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Pesquisas experimentais in vitro mostram
resultados positivos no combate à vaso-oclusão

Estudo abre perspectivas para
tratamento de um dos sintomas
da anemia falciforme

PAULO CÉSAR NASCIMENTO

A doutoranda Andréia Averci Canalli: trabalho da pesquisadora é o primeiro a estudar a influência do nitroprussiato de sódio na vaso-oclusão (Foto: Antoninho Perri)Pesquisada conduzida no Hemocentro da Unicamp pela doutoranda Andréia Averci Canalli abre perspectivas promissoras de tratamento da vaso-oclusão, um dos graves sintomas da anemia falciforme. Em testes in vitro com o nitroprussiato de sódio – uma droga emissora de óxido nítrico, que possui propriedades vasodilatadoras –, o experimento da aluna mostrou resultados positivos na redução de níveis de adesão de neutrófilos (um dos glóbulos do sangue) aos componentes dos vasos sanguíneos, fenômeno responsável pela obstrução. Orientado pelo professor-doutor Fernando Ferreira Costa e co-orientado pela doutora Nicola Conran, o estudo foi considerado o melhor trabalho do Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia em novembro no Rio de Janeiro, entre 1.025 inscritos.

Estudo foi premiado em congresso no Rio de Janeiro

A adesão de componentes sanguíneos ao endotélio (camada celular que reveste interiormente os vasos sangüíneos e linfáticos) ocorre também em pessoas sem a doença, quando há processos inflamatórios que precisam ser combatidos pelo organismo. Nessas situações, os neutrófilos ou leucócitos (células do sistema imunológico que constituem os glóbulos brancos) são ativados e migram até o local da inflamação, auxiliados por moléculas adesivas (as integrinas) presentes na superfície celular.

A porcentagem de adesão in vitro nesses casos gira em torno de 12% e não causa a obstrução vascular que acomete os portadores da anemia falciforme. Nestes, o percentual de aderência chega a ser quase duas vezes maior, da ordem de 22%.

Indução – Andréia coletou amostras de sangue de pacientes com anemia e de pessoas sem a doença para comparar os níveis de adesão nos dois grupos. Em simulações realizadas no laboratório, ela reproduziu a aderência dos neutrófilos à fibronectina (componente do tecido dos vasos sanguíneos) e a uma proteína de adesão presente na célula endotelial chamada ICAM-1, primeiro de forma espontânea e depois por indução, com a aplicação do nitroprussiato de sódio. Sob influência do óxido nítrico, a adesão nos pacientes anêmicos, no primeiro caso, caiu de 20% para uma taxa similar ao normal de 13%. No segundo ensaio, a redução foi de 22% para 17%.

“As células endoteliais produzem biologicamente o óxido nítrico, gás solúvel que é um importante vasodilatador e mediador inflamatório que regula o tônus muscular. Porém esse mecanismo é deficiente nos pacientes com anemia falciforme. Com uma droga sintética análoga induzimos o processo e constatamos sua interferência positiva na diminuição dos níveis de adesão, graças aos efeitos vasodilatadores da substância”, explica Andréia.

Segundo Nicola, os benefícios da aplicação do óxido nítrico como droga potencialmente capaz de ajudar no tratamento dos sintomas da anemia falciforme vêm sendo pesquisados por hematologistas em todo o mundo. O trabalho de Andréia se insere nesses esforços internacionais e tem o mérito de ser o primeiro a estudar a influência do nitroprussiato de sódio na vaso-oclusão, como sua capacidade de inibir parcialmente a adesão elevada dos neutrófilos.

“É provável que um produto capaz de liberar óxido nítrico possa vir a ser utilizado com finalidades clínico-terapêuticas na redução dos efeitos vaso-oclusivos”, aposta a pesquisadora.

Hereditária, doença gera deformação das hemácias

Anemia falciforme é uma doença hereditária, que leva a uma deformação das hemácias (glóbulos vermelhos) em forma de foice.

Os glóbulos vermelhos são ricos em hemoglobina, molécula que dá a cor vermelha ao sangue e tem a função vital de transportar o oxigênio dos pulmões aos tecidos. Para poder passar facilmente por todos os vasos sangüíneos, mesmo os mais finos, as células são arredondadas e elásticas.

Porém na anemia falciforme, uma alteração genética na hemoglobina faz com que os glóbulos assumam a forma de uma meia lua ou foice, depois que o oxigênio é liberado. As células em foice tornam-se rígidas ou endurecidas e tendem a formar grupos que podem fechar os pequenos vasos sangüíneos, dificultando a circulação do sangue. Como há vasos sangüíneos em todas as partes do corpo, pode ocorrer lesão em qualquer órgão, como o cérebro, pulmões, rins e outros.

Essa condição é mais comum em indivíduos descendentes de africanos. Existem países na África em que os portadores assintomáticos são mais de 20% da população. No Brasil, representam cerca de 8% dos negros. Mas devido à intensa miscigenação historicamente ocorrida no País, pode ser observada também em pessoas de raça branca ou parda.

A detecção é feita através do exame eletroforese de hemoglobina ou exame de DNA. A gestação em casais portadores do traço falciforme (em que a hemoglobina é do tipo que predispõe à doença, ainda que o homem ou a mulher não a manifeste) apresenta um risco de 25% para o nascimento de uma criança portadora de anemia falciforme. É indicado, portanto, aconselhamento genético antes do planejamento de filhos.

O teste do pezinho, realizado gratuitamente antes do bebê receber alta da maternidade, proporciona a detecção precoce de hemoglobinopatias, como a anemia falciforme. 

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