| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição Especial 382 - 3 a 9 de dezembro de 2007
Leia nesta edição
Capa
Opinião: José Tadeu Jorge
Rede da elite acadêmica
Espectro do ranking
Berço da pesquisa
Celeiro de cérebros
Impacto social
O papel da universidade pública
A Unicamp de fora
Inovação internacional
Cidadãos de todas as latitudes
 


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OPINIÃO

USP, Unicamp e o ranking das universidades

JOSÉ TADEU JORGE

JOSÉ TADEU JORGE: é reitor da Unicamp desde abril de 2005 e presidente dos Reitores das Universidades Estaduais (Cruesp). Este artigo foi publicado originalmente na Folha de São Paulo (Ilustração: Omaga)

A inclusão da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual de Campinas no ranking das 200 melhores instituições de ensino superior do mundo, conforme divulgado pelo The Times Higher Education Supplement no início de novembro, é fato que merece atenção e análise. Se não pela posição que ambas ocupam entre milhares de universidades espalhadas pelo mundo, já em si honrosa, seguramente pelo salto que deram desde o surgimento dessa avaliação comparativa, há quatro anos.

A USP, que, na lista anterior, aparecia em 284º lugar, surge neste ano no 175º posto, uma evolução de nada menos que 109 posições. Já a Unicamp saltou do 448º lugar para o 177º, um avanço tão notável a ponto de situá-la ao lado da Universidade de Dublin e à frente de instituições prestigiosas como as universidades de Leicester, Antuérpia, Canterbury, Oslo, Barcelona e Kobe. A Universidade Autônoma do México (192º colocada) é a única outra instituição latino-americana a constar do ranking. Para compor a lista, os organizadores ouviram 5.101 especialistas em todo o mundo, sobretudo acadêmicos, mas também empregadores e estudantes internacionais. E confrontaram publicações relevantes, visando detectar, no período, os textos científicos de maior impacto e influência.

É relevante saber quais qualidades levaram as instituições a figurar
num
círculo restrito de universidades de primeira linha

Não chega a ser novidade que os dez primeiros lugares sejam dominados por universidades norte-americanas e inglesas, com Harvard na ponta, e que, fora desse âmbito, apenas quatro instituições – uma canadense, uma australiana, uma japonesa e outra de Hong Kong – apareçam entre as 20 melhores. Outros rankings têm sistematicamente confirmado essa polarização. A primeira universidade européia não anglófona a aparecer é a École Normale Supérieure, da França, no 26º posto. A lista completa se fecha em torno de 28 países, círculo do qual surpreendentemente se excluem, ao menos nessa edição do ranking, sistemas universitários tradicionais como os de Rússia, Índia e Argentina.

Ponto importante a ser considerado, no contexto de levantamentos comparativos dessa natureza, é que, se na Europa a idade das universidades se conta por séculos, no Brasil, ela ainda se conta por décadas. Embora o país tenha instalado suas primeiras escolas superiores isoladas a partir de 1808, com a chegada da corte portuguesa, somente no século 20 passou a haver aqui universidades congruentes, integradoras e capazes de traduzir a “unidade na diversidade”.

As primeiras universidades norte-americanas, Harvard, Yale e Filadélfia, surgiram respectivamente em 1636, 1701 e 1755. Quando foi criada a antiga Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, já havia 78 universidades espalhadas pelos Estados Unidos e 20 pela América Latina, como as de São Domingos, fundada em 1538, São Marcos, no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), Cusco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). Em contrapartida, a USP, alma mater da universidade pública brasileira, surgiu apenas em 1934, e a Unicamp nem bem terminou de comemorar seu quadragésimo aniversário.

Por certo é relevante saber quais qualidades levaram as duas instituições brasileiras a figurar num círculo restrito de universidades de primeira linha. Os próprios critérios de avaliação dão pistas nesse sentido, bem como o processo de ausculta utilizado.

Pesaram fortemente na indicação, não há dúvida, a densidade de seus programas de pesquisa, a inserção internacional de seus pesquisadores, o impacto de seus “papers” no mundo científico, a capacidade de inovação e o cultivo de um modelo que faz da pesquisa e da extensão elementos qualificadores do ensino, com influxo na formação dos estudantes e na preparação de profissionais capazes de intervir nas frentes de desenvolvimento social, industrial, cultural etc.

Tem também seu significado o fato de que as duas instituições sejam de São Paulo, único Estado brasileiro em que as universidades públicas – USP, Unicamp e Unesp – contam com a prerrogativa da autonomia plena, inclusive de gestão financeira.

Gerindo a si mesmas desde 1989 graças à vinculação de seus orçamentos à arrecadação do ICMS estadual, essas universidades puderam refinar suas escolhas de prioridades, estabelecer metas e acelerar a qualificação acadêmica de docentes e de gerações sucessivas de alunos.

Os resultados não tardaram a aparecer, com reflexos em praticamente todos os indicadores, como demonstrado em diversas ocasiões. Era natural que, cedo ou tarde, fossem percebidos aqui e além, para estímulo não só da USP e da Unicamp, mas da universidade brasileira como um todo.

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