Tempo é mote de exposição no CIS-Guanabara

Sete blocos de gelo derretem durante a exposição, pontuando o tempo que é tema da mostra
Sete blocos de gelo derretem durante a exposição,
pontuando o tempo que é tema da mostra

Sete blocos de gelo presos verticalmente em uma rede de fio de naylon derretem lentamente. Estão pendurados em um suporte ao ar livre próximo a gare do CIS-Guanabara. As gotas, ora com frequência lenta, ora mais intensa, são como um relógio descompassado que à sua maneira registra o tempo. Essa instalação com gelo denominada “Tempo – Limite Atingido” é o trabalho coletivo de sete artistas visuais que participam da Exposição “Simplesmente Tempo” que será realizada na galeria de arte do CIS-Guanabara no período de 17 de março a 13 de abril. A vernissage ocorre no sábado, das 10h00 às 14 horas. A curadoria tem a assinatura do professor do Instituto de Artes da Unicamp, Marco do Valle, falecido no último dia 10 e que será homenageado na abertura do evento.

Valle acompanhou o grupo durante todo o período de pesquisa e concepção dos trabalhos dessa mostra que apresenta obras realizadas pelas artistas visuais Beth Schneider, Inês Fernandez, Lalau Mayrink, Olívia Niemeyer, Sílvia Matos, Tina Gonçalez e Vane Barini. Elas integram o Grupo Antropoantro que desde o ano de 2000 vem realizando em diferentes espaços mostras coletivas, ao mesmo tempo em que cada uma mantém a individualidade de sua própria arte.

“A exposição no CIS-Guanabara não será diferente”, explica Cristina Amoroso Lima Barros, produtora cultural e responsável pela realização dessa mostra. Ela informa que além do trabalho conjunto materializado na instalação com gelo, cada artista em sua produção individual fala do tempo à sua maneira. Fotos, instalações, pinturas, gravuras e outras técnicas de manifestação artística são as diferentes maneiras utilizadas como expressão do tempo.

Os trabalhos – A artista Beth Schneider aproveitou uma viagem de turismo à Patagônia, em outubro de 2017, para produzir o trabalho “L´ètranger”. Para ser fotografada, ela se deita à beira de um lago tendo como pano de fundo a Antártida chilena. É o registro de um estrangeiro na fronteira do tempo e do espaço. “A imensidão do espaço contempla a grandeza de um mundo que traz a marca do infinito. Somos estranhos na imensidão e é esse mesmo estranhamento que promove a arte. De uma situação na Antártida chilena criando um tempo do mundo vivido, procuro vivenciar o tempo nesse registro de ação”, diz Beth Schneider.

Inês Fernandez apresenta o trabalho “Rejeitados”, produzido em 2017. A instalação apresenta uma coleção com 18 garrafas coloridas com rótulos de imagens de obras de mestres da pintura. Inês explora três eixos de tempo: o da passagem da luz no horizonte; a produção das obras na história da arte através do olhar do artista; o consumo da arte, dentro da perspectiva do colecionador e do mundo publicitário. “No primeiro eixo, a passagem do tempo cria uma referência da luz refletida no espaço quando o arco íris é formado no horizonte e a cor das garrafas”. No segundo eixo, a artista homenageia cronologicamente diversos artistas evidenciando a importância histórica da construção expressiva do ser humano. A terceira intenção aponta para o mercado da arte e o colecionismo, que são traduzidos na vida contemporânea através dos objetos estampados com obras icônicas como parte da campanha publicitária. “A ironia é estabelecida pelas obras escolhidas que trazem imagens que em sua maior parte, causam repulsa do espectador”, avalia Inês.

Lalau Mayrink apresenta instalação “Casca de Nós”, inspirada na foto da criança síria afogada na praia. “Uma reflexão sobre a fragilidade humana  e o tempo fugaz da indignação pública diante de tragédias,  um tempo que dura até a divulgação midiática da próxima tragédia. Uma reflexão sobre a nossa própria fragilidade, já que somos todos “cascas de noz”, levados pelo tempo até a morte”, afirma Lalau.  No título, a artista faz um jogo com cascas de ‘nós’ [pronome], ‘nós’ [amarras] e ‘noz’ [o fruto da nogueira]. 

Olívia Niemeyer apresenta o trabalho “Ninfas Contemporâneas” realizado com fotos digitais tiradas em modo panorâmica e impressas em tecido. Ao todo são dez fotos, sendo uma em tecido transparente (0,40m x 1,30m  em suporte de acrílico) e nove fotos em tecido (com dimensões de 0,32m x 1,47m) que retratam restos de construção, folhas caídas nas ruas, dejetos da nossa cidade. Também apresenta uma intervenção no quadro “Primavera”, de Botticelli. “As Ninfas do passado estão no alto, nosso olhar se levanta para olhá-las. São preciosas, inatingíveis, admiráveis, como as Ninfas de Botticelli. No século 20, depois das carnificinas das grandes guerras, as Ninfas caíram no chão e perderam a ‘aura’, a arte perdeu o sagrado, como ensina Walter Benjamim. Nossas Ninfas atuais se arrastam nas calçadas, nos entulhos, nas dobras urbanas”, afirma.

Silvia Matos participa com o trabalho “Antes Esse do que Aqueles”. São dois conjuntos de quatro obras cada, híbridas do processo de pintura, gravura e fotografia. “Nesse trabalho apresento três fases de uma mesma pintura que me agradaram parcialmente. Essas fases, como na gravura, foram analisadas e resolvi continuar o processo de pintura tendo o cuidado de fotografar a fase descartada. Repeti esse processo mais duas vezes até alcançar a pintura final que me satisfez plenamente. Assim as três fases que foram descartadas e que na gravura não apareceriam, graças à fotografia foram impressas em fine art no mesmo tamanho que a tela original”. As telas medem 1,14m de comprimento por 53 cm de largura.

Tina Gonçalez apresenta o trabalho “Realidade Dis(Simulada)” feito a partir da técnica de fotografia plotada em metacrilato (80 cm x 1 metro). A fotografia é pertencente a uma série de imagens televisivas realizadas no momento em que a transmissão é desconfigurada.  É a simulação de uma presença. No entanto, quando essa ilusão de realidade se desfaz por uma falha de transmissão, novas imagens são criadas desconstruindo a lógica do espectador, anarquizando a sua forma de percepção. “Como imagens abstratas extraídas do mundo pictórico, tais imagens surgem e se desfazem em segundos, compondo e descompondo as formas e as cores. Capturar fotograficamente essas imagens é congelá-las no milésimo de segundo em que foram formadas, é fixar um instante de uma falsa realidade, é fingir ter o que não se tem”, afirma.

As artistas visuais que integram o grupo Antropoantro, em registro de exposição anterior. Foto: Antonio Scarpinetti (Ascom-Unicamp)
As artistas visuais que integram o grupo Antropoantro, em registro de exposição anterior.
Foto: Antonio Scarpinetti (Ascom-Unicamp)

Vane Barini participa com o trabalho fotográfico “Eu Sei Tudo Sobre Meu Vizinho”, resultante de alguns anos de observação da casa do vizinho. “Eu comecei a olhá-la dia após dia. Notei que quase nada acontecia lá. Quase sem sinal de vida. De vez em quando uma peça no varal. A casa sempre silenciosa, janelas que abriam pouco e logo apareciam fechadas outra vez. Anos se passaram assim. Como saber mais dessa casa fotogênica e dos vizinhos que não se expõem? Fiquei em busca de indícios, abria a janela ao acordar para observá-la. Passei então a prestar ainda mais atenção, dedicar curtos espaços de tempo a registrá-la como se quisesse contar uma história, juntar pedaços, que ao final, fizessem sentido para mim. A reforma da casa do vizinho acaba se tornando o grande acontecimento”, afirma.

Serviço
Evento: Exposição “Simplesmente Tempo”
Data: 17 de março a 13 de abril de 2018
Horário: 9h00 às 17h00
Vernissage: 17 de março das 10h00 às 14h00
Local: CIS-Guanabara
Entrada: Gratuita
Endereço: R. Mário Siqueira, 829 - Botafogo, Campinas (estacionamento gratuito no local). 

 

twitter_icofacebook_ico