Edição nº 559

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 28 de abril de 2013 a 04 de maio de 2013 – ANO 2013 – Nº 559

Tese alerta para uso indiscriminado
de anabolizantes entre jovens

Pesquisa demonstra que prática da musculação é feita,
na maioria das vezes, sem orientação

Estudo desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) revela que a prática de musculação por parte de adolescentes em academias tem sido feita sem orientação de profissionais especializados e, por isso, se caracteriza pela predisposição ao consumo indiscriminado de esteroides androgênicos anabolizantes. Ainda que os adolescentes entrevistados afirmassem não saber o que são essas substâncias, a maioria deles declarou assumir o risco de sua utilização para alcançar uma estética corporal perfeita. “Em outras palavras, isto quer dizer que, na busca pelo corpo perfeito, os adolescentes estão associando a prática da musculação na academia como instrumento de obtenção rápida da aparência corporal, e isto pode ser considerado um fator preponderante no uso dos anabolizantes”, alerta o professor de educação física Ubirajara de Oliveira.

Em sua opinião, trata-se de um problema de saúde pública em razão da falta de conhecimento sobre os reais efeitos que o uso dessas substâncias pode provocar. “E a academia tem sido o lugar propício para este tipo de envolvimento, pois o culto ao corpo leva à prática da musculação que, por sua vez, predispõe o uso de anabolizante. Isto diminui o espaço entre a saúde e a doença”, afirma Oliveira, que teve orientação do médico José Martins Filho para realizar o seu estudo.

O professor de educação física lembra que os esteroides androgênicos anabolizantes são substâncias proibidas no Brasil, uma vez que seus efeitos colaterais são nocivos. “Já existem comprovações do mal causado pelos anabolizantes. O que preocupa, no entanto, é a forma como esses garotos chegam à decisão de usá-los. Por isso, quis investigar”, explica.

O estudo, de caráter epidemiológico, contemplou entrevistas com 3.150 adolescentes, com idade entre 15 e 20 anos e praticantes de musculação. Para conseguir resultados específicos, Ubirajara Oliveira aplicou os questionários apenas junto aos voluntários do sexo masculino, matriculados em escolas do município de São Paulo. O professor de educação física contou com a colaboração dos professores da rede pública de ensino para colher as informações. “O número de entrevistados foi bastante significativo e, com isso, conseguimos uma amostragem representativa, o que sugere um sinal de alerta tanto para as autoridades como para os pais desses adolescentes sobre uma das práticas cada vez mais frequentes entre os mesmos adolescentes”, declara.

Para Oliveira ficou claramente demonstrado na pesquisa que a maioria dos adolescentes desconhece os prejuízos à saúde decorrentes da utilização dos anabolizantes. Sobre o comportamento dos garotos em relação ao culto do corpo perfeito, explica, os dados da pesquisa apontam que, apesar das porcentagens altas de satisfação em todas as questões sobre imagem corporal, eles se contradizem, pois mesmo satisfeitos estão predispostos ao uso dos anabolizantes com objetivo estético.

O estudo indicou ainda que muitos deles frequentam locais considerados inadequados para a prática da musculação e, por isso, não contam com profissionais especializados para orientação. “A concepção de academia é subjetiva. Muitos locais indicados pelos adolescentes não seguem um padrão de qualidade com aparelhos modernos e aulas com conteúdo. Pelo contrário, são espaços inadequados, inclusive no que diz respeito à frequência”, lamenta.

Ubirajara de Oliveira leciona em uma universidade e dá aulas de musculação em academias. Seu envolvimento com a formação de professores e a prática da musculação sempre trouxe um questionamento sobre a relação que a atividade poderia ter com o uso de esteroides anabolizantes. O culto ao corpo, em que o estilo, forma, aparência e juventude contam como atributos indispensáveis, segundo ele, remetem à ideia de que o corpo pode ser remodelado por meio da utilização de esteroides. “A dimensão mais valorizada do corpo, na contemporaneidade, é a aparência, pois o corpo belo, jovem e magro tornou-se objeto de consumo, sendo exaltado, sobretudo, pelos meios de comunicação e pela publicidade. É um discurso perigoso de exaltação ao corpo, que atinge, principalmente, os adolescentes”, declara.

Publicação

Tese: “O uso de esteroides androgênicos anabolizantes entre adolescentes e a sua relação com a prática da musculação”
Autor: Ubirajara de Oliveira
Orientador: José Martins Filho
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas