| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 311 - 5 a 18 de dezembro de 2005
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A ilusão da Lua


Marcelo Knobel

Lembro até hoje o espanto que me causou a explicação do meu professor de óptica, já no terceiro ano do curso de Física, sobre um fenômeno conhecido como a “ilusão da Lua”. Apesar de ter intrigado a humanidade durante séculos, até aquele momento eu não tinha parado para pensar por que a Lua fica tão grande quando está próxima do horizonte, e parece diminuir tanto quando se encontra alta no céu. De fato, todos nós já percebemos esse efeito, que na realidade é um belo exemplo de uma ilusão de óptica bem realista, pois a Lua não muda de tamanho dependendo da posição no céu. Ela é sempre do mesmo tamanho! E é fácil testar isso, pois basta realizar uma medida de seu diâmetro nas diferentes posições para verificar que a mudança de tamanho é simplesmente uma ilusão. Pode-se usar uma régua (posicionada em uma distância fixa dos olhos), uma moeda, um comprimido, ou mesmo um papel com um furinho, para rapidamente notar que o tamanho permanece sempre o mesmo. Fotografar a lua nas diferentes situações também é uma solução interessante para realizar o experimento. Li até que a ilusão desaparece se você olhar para a Lua entre as suas pernas, posicionando-se de cabeça para baixo. Não sei quem teve a idéia de fazer isso, e confesso que ainda não testei esse curioso método experimental...

O mais incrível é que ainda não há um consenso sobre uma explicação razoável para a “ilusão da Lua”. Que é uma ilusão já sabemos, mas as nossas limitações sobre o entendimento da percepção óptica e do funcionamento de nosso cérebro impedem que haja uma explicação completamente aceita pela comunidade científica para explicá-la. Uma idéia plausível e bem-aceita é a questão da referência de outros objetos. No horizonte geralmente temos outros objetos com os quais comparamos o tamanho da Lua, como árvores, casas, montanhas. Nessa perspectiva, a Lua adquire em nossas mentes um tamanho maior do que quando a observamos sozinha no céu, sem pontos de referência. Essa explicação tem relação com outra ilusão famosa, conhecida como Ilusão Ponzo. Entretanto, os relatos de percepção (que chegam a indicar que a Lua parece de 50 a 75% maior quando está no horizonte do que no zênite), e o fato de que a ilusão permanece mesmo em situações onde não há objetos de referência (como em alto mar, por exemplo), parecem indicar que devem existir outras causas para o fenômeno.

Mas o verdadeiro mistério é entender por que o cérebro nos engana desse jeito. Uma das explicações mais aceitas no momento é conhecida como “teoria da distância aparente”. Ao ter pontos de referência no horizonte a mente seria compelida a indicar que a Lua está muito distante. Entretanto, a imagem da lua no olho (os pontos de luz reais que incidem na retina) é do mesmo tamanho do que a imagem dela no zênite, sem referências para a distância. O nosso cérebro tentaria escapar então de um paradoxo: um mesmo objeto situado longe e perto não poderia produzir imagens do mesmo tamanho, e portanto inconscientemente imaginamos a Lua no horizonte como um objeto maior. Apesar de ser relativamente bem aceita, e com diversas comprovações práticas, há também nesta teoria algo muito estranho. Para nós a Lua na realidade parece mais próxima quando está no horizonte do que no alto do céu, e não ao contrário, como indicaria a teoria da distância aparente. Os psicólogos que estudam esses fenômenos sensoriais parecem ter uma explicação razoável para esse fato. Segundo eles, deve-se partir da premissa de que essa ilusão (assim como todas as demais) ocorre de modo inconsciente, e assim observamos uma lua enorme no horizonte. A especulação é que a seguir a nossa mente consciente assumiria o comando, associando o tamanho da Lua com a sua distância, ou seja, como a Lua parece enorme, ela deve estar muito próxima! Não se convenceu? Não se preocupe, não há realmente consenso sobre o assunto, e existem pelo menos oito teorias diferentes para tentar explicar de uma forma mais convincente essa incrível ilusão.

Sabemos que é uma ilusão, mas é tão forte que é difícil se convencer disso. De acordo com Jay Ingram, a “ilusão da Lua” é um argumento perfeito contra a acusação de que as explicações científicas removem o mistério da Natureza, que o universo é mais deslumbrante se não soubermos como ele funciona. Neste caso, o oposto é o verdadeiro! É fascinante saber que o tamanho da Lua no horizonte não passa de um mero artifício mental, e a verdadeira emoção é acompanhar a evolução das idéias, baseadas em observações e experimentos, que surgem para tentar explicar esse verdadeiro enigma.



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