Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 267 - de 27 de setembro a 3 de outubro de 2004
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Pesquisadores de sete países debateram
reelaboração das formas antigas desde o Renascimento

Especialistas refletem
sobre a tradição clássica

MANUEL ALVES FILHO


Especialistas brasileiros e estrangeiros estiveram reunidos entre os dias 22 e 24 de setembro, na Unicamp, para participar do II Simpósio Internacional sobre a Tradição Clássica, evento que integra o projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) intitulado “Programa Biblioteca Cicognara e a Constituição da Luiz Marques, professor do IFCH: tradição clássica como objeto de pesquisa (Fotos: Antoninho Perri)Tradição Clássica”. Na oportunidade, pesquisadores de sete países, além do Brasil, promoveram uma série de reflexões sobre alguns dos vínculos que compõem a densa trama de interferências entre a questão religiosa e a incessante reelaboração das formas antigas desde o Renascimento.

Evento integra projeto temático

De acordo com Luiz Marques, professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e um dos organizadores do Simpósio, estiverem reunidos, no auditório da Biblioteca Central (BC) da Universidade, importantes estudiosos que têm a tradição clássica como objeto de suas pesquisas. A professora Nicole Dacos, da Universidade Livre de Bruxelas, abriu o primeiro dia de palestras falando sobre o tema “Da Liberdade e do Jogo à Ordem e ao Símbolo. Vida e Morte dos Grotescos”. De acordo com ela, os grotescos estão presentes em várias obras de arte dos séculos 16 e 17.

Eles se manifestam por meio de miniaturas pintadas ao redor de uma figura ou cena central. Representam, invariavelmente, situações engraçadas ou figuras estrambóticas. No entender de Nicole Dacos, não há uma representação simbólica O professor Antonio Pinelli, da Università degli Studi precisa no grotesco ou um código definido para a construção de motivos ideológicos. “Trata-se de uma pintura licenciosa que faz rir. Ou seja, uma brincadeira. Enxergar um simbolismo preciso nessa expressão artística significaria transformá-la no contrário do que realmente é”, afirmou a especialista, que exibiu cerca de 40 slides ao público.

Ainda no primeiro dia do Simpósio, o professor Antonio Pinelli, da Università degli Studi di Pisa, falou sobre a Galeria dos Mapas Geográficos do Palácio do Vaticano, conjunto de obras do século 16 que representa, a um só tempo, a expressão da arte, da política e da geografia daquela época. A galeria, na verdade um dos corredores do palácio, é composta por 40 quadros, pintados entre 1578 e 1581, dispostos de ambos os lados da passagem. Eles representam o território italiano, com suas regiões, ilhas e acidentes geográficos. “Não por acaso, as regiões são representadas por lugares considerados sagrados e associadas a fatos milagrosos”, explicou, fazendo referência ao significado ideológico e contra-reformista defendido pela Igreja.

“Em outras palavras, a galeria não foi concebida para ser um local de passeio simplesmente, mas um espaço para que as pessoas olhassem a Itália e pensassem em como ela deveria ser governada”, acrescentou Pinelli. Segundo o discurso ideológico de então, o papa teria o direito de unificar o país, que obviamente ficaria A professora Nicole Dacos, da Universidade Livre de Bruxelas: grotesco em pautasob seu comando, situação que jamais viria a se concretizar. Entretanto, lembrou o especialista, a ambição da Igreja não se limitava à questão apenas do domínio do espaço. Ao usar o argumento da defasagem do calendário Juliano, que impedia que a Páscoa fosse comemorada na data correta, a instituição promoveu a adoção do calendário Gregoriano. “A ação ideológica da Igreja, portanto, também contemplava o domínio do tempo”, disse.

Ainda na abertura do Simpósio, o professor Ricardo de Mabro Santos, brasileiro que leciona na Universitá di Roma “La Sapienza”, falou sobre uma das principais obras de Leonardo da Vinci, “A Virgem dos Rochedos”. O quadro, que tem duas versões, sempre foi objeto de muita polêmica. Um deles está exposto no museu do Louvre, em Paris, e o outro na National Gallery, em Londres. Há quem diga uma das obras não teria sido pintada por da Vinci, mas sim por um de seus alunos. A “A Virgem dos Rochedos”, segundo Santos, é uma complexa trama iconográfica, concebida entre os anos de 1480 e 1483, por encomenda da Irmandade da Imaculada Conceição, de Milão.

O primeiro quadro, conforme o estudioso, obedece a minuciosas orientações descritas em contrato. A intenção da entidade religiosa era difundir que o que viria a O professor Ricardo de Mabro Santos, da Universitá di Roma “La Sapienza: obra polêmicaser o dogma da concepção sem pecado. O segundo, porém, difere substancialmente do anterior, pois traz uma gama de significados metafísicos. Como é possível explicar tais diferenças? Para o professor da Universitá di Roma “La Sapienza”, a segunda versão seria uma síntese das visões do beato Amadeu da Silva, que tinha grande ascendência sobre um segmento do clero italiano de então.

Além dos três palestrantes mencionados, participaram ainda do II Simpósio Internacional sobre a Tradição Clássica os seguintes pesquisadores estrangeiros: Yoni Ascher (Haifa University, de Israel), Marc Deramaix (Université de Reims, Institut Universitaire de France), Sylvie Deswarte-Rosa (Université de Lyon 2), Pierre-Antoine Fabre (École des Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris), Catherine Monbeig Goguel (Musée du Louvre), Ángel M. Navarro (Universidad de Buenos Aires), Rudolf Preimsberger (Freien Universität Berlin) e Isabel del Rio de la Hoz (Univeesidad Rey Juan Carlos de Madrid).


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