| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 311 - 5 a 18 de dezembro de 2005
Leia nesta edição
Capa
Artigo
Cenapad
Transistor rende prêmio
Gestores voltam à sala de aula
Gestores usam a web
Anemina falciforme
Ciência e cotidiano
Jornalismo comunitário
Futebol
Painel da Semana
Teses
Portal Unicamp
Arma contra malária
Aleitamento materno
O canto que une
 

11

Pigmento extraído de bactéria mostra-se eficaz
no combate ao parasita que causa a doença

A mais nova arma
contra a malária

JEVERSON BARBIERI

O professor Fábio Trindade Costa, coordenador da pesquisa: surgimento de cepas de parasitas resistentes é o maior desafio (Foto: Antoninho Perri)Um pigmento violeta que possui ampla atividade antibiótica, e ação antimicobacteriana e antiviral, além de atuar como fungicida, é a mais nova arma no combate à doença tropical e parasitária que mais mata no mundo: a malária. Trata-se da violaceína, que é extraída da bactéria Chromobacterium violaceum, cuja descoberta no Brasil aconteceu em 1976, nas águas do Rio Negro, em Manaus (AM). O coordenador da pesquisa, professor Fábio Trindade Costa, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, explica que a pesquisa de iniciação científica da aluna Stefanie Costa Pinto Lopes comprovou, através de avaliação in vivo e in vitro uma intensa atividade antiplasmódica, fundamental no combate ao parasita da malária. “Essa descoberta, além de importante, é inédita. A Agência de Inovação da Unicamp (Inova) inclusive já depositou o pedido de patente”, afirmou Costa.

Inova já depositou pedido de patente

O principal problema no combate à malária, de acordo com o pesquisador, é o surgimento de cepas de parasitas resistentes às drogas usadas convencionalmente como a cloroquina, a mefloquina, o quinino e a sulfadoxina-pirimetamina. Prevendo a expansão dessa resistência é importante planejar novas formas de controle da malária. E a obtenção de novos compostos antimaláricos é parte importante dessa estratégia. Segundo Fábio, qualquer droga descoberta que possua atividade antiplasmodial é válida, mesmo que essa atividade não elimine 100% do parasita. O que se tem feito atualmente é combinar drogas com o objetivo de diminuir a capacidade do parasita de adquirir resistência. “O grande problema de um Plasmodium é a capacidade dele de se tornar resistente a uma droga”, disse ele. A cloroquina, por exemplo, foi amplamente usada no pós-guerra com resultados bastante eficientes. Porém, o uso do medicamento por longos períodos fez com que o parasita adquirisse resistência e, atualmente, esse tipo de tratamento é praticamente ineficaz.

Fábio ressalta que nenhum estudo in vivo foi realizado até hoje de maneira detalhada com a violaceína. Nas pesquisas do IB foram utilizadas várias linhagens de camundongos infectados principalmente com Plasmodium chabaudi, eficiente na reprodução dos sintomas e do ciclo assexuado da malária humana causada por P.falciparum. Os resultados, ainda mantidos em sigilo por conta do pedido de patente, apontam, de acordo com Fábio, para uma eficiente inibição do parasita. A aplicação da violaceína foi feita de forma intraperitoneal. Fábio explica que a aplicação endovenosa é até mais eficiente, porém, ele lembra que a violaceína apresenta certa toxicidade. “É preciso verificar até que ponto ela não destruirá as hemácias sadias. Esse é o próximo passo da pesquisa. Determinar como a violaceína pode ser utilizada sem causar reações adversas ao paciente”.

Outro fator destacado pelo pesquisador para o sucesso dos resultados iniciais é a composição multidisciplinar da equipe envolvida. A participação do professor Nélson Eduardo Duran Caballero e da professora Giselle Zenker Justo, ambos do Instituto de Química (IQ) da Unicamp é, segundo Costa, fundamental. “Eles são os responsáveis pela produção da violaceína”. A pesquisa é desenvolvida em colaboração com o Centro de Pesquisas em Doenças Tropicais (Cepem), localizado em Porto Velho (RO), com a participação do professor Paulo Afonso Nogueira. Juntamente com Stefanie e Fábio Costa, essa equipe é responsável pelo pedido de patente “Processo de Aplicação da Violaceína extraída da Chromobaterium violaceum como Antimalárico, nas formas livre e encapsulada em Sistemas Poliméricos Nano e Microparticulados”.

Números – Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a malária é a doença tropical e parasitária responsável pelo segundo maior número de óbitos ao redor do mundo, perdendo apenas para a Aids. Além disso, é considerada responsável pelos maiores problemas sociais e econômicos no mundo. Aproximadamente 40% da população mundial, cerca de 2,4 bilhões de pessoas, convivem com os riscos do contágio em mais de 90 países. O continente africano é o mais afetado pela doença, onde, anualmente, cerca de 300 milhões de pessoas são infectadas e aproximadamente 1 milhão morre em função da doença.

A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium e cada uma de suas espécies determina aspectos clínicos diferentes para a enfermidade. No caso brasileiro, destacam-se três espécies do parasita: o P. falciparum, o P. vivax e o P. malarie. O protozoário é transmitido ao homem pelo sangue, geralmente por mosquitos do gênero Anopheles ou, mais raramente, por outro tipo de meio que coloque o sangue de uma pessoa infectada em contato com o de outra sadia, como o compartilhamento de seringas (consumidores de drogas), transfusão de sangue ou até mesmo de mãe para feto, na gravidez. Apesar da malária poder infectar animais como aves e répteis, o tipo humano não ocorre em outras espécies (mesmo ainda sem comprovação, há a suspeita de que certos tipos de malária possam ser transmitidos, sempre via mosquito, de macacos para humanos).

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2005 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP