Edição nº 577

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 30 de setembro de 2013 a 06 de outubro de 2013 – ANO 2013 – Nº 577

Telescópio


Parasita faz rato perder medo do cheiro de gato

Um estudo publicado em 2000 indicava que ratos infectados pelo parasita Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose, perdiam o medo instintivo do cheiro de gato. A hipótese levantada, tanto no trabalho original e em outros subsequentes, foi a de que o parasita, que precisa ingressar no organismo do gato para completar seu ciclo de vida, de algum modo manipula o cérebro do rato, eliminando o medo e, assim, aumentando o risco de o roedor ser devorado por um felino.

Agora, um trabalho publicado em meados de setembro pelo periódico online de livre acesso PLoS ONE revela que, mesmo curado da infecção pelo toxoplasma, o rato mantém sua “coragem” excepcional, sem reagir de modo adverso à urina dos gatos.

De acordo com os autores do estudo, encabeçado por Wendy Ingram, da Universidade da Califórnia em Berkeley, esse resultado sugere que a infecção pelo parasita causa alterações de longo prazo, talvez permanentes, no cérebro do animal, e que essas mudanças ocorrem logo após a invasão. A mudança de comportamento do roedor não seria, portanto, um efeito direto de inflamação do cérebro, ou da mera presença dos cistos do toxoplasma.

 

Criado computador com nanotubos de carbono

Pesquisadores ligados à Universidade Stanford anunciaram, na edição de 26 de setembro da revista Nature, a construção de um computador funcional que utiliza nanotubos de carbono no lugar dos tradicionais chips de silício. Em comentário que acompanha o artigo sobre a nova tecnologia, o pesquisador alemão Franz Kreupl, da Universidade de Munique, diz que a máquina do grupo de Stanford ainda não é capaz de competir com os computadores atuais, mas que não faria feio algumas décadas atrás.

Kreupl acrescenta que é provável que as limitações técnicas à ampliação do modelo de Stanford possam ser superadas em breve, e que talvez logo estejamos digitando em máquinas baseadas em carbono, em vez de silício. Sistemas baseados em nanotubos são potencialmente mais eficientes, em termos de consumo de energia, que os feitos de silício, mas imperfeições surgidas na produção desses tubos vinham bloqueando o avanço da tecnologia.

 

Guerras fomentam criação de sistemas sociais, aponta simulação

Pesquisadores dos EUA e Reino Unido criaram uma simulação de computador para testar a idéia de que a competição intensa entre grupos humanos, principalmente por meio da guerra, foi um fator fundamental para o desenvolvimento de grandes Estados e sistemas sociais ao longo da história. O modelo foi construído com base em características físicas do Velho Mundo, entre 1500 aC e 1500 dC. Sobre essa paisagem virtual foram espalhados robôs de software, ou “células”, dotados de um “genoma cultural” composto por leis e instituições.

De acordo com os autores, na presença de difusão de tecnologia militar entre as células e de guerra entre diferentes grupos, o modelo foi capaz de recriar a ascensão dos primeiros grandes impérios da história – China, Egito, Mesopotâmia. No geral, o modelo deu conta de 65% dos dados históricos reais. Um modelo alternativo, sem a possibilidade de difusão de tecnologia militar, só correspondeu a 16% dos dados históricos. Na simulação, os “genomas culturais” difundiam-se de célula conquistadora para célula conquistada, num reflexo da assimilação do povo dominado.

“A probabilidade dessas substituições aumenta com o número de características de tecnologia militar”, diz o artigo que descreve o experimento. “O núcleo conceitual do modelo envolve a seguinte cadeia de causas: disseminação de tecnologias militares, intensificação das guerras, evolução de características ultrassociais, surgimento de sociedades de larga escala”.

Características “ultrassociais”, na terminologia adotada pelos autores, são normas e instituições que permitem que seres humanos cooperem com pessoas de fora da própria família. O surgimento dessas normas dentro de um grupo, de acordo com a simulação, é estimulado pelo conflito com grupos de fora. O trabalho foi publicado no periódico PNAS.

 

Extinção rápida atinge mamíferos em ilhas de floresta na Tailândia

A redução de extensos trechos de floresta a ilhas de vegetação nativa, separadas umas das outras por ambientes modificados pela atividade humana, é um problema ecológico reconhecido há tempos e pesquisado em várias partes do mundo, inclusive na Amazônia brasileira, onde já foram realizados vários estudos importantes sobre o assunto, que serviram de modelo para pesquisas internacionais. 

Na edição de 27 de setembro da revista Science, uma equipe de cientistas de diversos países, incluindo Cingapura, China e Austrália, publica artigo constatando a extinção, ao longo de 25 anos, de praticamente todas as espécies de pequenos mamíferos nativas das ilhas de floresta deixadas pela construção do reservatório de água de Chiew Larn, na Tailândia. Os autores estimam uma “meia-vida” – o tempo necessário para que metade das espécies residentes desapareça – de 13,9 anos, nessas ilhas.

“Essas extinções catastróficas provavelmente foram causadas, em parte, por uma espécie invasora de rato”, escrevem. “Essas invasões bióticas são cada vez mais comuns em paisagens modificadas por seres humanos”. O trabalho conclui que pequenos fragmentos de floresta “podem ser ainda mais vulneráveis à perda de biodiversidade do que se imaginava”.

 

Catálogo reúne mais de 300.000 galáxias

Graças à colaboração de mais de 83 mil voluntários de várias partes do mundo, a equipe do programa online Galaxy Zoo 2 publicou, no início da semana passada, um catálogo com informações sobre mais de 300 mil galáxias. Como explicam os pesquisadores responsáveis por organizar o esforço, da Universidade de Minnesota, computadores são capazes de classificar várias características de galáxias, como tamanho e cor, mas propriedades mais complexas, como estrutura, requerem um olhar humano.

Entre fevereiro de 2009 e abril de 2010, o Galaxy Zoo 2 mobilizou dezenas de milhares de voluntários que, via internet, classificaram imagens de galáxias reunidas pelo programa Sloan Digital Sky Survey, que de 2000 a 2008 produziu fotografias do céu contendo mais de 930 mil galáxias. 

Das galáxias usadas no Galaxy Zoo 2, cada uma foi classificada mais de 40 vezes, para eliminar erros. Um artigo descrevendo o esforço foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

 

Sonda gravitacional europeia vai cair na Terra em novembro

O satélite GOCE, da Agência Espacial Europeia (ESA), ficará sem combustível em meados de outubro, quando começará a cair de uma altitude de 224 km. De acordo com nota da ESA, a reentrada na atmosfera deve acontecer cerca de três semanas após o fim do combustível. A maior parte da sonda deve se desintegrar no atrito com a atmosfera terrestre, mas fragmentos do GOCE poderão chegar à superfície.

Lançado em 2009, o GOCE mapeou as variações da gravidade na superfície do planeta com um grau de precisão até então inédito. A ESA informa que terá mais informações sobre os pontos de impacto dos fragmentos do satélite mais perto da data da reentrada, e avisará quem for necessário. A agência lembra, no entanto, que a maior parte da superfície da Terra é coberta pelos oceanos. Somando essa área à das regiões de deserto ou pouco povoadas, o risco de danos ou ferimentos causados pela queda torna-se muito baixo.

 

Mozilla lança projeto para revisar software de cientistas

Cientistas cada vez mais criam programas de computador como parte de seu trabalho de pesquisa – para analisar dados ou testar modelos, por exemplo. Mas, como nota o blog Nature News, da revista Nature, a maioria dos pesquisadores nunca recebeu treinamento em boas práticas de programação, o que pode levar a problemas – de resultados errôneos ou impossíveis de reproduzir à dificuldade de detectar casos de fraude pura e simples.

De acordo com o blog da Nature, o Mozilla Science Lab, ligado à organização Mozilla – um grupo sem fins lucrativos, mais conhecido por manter o browser Firefox – resolveu fazer uma revisão do software produzido para uma série de artigos de biologia computacional, área que aplica modelos matemáticos e técnicas de simulação virtual ao estudo da biologia e do comportamento. Os trabalhos sob análise saíram no periódico PLoS Computational Biology.

O laboratório Mozilla está aplicando ao código criado pelos cientistas o mesmo processo de revisão adotado pelas empresas produtoras de software comercial para testar seus produtos, antes do lançamento no mercado. Um dos resultados possíveis do experimento seria a constatação de que pode valer a pena pagar por revisores de código de computador para artigos científicos, como já são contratados, em alguns casos, revisores estatísticos. Há quem tema, no entanto, que a abertura à crítica leve alguns cientistas a buscar esconder seus códigos.