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ARTIGO

Cássio Raposo do Amaral
vive em sua obra
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BERNARDO BEIGUELMAN

O professor Cássio Raposo do Amaral, que faleceu no último dia 2 em Campinas  (Foto: Antoninho Perri)Conheci o professor Cássio Menezes Raposo do Amaral em 1963, como calouro da primeira turma da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas, que, mais tarde passaria a ser a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Desde então acompanhei muito de perto a sua brilhante carreira, primeiro como seu professor e depois como amigo por toda a vida.

A carreira do professor Cássio Amaral foi brilhante, mas não foi fácil. Como acadêmico de Medicina, mantinha-se dando aulas no Curso Adolfo Lutz, um curso preparatório para os vestibulares às universidades, que já não existe mais em Campinas. Depois de sua graduação, em 1968, fez a Residência Médica em Cirurgia Geral na antiga Faculdade de Medicina da Universidade Nacional, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nessa ocasião conquistou uma das duas bolsas da Capes oferecidas para tal finalidade, concorrendo com centenas de candidatos de todo o País. Terminada essa residência passou por outra, em Cirurgia Plástica e Reconstrutora na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi nessa Faculdade que defendeu sua tese de doutorado, dedicada à investigação do componente genético responsável pelas manifestações das medidas da região orbitária. Essa tese foi aprovada com distinção e louvor e dela resultaram trabalhos publicados em revistas internacionais.

Cássio Menezes Raposo do Amaral não pretendia ser apenas um cirurgião plástico. Ele sonhava com o desenvolvimento no País da cirurgia reconstrutora da região crânio- facial e foi buscar orientação no exterior, trabalhando, inicialmente, com o professor Converse, no centro de cirurgia plástica e reconstrutora do hospital universitário de Nova York, e, posteriormente, em Paris, com o professor Tessier. Foi com essa formação que voltou ao Brasil e ingressou, em regime de dedicação integral à docência e à pesquisa, como professor assistente doutor no Departamento de Cirurgia da Faculdade na qual se graduara. Posteriormente, conquistou, por concurso, o título de livre docente da Unicamp, o que lhe permitiu, depois de obter o título de professor associado, a conquistar, com grande brilho, o cargo de professor titular de Cirurgia Plástica após concurso de provas e títulos.

A dedicação do professor Cássio Raposo do Amaral à docência e à pesquisa na Unicamp não impediu que ele se voltasse para uma outra grande obra de sua vida, que foi a construção de um hospital especializado na correção de malformações e deformidades da face e/ou do crânio. Para construir e equipar esse hospital ele se doou totalmente, enfrentando todos tipos de dificuldades e as costumeiras incompreensões, tendo que buscar doações, inclusive fora do País, viajando numerosas vezes ao estrangeiro, às suas próprias custas. Esse hospital é hoje conhecido no Brasil e fora dele como o hospital Sobrapar, erguido ao lado do Hospital das Clínicas da Cidade Universitária “Professor Zeferino Vaz” e que já atendeu gratuitamente a milhares de pessoas, dando-lhes ou restituindo-lhes a alegria de viver.

O desaparecimento precoce e repentino do professor Cássio Amaral deixa sua esposa, a professora Vera Adami Raposo do Amaral, seus filhos, seus familiares, amigos, discípulos, colaboradores e pacientes desamparados. Todos já estão sentindo muito o vazio da sua ausência física, mas, com certeza, ninguém aceita que a existência de uma pessoa como ele possa, simplesmente, ter terminado. Uma pessoa como ele, de uma lealdade e solidariedade incondicional a seus amigos, sempre ético, sempre preocupado em ser justo, sempre generoso, sem deixar sua generosidade ferir a dignidade daqueles a quem assistia, não pode ter sua existência terminada. É certo que estamos de luto e choramos sua ausência física, mas Cássio Amaral permanecerá sempre vivo nos corações de todos os que cultuam sua memória, nos incontáveis atos de bondade que praticou e nos exemplos e nas obras que deixou. A beleza de sua vida se manterá entre nós como uma amada bênção. Cássio Menezes Raposo do Amaral vive, portanto.

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Bernardo Beiguelman é professor emérito da Unicamp.

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