Edição nº 565

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 17 de junho de 2013 a 23 de junho de 2013 – ANO 2013 – Nº 565

Restaurar para preservar (e usufruir)

Projeto de funcionária da DGRH deixa novo mobiliário normalmente descartado

O espaço escolar pode se tornar visualmente mais alegre sem dispêndio significante. Uma mesa diante da qual o pequeno usuário sequer consegue alcançar folhas de papel e aquarela pode ter os pés cortados, a madeira restaurada, pintada e apoiar as primeiras obras de arte ou as primeiras letras. Nesta história, a mesa foi captada em um lugar chamado Seção de Bens Disponíveis da DGA. Se alguém está à espera da aprovação de projetos dispendiosos e precisa preservar o dinheiro público, que tal fazer uma visita a este setor e conhecer o projeto de restauração da enfermeira e atualmente assessora da Coordenadoria da Diretoria de Recursos Humanos Valéria Fernandes Ferreira Bonfim?

Ao contemplar seus pequenos alunos sendo educados com um mobiliário a se deteriorar, Valéria, na época diretora da “escola”, inquietou-se e, movida por aspectos educacionais, procurou restauradores, analisou a diferença orçamentária entre comprar e restaurar e transformou bens rejeitados por outras unidades da Universidade em bens úteis até hoje para os filhos de funcionários frequentadores da creche.

Até o momento, Valéria restaurou 182 peças encontradas ou a caminho do setor de Bens Disponíveis. Habituada a ver algumas pessoas da família reaproveitando recursos, desde batentes e portas até jogo de sofás, Valéria não consegue entender por que as pessoas ou empresas esperam a hora de poder realizar o famoso “troca tudo”, sendo que muitas vezes a solução está à mão. “Tenho uma tia de mais de 90 anos que adora juntar material e um irmão que tem uma chácara cheia de material de demolição. Meu pai também sempre procurou restaurar a comprar novo”, declara.

 

A mesma sensação experimentada na creche ela teve ao chegar à Diretoria Geral de Recursos Humanos da Unicamp, em 2009, para trabalhar na Divisão de Educação Infantil e Complementar (Dedic). Tudo o que seis pessoas tinham para começar a trabalhar naquele espaço da DGRH, eram duas mesas e duas cadeiras. Diante da preocupação das colegas em obter mobiliário, sugeriu a busca de móveis no setor de Bens Disponíveis. Logo, com o trabalho de um bom restaurador, tinham o mobiliário mais novo e diferente em cores e formas. “Cadeiras com aquele couro verde e rasgado ganharam uma estampa moderna e inusitada.”

A sala com cara de nova logo chamou a atenção de outras áreas da DGRH, e os pedidos se apressaram e se agigantaram. Valéria confessa ter se sentido triste e incomodada durante seus primeiros dias no espaço físico da DGRH, pela imagem e pelas condições do ambiente. A conversa com a então Coordenadoria foi inevitável, mas não sem ter em mãos uma proposta de restauração, que trazia em seu bojo a sensibilização para um espaço sustentável.

Nada muito oneroso que obrigasse a troca de todas as peças ali existentes, já que trazia na bagagem a experiência de visualizar as potencialidades de um bom móvel, que necessitasse apenas de um restauro e não de um descarte. A conversa com a Coordenadoria teve respostas positivas e hoje a área de recursos humanos tem um ambiente repaginado.

Aos poucos, estofamentos rasgados e sem espaldar deixam de passar uma mensagem negativa para as pessoas recepcionadas. Estavam, na verdade, à espera de uma oportunidade de trocar tudo, mas isso demandaria tempo e recursos financeiros, na opinião de Valéria. Hoje, os olhos até brilham ao contemplar as salas e as recepções mais aconchegantes.

A mesa de pinho de riga e peroba (madeiras em extinção), vinda de Portugal, teria outro destino não fosse o senhor José Moreira (funcionário aposentado da extinta marcenaria da Unicamp) tê-la apresentado a Valéria, que decidiu encaminhar para restauração e coloração com tinta automotiva azul-claro. A peça era utilizada como apoio na referida marcenaria. “Achei muito bonita, e o foco dele estava na qualidade da madeira”, relembra Valéria. Quis deixar na cor natural, mas como estava danificada pelas ferramentas, pediu para lixar e, com o restauro, uma nova mesa decorava o rol da DGRH.

Hoje, ela não mais é castigada pelos serrotes, mas suporta uma exposição permanente sobre a história do logotipo da DGRH, segundo Valéria. Diante da peça, na parede, informações sobre a procedência, a matéria-prima, data de restauro. “É importante ter essa sinopse diante dos bens recuperados para que os visitantes e os novos funcionários, ao chegar, saibam que numa área de rejeito de material havia uma mesa com essa qualidade, que representou uma história da universidade – quando a Unicamp tinha sua própria marcenaria e produzia seus próprios móveis. Tenho orgulho de deixar essa história registrada para as próximas gerações”, explica.

Valéria salienta que todas as peças de muito valor, são acompanhadas de uma placa com resgate histórico. A iniciativa visa não apenas o registro da memória, mas o estímulo para que outras pessoas cotem o restauro antes de recorrer à substituição por um bem novo. As sinopses são acompanhadas de uma referência à “Declaração de Política Ambiental da Unicamp”.

Durante o projeto de restauração, alguns valores especiais, como a mesa pertencente a dona Lourdes Pretti, falecida ano passado, que prorrogou por muitos anos sua aposentadoria por dedicação ao DGRH, dirigido por ela durante muito tempo. “Estas coisas precisam ser registradas”, diz Valéria.

Além de harmonizar o ambiente, o que na opinião de Valéria é muito importante num local de recepção de visitas e de captação de novos profissionais para a Unicamp, as restaurações representam uma economia de 55% a 75% em relação à aquisição de produtos novos. “Sempre procuro negociar um bom valor nas restaurações, por se tratar de uma iniciativa no setor público” e com o intuito de mostrar às pessoas que vale a pena, tanto pelo recurso economizado, quanto pelo valor educacional, que a atitude transmite.

Valéria também promove a permuta de material, pois muitas vezes um móvel que não interessa mais a uma área pode ter serventia importante a outra. Foi o caso de algumas cadeiras adquiridas por determinada área, mas eram baixas para a mesa de reuniões. “Foi uma economia importante para o GGBS”, diz o funcionário Roberto Carlos Índio.

Antes de modificar o ambiente, Valéria envolve toda a área a ser redecorada. “Preservamos o gosto das pessoas, mas com cuidado para que não fique nem muito ousado e nem muito contido”. A mistura entre o azul e o café-com-leite tem de ser harmoniosa, em sua opinião.

Além de um espaço novo, as unidades têm a chance de resgatar móveis de qualidade atualmente descartados, já que há alguns anos era possível à Universidade adquirir produtos de primeira linha. Hoje, a oferta aumentou, e a probabilidade de adquirir um bem de menor qualidade, com tempo de vida útil também menor, é grande.

A iniciativa de Valéria provocou a procura por parte de outras unidades da Unicamp, principalmente depois de sua apresentação na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat) e no Congresso dos Profissionais das Universidades Estaduais de São Paulo (Conpuesp). Em 2013, o projeto foi apresentado no Fórum Permanente da Universidade. “É gostoso ver tudo acontecendo de forma natural, e não impositiva. As pessoas tomam conhecimento e nos procuram”, observa.

Para Valéria, as pessoas precisam tomar cuidado para que as expressões de impacto criadas de tempos em tempos, como: sustentabilidade, qualidade de vida, qualidade ambiental ou qualidade no trabalho, não se tornem apenas um modismo, mas sim uma busca real e coerente da sua significância e de possíveis desdobramentos.

No caso da Unicamp, a Declaração da Política Ambiental agora é um documento legitimado, que pode ser utilizado para fundamentar escolhas e ações mais sustentáveis para toda a comunidade universitária, inclusive apoiando projetos, como desta natureza, segundo Valéria. Se a pessoa repete o tempo todo tais expressões, ela tem de se comprometer e buscar meios para concretizar sua ideia, na esfera de atuação que cada um pode ter, na opinião da assessora. Para ela, as pessoas precisam pensar no que efetivamente podem fazer para mostrar seu engajamento nesses setores. “A Declaração da Política Ambiental é algo relativamente recente, mas é um documento reconhecido e sua aplicação tem de ser efetiva”, pontua.

 

Comentários

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Parabéns Valeria! Com certeza você contribuiu para deixar nosso espaço muito mais alegre e reutilizando os moveis ainda ajuda o meio ambiente.

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Parabéns pela iniciativa. Sou super a favor de aproveitamento e reciclagem de tudo. Sou do IA e vivo a fazer catança até em nossas caçambas. Caixas/papelão/ embalagens variadas - sempre é útil. Melhor ainda foi vc. ter a liberdade de poder mostrar o que é possivel fazer e que é possivel, faço isso no meu dia a dia com móveis, abajures. Vou até fazer uma Oficina na "FEIA" - Festival do IA para dar dicas de organização de quarto/escritório república.

Comentário: 

Parabéns pela iniciativa, Valéria.
Uma coisa que adoro é ver restauração de móveis, Antes e Depois. Ver a criatividade e o carinho de transformar algo "estragado ou feio" em Recuperado e Bonito.

andres@unicamp.br

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Parabéns Valéria. Conheci seu trabalho nos móveis reformados da DEdIC, e podemos reconhecer seu bom gosto e sua criatividade em vários lugares da Unicamp.

maolive@unicamp.br

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Querida Valéria, bom ver isso com tanta graça, beleza e pouco gasto.Valeu seu investimento e da equipe com certeza. Grande abraço. Leonor Toledo ( do NEPP e Cocen)- aposentada .

leonormtoledo@gmail.com

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Parabéns a todos os envolvidos pela iniciativa!!!
Parabéns pra vc, Valéria, pela projeto, pela criatividade e perseverança!
Todos ganhamos quando a atitude e as ações são de respeito e preservação ao homem, à memória e ao meio-ambiente. Arlete

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Fico muito feliz com iniciativas como essa: chega de comprar e consumir inutilmente! A restauração e o reaproveitamento, mais do que uma moda, são uma necessidade no mundo de hoje, onde tudo parece ser descartável e o consumismo tornou-se uma epidemia.
Valorizemos nossas coisas: precisamos de pouco para nos sentirmos bem - conforto, limpeza, claridade, funcionalidade... precisamos do que está dentro de nós e isso transformará, para melhor, o que nos cerca.
Parabéns, Valéria!

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Parabéns pelo trabalho desenvolvido aqui no Departamento de Genética da FCM. Ficamos muito satisfeitos.

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Parabéns! A Unicamp mais bonita e colorida através de sua criatividade.

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Parabens Valéria pela iniciativa.
Sabemos que no depósito de inservíveis da DGA há muita coisa que se aproveita, dependendo apenas da boa vontade do interessado.
Espero que outros sigam o seu exemplo.

Rui Gândara

rui@unicamp.br