Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 311 - de 5 a 18 de dezembro de 2005
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Aplausos marcam primeiro dia de aulas presenciais do curso na Unicamp para 6 mil educadores

Gestores de escolas voltam à sala de aula




RAQUEL DO CARMO SANTOS



Participantes do Curso de Gestão da Unicamp durante aula no Ciclo Básico: satisfação e alegria pelo retorno ao ambiente universitário (Foto: Antoninho Perri)O sucesso do primeiro dia de aula presencial foi uma amostra de como deve transcorrer, nos próximos 12 meses, o curso de pós-graduação lato sensu em Gestão Educacional da Unicamp, dirigido a cerca de seis mil profissionais que atuam na rede estadual de Educação de São Paulo. Desse total, cerca de quatro mil educadores, entre diretores, supervisores e dirigentes, estiveram na Unicamp no último dia 26 – o restante deslocou-se para São Paulo. Além de alterar a rotina do campus da Unicamp em Barão Geraldo, as primeiras horas de aula presencial – das 180 previstas – contagiaram organizadores e participantes. Os coordenadores, que passaram os dias que antecederam a abertura às voltas com o esforço despendido no trabalho de logística e preparação das aulas presenciais, ficaram surpresos com a receptividade e o comprometimento dos inscritos. Já os participantes manifestaram satisfação e uma indisfarçável alegria pelo retorno ao ambiente universitário.

Universidade mobilizou trezentos professores

“Havia 25 anos que eu não pisava num campus universitário”, testemunhou Eloísa Aparecida Lopes Rodrigues, vice-diretora da E.E. José Egea, escola localizada no município de Guarantã, a 315 quilômetros de Campinas. Atuando há quase três décadas como professora e a apenas dois anos da aposentadoria, Eloísa vê no curso de formação uma oportunidade de usar a educação como ferramenta capaz de operar transformações na sua comunidade. “Teremos contato com novos parâmetros, cuja aplicabilidade abre perspectivas promissoras”, comemorou a professora.

Huguette Theodoro da Silva, da secretaria da Educação: repensando a cultura escolar (Foto: Antoninho Perri)Emblemático, o depoimento de Eloísa insere-se no escopo dos objetivos da Secretaria de Estado da Educação, cuja intenção é fornecer subsídios teóricos e metodológicos que contribuam com os gestores na reflexão sobre seu trabalho e, conseqüentemente, sobre o ensino público. Foram investidos R$ 10 milhões para a viabilização do projeto, que conta com a coordenação da Unicamp.

A Universidade mobilizou 300 professores, mestrandos e doutorandos para a empreitada, viabilizada depois que o Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), ligado à Reitoria, propôs à Faculdade de Educação (FE) que elaborasse um projeto. Uma vez finalizada, a proposta concretizou-se e ganhou seu formato atual após reuniões entre representantes da Unicamp e da Secretaria.

A vice-diretora Eloísa Lopes Rodrigues: "Teremos contato com novos parâmetros" (Foto: Antoninho Perri)Na opinião de Huguette Theodoro da Silva, assessora da Secretaria de Estado da Educação, o fato de a procura ter superado as expectativas iniciais – há fila de espera, apesar de as inscrições serem opcionais –, demonstra a disposição do profissional da Educação em querer aprimorar o ensino público. “É algo inédito. Trata-se de uma oportunidade ímpar para os diretores”, destaca. Segundo ela, o momento atual é caracterizado pelo aperfeiçoamento dos profissionais. “Tudo foi idealizado para que os gestores tenham condições de repensar a cultura escolar”.

A abertura oficial do curso, com carga horária de 390 horas – entre presenciais e a distância–, ocorreu on-line no dia 14 de outubro, com pronunciamento do secretário estadual da Educação, Gabriel Chalita. No dia 21 foi feito o envio, para as 89 diretorias de ensino do Estado, das videoaulas com o conteúdo inicial do programa. A maior parte do material do curso foi disponibilizada por meio do ambiente TelEduc, com monitores acompanhando diariamente o desenvolvimento das aulas. Por fim, foram publicados 3 livros, que foram distribuídos a todos os cursistas.


O professor Wenceslao Machado de Oliveira Júnior (à direita), coordenador-executivo: clima foi de alegria nas salas de aula  (Foto: Mani Maria Pereira)Aplauso – Pelas informações recebidas pelos coordenadores de diversos pontos de comunicação, 50% das aulas ministradas no dia 26 foram encerradas com aplausos. Uma manifestação “extremamente positiva” na avaliação do coordenador-executivo do curso, Wenceslao Machado de Oliveira Júnior, professor da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. “Os relatórios nos animaram muito. Tivemos a certeza de que estávamos no caminho certo”, comemorou o docente. “Percebi o clima de alegria dos envolvidos, tanto por parte dos professores como dos alunos diretores”, destacou Wenceslao.

O professor Fernando Arantes, coordenador-associado do Grupo Gestor de Projetos Educacionais, também fez uma avaliação positiva do início das aulas presenciais. Em sua opinião, o clima era de tranqüilidade nas salas de aulas que acomodaram os gestores da rede pública de ensino. “Pelo contingente de pessoas que havia para a entrega do material pedagógico, era de se esperar alguma intercorrência. Mas nada ocorreu de mais grave, afora uns problemas pontuais e corriqueiros”, avaliou. Foram destacados 120 monitores devidamente treinados para recepcionar os participantes. “A logística funcionou a contento”. Os gestores do interior do Estado foram instalados em 71 salas. No total, 15 faculdades e institutos cederam salas e infra-estrutura para recebê-los. Foram usadas também dependências do Ciclo Básico I e II. Em São Paulo, outros dois mil participantes tiveram aulas na sede da Unicamp, na localizada na Avenida Morumbi, e no Colégio Magister.

Ao chegarem aos locais do curso, os participantes receberam os três livros produzidos pelo corpo docente da Faculdade de Educação. “Um deles foi idealizado para ser trabalhado durante as aulas; os outros dois são publicações que estimulam uma reflexão mais aprofundada”, esclarece Wenceslao. Ao final das dez disciplinas que compõem o programa, os gestores serão orientados em um trabalho de conclusão.

DEPOIMENTOS
 (Foto: Antoninho Perri)

Izabel Cristina da Cruz Pizarro, supervisora de ensino da Secretaria Municipal de Educação de Monte Azul Paulista. Para Izabel, as crianças e adolescentes estão mais exigentes. Por isso, na sua opinião, é preciso inovar. Em Monte Azul, cidade com 20 mil habitantes, as duas escolas estaduais da cidade abrigam cerca de dois mil alunos. “O ensino público está passando por uma transformação e, creio, conseguiremos acompanhá-la. Houve uma fase complicada, mas os tempos mudaram. As expectativas são muitas. Queremos algo que auxilie o professor e o diretor no controle da disciplina dos alunos. Esperamos que o suporte seja nesse sentido, pois abriria a cabeça de muita gente. No geral, a idéia foi muito boa e a união com uma universidade respeitada, como é o caso da Unicamp, garante um peso maior ao projeto. Estamos felizes com o curso”.

(Foto: Antoninho Perri)

Valmir dos Santos, diretor da E.E. Itariri, em Itariri (DE de Miracatu). Diretor da escola central de Itariri, Valmir é também vereador, além de atuar no projeto da Escola da Família, aos sábados. Não reclama, no entanto, de ter mais uma tarefa no seu cotidiano, que é a de participar de um curso de especialização. Carregando na bagagem 25 anos na área de Educação, Valmir conhece de perto os problemas enfrentados na escola, e não tem dúvida em apontar a questão da disciplina como o principal desafio a ser vencido. “Alguns pais colocam os filhos na escola acreditando que tudo está resolvido em matéria de educação. Um dos problemas enfrentados por nós, educadores, é a dificuldade em fazer com que os jovens permaneçam na escola. Nossa região é pobre. Quanto ao curso, nota 10 para o governo. Fazia pelo menos uma década que eu não pisava na universidade”.

(Foto: Antoninho Perri)

Edilene Aparecida Simão Freitas, diretora da E.E. João Baptista Amaral Vasconcellos, em Capão Bonito. Diretora da maior escola da cidade em número de classes – são 46 salas –, Edilene já havia feito um curso a distancia, na USP, sobre violência doméstica. Entretanto, com grade curricular voltada para gestão educacional, é a primeira vez. “A expectativa é grande, pois sabemos que é uma contribuição para a melhoria na qualidade do relacionamento da convivência entre alunos e professores. O treinamento, enquanto desenvolvemos a tarefa, é importantíssimo. Por isso, apóio a iniciativa e acho que todos os educadores deveriam passar por este curso. Imagino que o programa propiciará uma administração mais eficaz; gestão é justamente isso – administrar, e administrar bem. Minha esperança é que o curso avance no conhecimento e traga um conteúdo diferente. Todo projeto com a chancela da Unicamp é sinônimo de credibilidade”.

(Foto: Antoninho Perri)

Vera Lúcia Puga e Vera Lúcia Belizário – assistentes técnico-pedagógico da Delegacia de Ensino de São Joaquim da Barra. Vera Puga acredita que o conteúdo do curso será muito importante para os diretores. “Não sabemos se estaremos na direção de escola no futuro. Precisamos, assim, nos atualizar. Vejo que o gestor é a peça-chave dentro de uma escola. É ele quem dita o caminho a ser percorrido, é ele quem abre ou fecha as portas para algo novo. Por isso, espero que os diretores respondam ao desafio. O seu papel define o rumo das coisas”. Já Vera Belizário acredita que muitos dos diretores efetivados não dimensionam a importância da gestão. “O curso dará o suporte necessário para a execução das tarefas. Quando você pára, não consegue acompanhar as transformações. Como supervisora, percebo que a escola recebe grande quantidade de material pedagógico, mas muitas vezes não temos condições físicas de usar tudo”