, que coordenou a formação da entidade. Segundo ele, a principal missão foi reunir, num primeiro momento, interessados em participar da iniciativa. O próximo passo será desenvolver iniciativas para diferentes temas, entre os quais inovação, capital, acesso a agências de fomento, gestão, uso da Lei de Inovação e impostos.

O desenvolvimento de pesquisas voltadas para inovação tecnológica também está gerando impactos significativos no mercado produtivo. Só nos últimos três anos, a Inova levou a Unicamp a assinar mais de duas dezenas de contratos de licenciamento, que envolvem cerca de 40 patentes. Nesse momento, a Universidade, que lidera o ranking de patentes no meio acadêmico, está negociando o licenciamento de aproximadamente 60 tecnologias.

Lidar com patentes não é algo novo para a Unicamp. Desde 1984, quando protocolizou sua primeira patente, de uma tecnologia desenvolvida pelo pesquisador Aruy Marotta, do Instituto de Física, teve início o processo que faria da Universidade a instituição de ensino e pesquisa brasileira mais identificada com a cultura de inovação tecnológica. Somente a partir de 2003, porém, com a criação da Inova, é que a atividade deu um salto qualitativo, como resultado de uma estrutura montada para cuidar especificamente dessa questão.

Das 447 patentes requeridas ou concedidas pela Unicamp, considerando-se apenas as que ainda estão em vigor, cerca de 200 foram pedidas nos últimos três anos. Até o final da década, a Unicamp deverá entrar para o seleto clube mundial das universidades que alcançam a marca de US$ 10 milhões em royalties por ano. A meta pode ser ousada mas está longe de ser fantasiosa. Só com os licenciamentos de dois produtos, firmados em 2005, a expectativa é chegar aos US$ 6 milhões anuais.

O bom desempenho da Agência é atribuído a um conjunto de fatores internos e externos. O principal deles é a própria capacidade cientifica da Unicamp, onde atuam aproximadamente 1,8 mil professores doutores em dedicação exclusiva. Juntos, eles são responsáveis por 10% da pesquisa feita no país. Além disso, a cultura de inovação esteve presente desde a fundação da Universidade, em 1966. Esse contexto é ilustrado pelo fato de 11% dos professores serem autores de patentes.

Claro que os números ainda estão longe das marcas alcançadas por instituições internacionais de ponta, como o Massachusetts Instituto of Tecnology (MIT), nos EUA, que há mais de um século dedica-se a patentear os inventos de seus pesquisadores. Entretanto, levando-se em conta o fato de a Inova ter apenas três anos de existência, os resultados alcançados até agora não deixam de refletir um bom começo. Principalmente no contexto de um país que está apenas engatinhando quando o assunto é inovação tecnológica.

Voltar para página 6

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2007 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP