| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 337 - 18 a 24 de setembro de 2006
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ARTIGO

A devida atenção ao
parto de baixo risco

HUGO SABATINO

Hugo Sabatino é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Foto: Neldo Cantanti)Um seminário internacional realizado em Madri, nos dias 8 e 9 de abril de 2005, serviu como foro privilegiado para discussão das novas tendências de atenção ao parto em mulheres que não apresentam risco gestacional (80% da população grávida, segundo a OMS). O encontro – uma concretização de bolsa concedida pela Unicamp/Santander Banespa, com apoio institucional da Universidade Complutense – foi organizado pelo professor Hugo Sabatino, da Unicamp, pelo professor Miguel Angel Herraiz e colegas da área de Obstetrícia da instituição espanhola, e por Maria Angeles Rozalén, presidente da Associação de Matronas de Espanha. Participaram professores da Espanha e convidados do Brasil e da Argentina, sendo que o excesso de inscritos obrigou a realização de um segundo seminário, na Casa do Brasil em Madri. O resultado foi a “Carta de Madrid”, cuja íntegra está entre as informações completas sobre o seminário em www.extecamp.unicamp.br/parto_alternativo.

Outra conseqüência positiva foi um convênio tipo guarda-chuva por 5 anos entre a Universidade de Alcalá da Espanha e a Unicamp, e um termo aditivo entre a citada instituição espanhola e o Grupo de Parto Alternativo da Unicamp (de dois anos e que está sendo prorrogado por mais três) para ensinar a atenção de partos de cócoras, iniciar projetos de pesquisa na área entre ambas as universidades e implantar cursos de ensino a distancia com a metodologia do Teleduc e cursos de extensão em espanhol. Este convênio contou com grande apoio do professor Luis Cortez, coordenador de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) da Unicamp, e as informações também estão no site da Extecamp.

A Carta de Madrid ressalta a atenção ao nascimento, tanto na Europa como no mundo todo, e considera experiências bem sucedidas como as do Grupo de Parto Alternativo da Unicamp, que em 1993 divulgou a Carta de Campinas, que incentivou encontros similares organizadas pela OMS em Recife, Washington, Trieste e Genebra – reuniões que resultaram em Guias de Maternidade Segura, com versão traduzida para o português pelo grupo da Unicamp.

O seminário de dois dias em Madri discutiu quatro temas. No primeiro deles – “Perspectivas na educação para a saúde do casal” – foram analisados fatos importantes sobre acontecimentos pré-históricos e históricos do nascimento, ressaltando o que denominamos de “resgate das formas de nascer”. Tenta-se valorizar condutas de antigamente que, por perspectivas erradas, deixaram de ser adotadas. Como por exemplo, a posição vertical da mulher no momento do parto (cócoras), modificada para horizontal (ginecológica); a permissão da presença do acompanhante no momento do parto, em especial da figura paterna; ou mesmo a permissão dos partos domiciliares em casos de baixo risco, com pessoal devidamente treinado, como foi a experiência do professor Galba Araújo em Fortaleza. Apresentamos a nossa experiência com a utilização da “resiliência” na preparação psicológica e física para a maternidade dos casais. O presidente da Sociedade Espanhola de Ginecologia e Obstetrícia (Sego), por sua vez, falou sobre a nova perspectiva para realizar o seguimento pré-natal nas mulheres em Espanha.

Perspectivas – Dentro das “Perspectivas no trabalho de parto” foram desenvolvidos temas que tratam da liberdade de movimentos das mulheres no período de dilatação, permitindo a deambulação. Colocaram-se as vantagens e inconvenientes da analgesia peridural, em especial os avanços com esta técnica resultando em processos de partos seguros, visto que é a opção analgésica ideal para o parto por oferecer rápido efeito, alta eficácia, fácil execução, um mínimo número de efeitos secundários e não impor limitação no tempo. Também foram tratados os aspectos negativos da “tecnomedicalização” na assistência ao parto, assim como a excessiva protocolização das condutas médicas, esquecendo-se dos aspectos humanitários na atenção. Nesse sentido foram assinalados níveis de excelência nesta atenção, tentando harmonizar a segurança necessária para mãe e filho, sem intervenções desnecessárias hoje utilizadas em instituições que tratam de mulheres de baixo risco. Defendeu-se que a assistência do século 21 deve incluir desde aspectos operacionais até institucionais, com quartos individuais que permitam a participação familiar e controle moderno da evolução do processo do nascimento.

No segundo dia do seminário, sob o tema “Perspectivas no período expulsivo”, apresentamos fatores positivos como a adoção da posição vertical (cócoras) durante o período do nascimento e os trabalhos realizados e publicados pela equipe da Unicamp, como as evidências publicadas pela biblioteca de Cochrane. Um fato é o sentimento de solidão que as mulheres manifestam quando são internadas nas maternidades convencionais, levando-as a procurarem cada vez mais os partos domiciliares ou em casas de partos, desde que sejam de baixo risco, planejados, com assistência profissional e suporte adequado. Um aspecto positivo na Espanha é presença marcante da parteira e da equipe perinatal (parteira, obstetra, neonatologista, anestesista). Abordou-se ainda a nova conceituação sobre o não uso da episiotomia de rotina, ficando reservada a poucos casos de indicação médica, e simultaneamente a importância da proteção perineal através de exercícios e de massagens a partir de 34 semanas e não no período expulsivo. A Sego também apresentou seus protocolos e guias de atenção ao parto convencional.

Cesáreas – Em “Temas de atualidade” foram apontadas as causas do aumento de cesáreas desnecessárias em gestações de baixo risco, ressaltando-se porque elas não deveriam ser realizadas: maior mortalidade materna, maior morbidade durante e após a cirurgia, mais moléstias (dor) pós-cesárea, lenta recuperação, retardo na amamentação, antecedentes obstétricos desfavoráveis em novas gestações e maiores custos. Para isso é preciso promover substanciais mudanças na atenção à mulher e seu filho. Para finalizar o seminário, os presentes discutiram os problemas legais que a prática da especialidade acarreta, com aumento das demandas jurídicas que obrigam os profissionais a um maior cuidado na prática diária, o que inclusive pode comprometer a relação médico-paciente. Entre as futuras ações relevantes para melhorar o atendimento ao casal, está a atuação mais estreita entre médicos e parteiras, situação já vigente em várias partes do mundo, mas ainda incipiente em países como o Brasil. No encontro, ainda houve tempo para tratar dos problemas psicoemocionais das mães submetidas a cesáreas com separação involuntária das crianças.

As propostas da Carta de Madrid

(Ilustração: Divulgação)Os profissionais da saúde que assinam a Carta de Madrid afirmam que todas as pessoas (cidadãos, médicos, enfermeiras, parteiras, ginecologistas, etc) dispõem de uma oportunidade única para construir a rede que pode constituir-se no mais eficiente modelo de atenção ao parto e nascimento. Reconhecem como altamente eficazes as práticas indígenas como massagens e a posição vertical, defendendo sua incorporação à prática diária. “Nunca se teve acesso a tantas informações sobre a fisiologia do parto e do nascimento e sobre os tipos de cuidados que são de interesse da mulher neste processo. As tecnologias adequadas estão à disposição para que se adote qualquer modelo de atenção. Hoje é possível aplicar a tecnologia apropriada, em combinação com os aspectos humanísticos e os conceitos defendidos pelo holismo. Podemos de fato criar o melhor modelo que o mundo tenha presenciado”, diz o documento. Abaixo, as propostas defendidas na carta:

Atenção centrada na família;
Preparação integral do casal para o parto e aleitamento materno;
Estimular a companhia de pessoas selecionadas pela mulher;
Evitar o uso sistemático de duvidosa eficácia (Enema, Raspado);
Adaptar os serviços para permitir a não-hospitalização da parturiente;
Flexibilizar as práticas referentes a dietas durante o período de dilatação;
Simplificar os protocolos de monitoramento;
Promover o uso de métodos não-farmacológicos para alívio da dor;
Considerar a adoção de postura de eleição da mulher durante o período expulsivo;
Política de uso restrito da Episiotomia;
Não realização da manobra do Kristeler em nenhum momento do período expulsivo;
Evitar ligadura precoce do cordão umbilical, salvo indicações absolutas;
Garantia do contato precoce entre mãe e bebê imediatamente ao nascimento;
Garantia da não separação da mãe e do bebê;
Garantia de puerperio alojamento conjunto;
Estímulo e amparo do aleitamento materno;
Treinamento contínuo de toda a equipe;
Estímulo à abordagem interdisciplinar.

 

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