Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 239 - de 1º a 7 de dezembro de 2003
Leia nessa edição
Capa
Saudação ao mestre
Diário de Lisboa
Mouse para deficientes
Trauma ortopédico
Serviços à comunidade
Geográfos: a nova paisagem
Doutorado: fotoquímica
Pesquisa: árvores raras
Unicamp na Imprensa
Painel da semana
Oportunidades
Teses da semana
IFGW: nanomagnéticos
Municípios saudáveis
Impactos do splash
 

4

Alunos desenvolvem
mouse para deficientes
Equipamento concebido em duas versões tem uma série de vantagens em relação aos modelos disponíveis

MANUEL ALVES FILHO

Marcio Rogério Juliato, aluno do IC: três meses para desenvolver o mouse

Marcio Rogério Juliato, aluno do Instituto de Computação (IC) Unicamp, é um inventor por definição. Recentemente, ele e o colega Daniel Ferber desenvolveram o protótipo de um mouse destinado a pessoas que apresentam problemas motores. O equipamento, além de oferecer mais funcionalidades, também é mais fácil de operar do que os modelos disponíveis no mercado. O trabalho conquistou o primeiro prêmio de um concurso de projetos promovido pelo Centro Acadêmico Bernardo Sayão, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). Em 2002, o mesmo Marcio concebeu um sistema de leitura para deficientes visuais capaz de transformar um texto na tela do computador em linguagem braile, sem necessidade de impressão. No protótipo, leds compõem uma placa de leitura e cumprem a função das células braile de alto e baixo relevo. O dispositivo, que agora está sendo aperfeiçoado para permitir a leitura por meio do tato, conquistou o segundo lugar numa olimpíada universitária promovida por uma empresa do segmento eletrônico, da qual participaram cerca de 500 estudantes de todo o país, divididos em 114 equipes. Os dois inventos já estão sendo patenteados.

Marcio, que é aluno do 5º ano do curso de Engenharia de Computação, conta que o mouse destinado a pessoas com necessidades especiais levou três meses para ser desenvolvido. O equipamento foi concebido em duas versões. A mais simples é composta por um painel com seis botões. Acionados pela pressão da mão, quatro deles fazem com que o cursor se movimente para cima, para baixo, para a esquerda e para a direita. Os outros dois botões têm a função de “agarrar” e “soltar”, o que permite que o usuário arraste objetos (um ícone, por exemplo) de um ponto para o outro da tela. “Este modelo é indicado para pessoas com maior comprometimento motor ou para crianças nos estágios iniciais de aprendizagem”, afirma.

A outra versão, mais completa, é composta por 12 botões. Além de ter as mesmas funções da anterior, ela também permite que o usuário movimente o cursor nas diagonais, tanto para cima quanto para baixo. Dispõe, ainda, de dois comandos que reproduzem a função dos botões direito e esquerdo do mouse convencional. Marcio diz que o equipamento apresenta uma série de vantagens em comparação com os modelos comerciais. Primeiro, ele é robusto, suportando um nível razoável de impacto, além de apresentar uma boa proteção contra umidade. Outra característica é que o mouse especial pode ser conectado a qualquer computador, sem a necessidade de um software específico, ao contrário do que ocorre com os presentes no mercado. Ou seja, funciona com qualquer programa e com todos os sistemas operacionais.

Mas o principal diferencial da nova tecnologia, acredita Juliato, estará no custo final ao consumidor. Ele estima que, assim que começar a ser produzido em escala - já há entendimentos nesse sentido -, o equipamento completo poderá sair em torno de R$ 400, enquanto o mais simples, a R$ 300. “Atualmente, os modelos comerciais estão custando entre R$ 700 e R$ 1,2 mil. Além de não serem acessíveis às pessoas com necessidades especiais e nem às entidades que trabalham com elas, esses produtos não oferecem tantas funcionalidades”, explica. O estudante da Unicamp destaca ainda que um mouse convencional pode ser acoplado ao mouse especial, de modo que duas pessoas (aluno e professor, por exemplo), possam assumir o controle da operação, mas não ao mesmo tempo.

“Para que o comando seja passado do aluno para o professor, basta que este último aperte, simultaneamente, os botões direito e esquerdo do mouse convencional. Para a prioridade ser devolvida ao aluno, o procedimento é o mesmo. Isso facilita muito a interação entre ambos durante as aulas”, explica. Marcio revela que o equipamento é formado por uma estrutura mecânica onde estão dispostos os botões, um hardware que utiliza microcontroladores e softwares de controle. Conta também com um coletor de dados, que permite ao professor saber que botões o aluno mais aciona.
Ele esclarece que esse tipo de informação é importante no momento do educador analisar o comportamento dos alunos durante a utilização do sistema. “Como exemplo desse estudo pode-se citar o caso de uma menina que movimentava a tartaruga de um programa sempre para trás. Intrigado, o professor começou a investigar o motivo desse comportamento e acabou descobrindo que, ao ser carregada, a menina era colocada com a cabeça sobre os ombros dos pais. Ou seja, a perspectiva que ela tinha do mundo era sempre das pessoas e objetos se afastando”.

Marcio diz que espera ver sua invenção transformada em produto o mais breve possível. “O mais importante no momento é fazer com que as pessoas com necessidades especiais tenham acesso ao mouse, e com ele possam ter acesso à informação. Se eu estivesse preocupado com o retorno financeiro, certamente teria me dedicado a um outro tipo de projeto”, afirma. Segundo ele, o sistema de leitura para deficientes visuais deverá ser aperfeiçoado em breve. Por usar leds para reproduzir os caracteres da linguagem braile, o protótipo evidentemente ainda não pode ser usado pelo público a quem se destina.

O problema deve ser resolvido, conforme o jovem inventor, pelo uso de microestruturas ou por algum tipo de material polimérico, que se contrairia ou se estenderia, permitindo assim a formação dos relevos característicos do alfabeto Braille. Juliato afirma que pretende dar seqüência aos estudos, fazendo mestrado e doutorado. Sua intenção é seguir a carreira acadêmica. “Considero que esse deva ser meu caminho profissional”, diz, acrescentando que para desenvolver os projetos recebeu o apoio dos professores Rodolfo Jardim de Azevedo e Paulo Cesar Centoducatte, ambos do IC.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP