| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 303 - 26 de setembro a 2 de outubro de 2005
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‘Pretendo seguir a carreira de pesquisador’



CLAYTON LEVY



Alysson Fernandes Mazoni, aluno da Faculdade de Engenharia Mecânica: “Eu estava completamente enganado” (Fotos: Antonio Scarpinetti/Antoninho Perri)Pessoas envolvidas com a busca do conhecimento mas completamente distanciadas da população. Era essa a imagem que Alysson Fernandes Mazoni fazia dos cientistas antes de ingressar na Faculdade de Engenharia Mecânica. Hoje, após quatros anos de convivência com pesquisadores, o estudante mudou de idéia. “Eu estava completamente enganado”, admite. E já faz planos de se tornar um deles no campo profissional. Os primeiros passos nessa direção já estão sendo dados mesmo antes de concluir a graduação. Aos 22 anos, Alysson é um dos 926 alunos que apresentarão trabalhos no XIII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp, nos dias 28 e 29 de Setembro.

O estudante, que cursa o quinto ano, apresentará o trabalho “Algumas Estratégias Computacionais para a Solução de Problemas de Programação Semidefinida”. Trocando em miúdos, trata-se de uma estratégia para minimizar a intensidade de vibrações em qualquer processo dinâmico. Por exemplo em estruturas flexíveis, como edifícios, pontes ou chassis de automóveis. O estudo, orientado pelo professor Alberto Luiz Serpa, tem aplicação principalmente na indústria automobilística e aeronáutica. Essa, porém, não é a primeira vez que Alysson participa de um projeto de iniciação científica. Em 2002, quando cursava o segundo ano, debutou com um trabalho na área de robótica. Orientado pelo professor João Maurício Moraes, o estudo propunha um algoritmo de controle para plataformas de simulação.

“Acho que me encontrei nesse tipo de atividade”, diz Alysson para justificar o apetite pela pesquisa científica. Mas não foi sempre assim. Antes de entrar para a vida acadêmica o estudante tinha apenas uma idéia vaga sobre o assunto. “Me interessava por ciência como me interessava por muitas outras coisas, mas sem preferência por nenhuma delas”, conta. As coisas começaram a mudar, porém, já no primeiro projeto de iniciação científica. “Percebi que aquilo me despertava um interesse maior do que as carreiras usuais de engenharia”. Hoje, Alysson não tem mais nenhuma dúvida: “Quero seguir a carreira de pesquisador”.

Letícia Nunes da Silva, que cursa o quarto ano de Medicina: “Vi que é possível conciliar as atividades”  (Fotos: Antonio Scarpinetti/Antoninho Perri)Natural de Nova Londrina, Paraná, e leitor voraz de todos os gêneros, Alysson está convicto de que as duas experiências em projetos de iniciação científica terão peso decisivo em sua formação acadêmica. “A iniciação científica é uma versão reduzida mas bastante realista de um projeto de pesquisa mais original e de longo prazo”, destaca. “Se conduzida com seriedade, pode englobar todos os aspectos relevantes do trabalho de um pesquisador formado”, completa o estudante, que para o projeto de iniciação científica contou com bolsa Pibic/CNPq.

Alysson descobriu a vocação para cientista após entrar para a universidade, mas para muitos estudantes essa inclinação se manifesta bem antes na forma de simples curiosidade. É o caso de Letícia Nunes da Silva, que cursa o quarto ano na Faculdade de Ciências Médicas. “Sempre tive um interesse muito grande em saber como se dá a descoberta de novos medicamentos, novas doenças e até mesmo a cura para algumas enfermidades”, diz a estudante, que também participará do Congresso com o trabalho “Relação entre Resistência à Insulina e Tolerância a Endotoxemia Observada em Duas Cepas Diferentes de Camundongos”.

Orientado pelo professor Mário José Abdalla Saad, o estudo aborda a relação entre resistência à insulina e a resposta inflamatória em animais inferiores, no caso camundongos. “O aumento da incidência de diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) nos últimos anos está relacionado com uma expressão de genes que atuaram favoravelmente no processo de seleção natural de nossa espécie”, explica Letícia, que também é bolsista Pibic/CNPq. “Essa seleção também abrange genes envolvidos com a resposta imunológica, sendo que o aumento da expressão destes genes parece estar relacionado com os quadros de resistência à insulina”, completa.

Aos 22 anos, Letícia considera a oportunidade de trabalhar com pesquisa já na graduação como algo fundamental em sua formação. “Oferecer essa possibilidade ao aluno de graduação é importante porque é desta maneira que ele vai descobrir se tem vocação para a pesquisa”, afirma. Em seu caso, porém, a vocação surgiu bem antes. “Antes mesmo de iniciar o curso de Medicina eu já tinha como projeto pessoal fazer iniciação científica”.

Apesar do interesse pela ciência ter surgido antes da faculdade, a definição de sua área de estudo ocorreu como conseqüência natural da convivência com pesquisadores. “Tive meu interesse despertado para o estudo do diabetes durante uma aula do meu orientador”, conta a estudante. Além disso, segundo ela, também ajudou o fato de o curso de Medicina incluir uma disciplina curricular de introdução à prática científica. O curso começa já no primeiro ano e leva o aluno a escolher uma temática de seu interesse e a entrar em contato direto com os respectivos orientadores. “Essa experiência foi muito importante porque me ajudou a antecipar a minha atividade no campo da pesquisa”.

