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Edição nº 621

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 30 de março de 2015 a 12 de abril de 2015 – ANO 2015 – Nº 621

Estudo revela barreiras na
escola para crianças com autismo

Pesquisadora analisou trajetória de alunos com TEA, além de entrevistar integrantes de 18 famílias

Mariana Valente Teixeira da Silva, a autora da dissertação: ambiente escolar  precisa adequar-se à realidadeO autismo infantil, cunhado recentemente como Transtorno do Espectro Autista (TEA), engloba alterações na comunicação, na socialização e comportamentos restritos e repetitivos. A sua manifestação ocorre em geral antes dos três anos. Em idade escolar, são muitas as dificuldades para que o aluno consiga inserção em sala de aula e termine a sua escolarização.

Sobre esse tema, pesquisa de mestrado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) desenvolvida no município de Campinas sugeriu que o aluno com Transtorno do Espectro Autista está sendo introduzido na escola regular mas que ainda enfrenta muitos problemas, tanto para acompanhar a escola como para se adaptar à rotina, à questão da socialização com outras crianças e ao conteúdo.

Não obstante isso, 80% das crianças do município com este tipo de transtorno matriculadas no sistema de ensino estão hoje no ensino regular, um fato significativo segundo Mariana Valente Teixeira da Silva, autora da dissertação.

A pesquisadora vê longe, fruto de observação. Relata que as características desse transtorno têm influenciado todas as etapas da escolarização, inclusive do ponto de vista social, já que muitos jovens preferem se relacionar com objetos a manter relações interpessoais e outros tendem a buscar o isolamento.

Apesar dessas características influírem na adaptação à escola, é certo que o ambiente escolar precisa, com agilidade, se adequar à realidade para acolher melhor essas crianças e lhes proporcionar mais oportunidades de aprendizagem.

 

Trajetórias

A pesquisa de Mariana, orientada pela professora Adriana Lia Friszman de Laplane, procurou estudar a escolarização dos sujeitos com TEA no município de Campinas. Foi realizado um estudo descritivo que analisou os microdados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2009 a 2012.

O trabalho buscou identificar os alunos com Transtorno do Espectro Autista, bem como mapear as trajetórias de escolarização dos alunos com autismo, por consistir no grupo mais numeroso dentre os que compõem o TEA.

Na primeira fase da investigação, Mariana traçou as trajetórias escolares de todos os alunos com autismo matriculados no município de Campinas. Foram mais de 800 trajetórias.

As trajetórias escolares foram acompanhadas ano a ano por meio das matrículas. Nesta tarefa, a mestranda verificou em qual escola o aluno estava matriculado, em que série, se a escola era rural ou urbana e outras questões, entre elas se havia atendimento especializado oferecido ao aluno. Para tanto, foi utilizado o software estatístico SPSS.

Os mesmos dados foram empregados para todos os alunos com autismo de Campinas em todos os anos – de 2009 a 2012. A isso Mariana chamou de trajetórias escolares. A seguir, foram criadas categorias denominadas trajetória completa, incompleta, parcial e parcial com retenção.

Nas trajetórias completas, os alunos apareciam matriculados em todos os anos; nas incompletas, num só ano desse período; nas parciais, estiveram matriculados, saíram e voltaram; nas parciais com retenção ou completa com retenção, estiveram matriculados na escola porém sofreram algum tipo de retenção escolar: saíram, voltaram e continuaram no mesmo ano escolar. 

Conforme a estudiosa, na pesquisa predominaram as trajetórias incompletas e as parciais. As expectativas estavam voltadas para as trajetórias completas. “Esperávamos que os alunos estivessem matriculados em todos os anos do período avaliado. Não foi o que ocorreu: saíram e não voltaram mais ou saíram e voltaram, ficando nessa instabilidade”, revela.

Tem mais: a mestranda percebeu que, mesmo com essa instabilidade, ainda notou-se uma baixa retenção escolar, o que vem sendo encarado como algo positivo pela sociedade, por sentir que os alunos estão progredindo no sistema.

Mas, na verdade, os relatos de família e a análise dos dados mostraram que talvez esse processo esteja mais relacionado com a política de progressão continuada, que tem anos específicos para fazer a retenção. “Só que os alunos progridem e não são vistos em suas reais necessidades”, lamenta a autora.

Também nessa primeira fase, Mariana fez uma caracterização do transtorno no município – através de dados obtidos pelo software – que revelou um decréscimo de matrículas de alunos com TEA (de 893 alunos em 2009 para 519 em 2012), sendo que a maioria deles, que está matriculada no ensino regular, na etapa do ensino fundamental das redes estadual e municipal, refere-se ao sexo masculino e não recebe atendimento especializado.

 

Entrevista

Na segunda fase do trabalho, a pesquisadora entrevistou as famílias de 18 sujeitos, para avaliar suas percepções com relação à escolarização, “a fim de acrescentar esses dados aos quantitativos”.

Essa investigação foi efetuada entre 2013 e 2014 na Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas (Adacamp), instituição especializada que oferece cuidados na área de saúde e educação em contraturno escolar. A Adacamp também assiste a crianças mais velhas que participam de projetos de mercado de trabalho.

Mariana obteve uma amostra de cada faixa etária, para ter uma ideia ampla do processo de ensino. Foram cinco sujeitos com idade entre zero e cinco anos, oito sujeitos entre seis e 15 anos, e cinco sujeitos acima de 15 anos. Suas famílias foram entrevistadas.

Os principais relatos, conta ela, apontam para a contribuição positiva da escola, contudo indicam problemas como a permissividade da escola para com esses alunos, a influência do grau de comprometimento do transtorno, a repetência e as dificuldades ao longo do ensino médio.

Quanto aos obstáculos de cruzar a linha do ensino médio, eles simplesmente iam progredindo, embora com grandes limitações para seguir o conteúdo, que se tornava mais extenso, e a socialização, que se tornava mais complexa. Tantos foram os empecilhos que, dos cinco sujeitos acima de 15 anos, somente dois chegaram ao ensino médio.

Não houve avaliação no ensino superior porque nenhum aluno da Adacamp estava matriculado nesta etapa de ensino. “E os dois que concluíram o ensino médio se preparavam para tentar esse novo desafio”, explica a psicóloga.

No momento, Mariana atua como psicopedagoga na Sobrapar – Crânio e Face. Trabalha com crianças autistas e com outros transtornos do desenvolvimento, num grupo de intervenção comportamental infantil chamado Grupo Conduzir.

Ela afirma que, ao fazer aprimoramento no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre) “Prof. Dr. Gabriel O. S. Porto”, da Unicamp, teve o primeiro contato com crianças com autismo e começou a se interessar por elas. Além de atendê-las, contribuía com um grupo de orientação aos pais. Foi aí que percebeu o quão difícil era essa escolarização.

Desta forma, o seu estudo, além de colaborar para a educação em si, no sentido de investimentos em políticas para melhorar essa inserção das crianças na escola, contribui para a adaptação e o acolhimento dos alunos. “Também pretendíamos mostrar para a família que sua percepção é importante para essa escolarização. É um conjunto nesse processo: família, escola e outros profissionais”, frisa.

 

Publicação

Dissertação: “Trajetórias escolares de alunos com transtorno de espectro autista e expectativas educacionais das famílias”

Autora: Mariana Valente Teixeira da Silva

Orientadora: Adriana Lia Friszman de Laplane

Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Financiamento: Capes

Comentários

Comentário: 

aonde encontro a tese de dissertação na íntegra??

mauriciovazferreira@gmail.com