A oportunidade de fazer pesquisa ainda na graduação também ajudou Letícia a eliminar alguns tabus. Antes de entrar para a faculdade, a estudante imaginava que um cientista da área médica não poderia trabalhar no atendimento clínico. “Isso me dividia um pouco porque sempre gostei dos dois lados”, conta. “Mas depois, observando o exemplo de meu orientador e de outros pesquisadores, vi que é possível conciliar as duas atividades”.

‘Sempre fui atraído pela área empreendedora’

José Frederico Lyra Netto, presidente da Brasil Júnior: “Somos sempre levados a buscar soluções” (Fotos: Antonio Scarpinetti/Antoninho Perri)José Frederico Lyra Netto não esconde sua paixão pelo movimento das empresas juniores. Há três anos, quando ingressou na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), procurou logo um meio de ingressar na Mecatron, uma das 17 empresas juniores em atividade na Unicamp. De lá para cá participou do desenvolvimento de vários projetos, teve contato com clientes e conheceu de perto o mercado. “Valeu a pena”, diz o estudante, que, aos 24 anos, acaba de ser eleito o novo presidente da Brasil Júnior, entidade que congrega empresas juniores de todo o país. Além das 120 unidades já confederadas, existem outras 480 em pleno funcionamento em diversas universidades. No total, aproximadamente três mil estudantes estão ligados ao movimento, que no ano passado faturou cerca de R$ 3 milhões em serviços prestados. “Apesar de a Unicamp ser mais conhecida pelo lado da pesquisa, sempre me senti atraído pela área empreendedora”, diz Lyra Netto. Natural de Goiânia, ele aponta o movimento júnior como uma das atividades extracurriculares que garantem qualidade ao ensino de graduação oferecido pela Universidade. E destaca esse tipo de oportunidade como um dos meios de promover a inovação tecnológica. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, o estudante falou sobre sua experiência e suas expectativas.

Jornal da Unicamp—Qual o impacto que esta experiência produziu na sua formação acadêmica?

José Frederico – Abriu minha visão. As pessoas tendem a achar que a Unicamp oferece o campo da pesquisa como única opção para o estudante e acabam se esquecendo das possibilidades no empreendedorismo. Como já trazia comigo o interesse pela área foi mais fácil me inserir nesse contexto. Com certeza essa experiência também está me preparando melhor para o mercado. Você fala direto com o cliente, aprende a desenvolver projetos, respeitar prazos, administrar orçamentos, estudar propostas, uma série de experiências que vão muito além da sala de aula.

JU – Na sua opinião, há algum diferencial que faça o ensino de graduação da Unicamp destacar-se no cenário nacional?

José Frederico – Inicialmente acho que os professores são diferenciados porque também são grandes pesquisadores. Não saberia avaliar com precisão o nível dos laboratórios, mas certamente estão acima da média nacional. O principal, a meu ver, são as oportunidades extracurriculares que complementam o ensino de graduação. Sem dúvida as empresas juniores e a iniciação científica constituem dois grandes exemplos dessa realidade. São duas áreas fortes não só no contexto da Unicamp mas também em relação à média do ensino superior em todo o Brasil.

JU –O estudante que se engaja no movimento de empresas juniores estaria mais apto a colaborar com o processo de inovação tecnológica?

José Frederico – Certamente. Por isso buscamos incentivar esse viés. Estamos inclusive buscando uma aproximação com a Agência de Inovação da Unicamp (Inova). De todo modo, a busca pela inovação é uma postura sempre presente na empresa júnior. Além de gerenciar um negócio e atendemos clientes com todas as necessidades possíveis, somos sempre levados a buscar soluções. E muitas destas soluções são inovadoras.

JU – Contrariando o cenário nos paises desenvolvidos, a maior parte do investimento em pesquisa no Brasil ainda é feita pelo setor público, enquanto o setor privado arca apenas com uma pequena parcela. Você acredita que a disseminação da cultura do empreendedorismo defendida pelas empresas juniores poderia ajudar a reverter essa distorção?

José Frederico – Esperamos que no futuro a situação se inverta no Brasil e as empresas finalmente passem a desempenhar o papel necessário à inovação tecnológica. Se os estudantes que estão saindo das universidades assimilarem essa nova mentalidade, acredito que essa mudança será possível. A soma de experiências no campo da pesquisa e do empreendedorismo gera os fatores propícios para a inovação fora da universidade.

JU – Como você analisa a atual política do governo federal para a área de P&D e Inovação?

José Frederico – Acho que a Lei de Inovação representa um avanço importante e deverá facilitar o caminho para o avanço tecnológico. Mas foi só o primeiro passo. O mais importante, na minha opinião, é mudar a mentalidade das pessoas. Mostrar que há um gapp entre universidade e empresa e que é necessário fazer alguma coisa para aproximar as duas áreas. Vários fatores contribuem para essa situação, mas certamente um deles decorre do fato de que a maior parte das empresas não desenvolve uma visão de longo prazo. Poucos empresários conseguem enxergar a importância dos investimentos em P&D para alavancar o futuro. Também seria necessário trabalhar na parte governamental a fim de gerar as condições necessárias para que as empresas passassem a investir mais em P&D.

JU – Como você analisa hoje o movimento de empresas juniores no Brasil?

José Frederico – O movimento é relativamente novo. As primeiras empresas juniores do Brasil surgiram há cerca de dezessete anos, mas só há pouco tempo o movimento se consolidou de forma organizada. A Brasil Júnior, que é a confederação brasileira, tem apenas dois anos de existência. Apesar disso o movimento está se fortalecendo cada vez mais. Procuramos sempre uma postura ativa e não apenas reativa. Tentamos apresentar propostas através de resultados.

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