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Tese mostra impactos ambientais causados por irrigação do tomate

MANUEL ALVES FILHO



O professor Luiz Antonio Daniel, com a autora da tese, Jane Maria de Carvalho SilveiraCerca de 70% do tomate produzido no Brasil é irrigado por um sistema constituído por sulcos. Ou seja, os agricultores captam a água de um manancial e a levam até a lavoura por meio de canais estreitos abertos na terra. O método, embora assegure uma boa produtividade em muitos casos, pode causar sério impactos ambientais, como o desperdício de água e a erosão do solo. A constatação faz parte da tese de doutorado de Jane Maria de Carvalho Silveira, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. A pesquisadora tomou para estudo propriedades situadas em Estiva Gerbi, município localizado na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Segundo ela, a investigação constatou que apenas 30% da água captada é realmente aproveitada. Já a perda de solo estimada foi de 24 toneladas por hectare.

Método desperdiça água e causa erosão

De acordo com o professor Luiz Antonio Daniel, orientador do trabalho, algo como 60% do tomate produzido no entorno de Campinas é irrigado por esse sistema, em condições semelhantes às verificadas em Estiva Gerbi. Isso permite intuir, segundo ele, que os impactos ambientais decorrentes dessa técnica sejam significativos na região. Jane acrescenta que há alternativas relativamente simples para minimizar o problema. Ela lembra que o sistema de sulcos é composto por canais. O procedimento consiste em bombear a água de um curso natural até o canal principal, localizado acima dos talhões de cultivo. Em seguida, a água é derivada por gravidade para um segundo canal (secundário), responsável pela distribuição para os sulcos de irrigação propriamente ditos.

Conforme a pesquisadora, bastaria que os produtores lançassem mão de anéis de vedação para controlar a perda de água na tubulação. Outra medida que ajudaria a combater o desperdício seria a utilização de uma mangueira no canal secundário. Por último, seria recomendável o revestimento dos canais principal e secundário com material plástico, o que reduziria a erosão do solo. “São medidas simples, mas que não são do conhecimento dos agricultores”, explica a engenheira agrícola. Para o professor Daniel, um dos aspectos que torna difícil explicar aos tomaticultores a necessidade da adoção de tais cuidados é a boa produtividade proporcionada pelo sistema de irrigação em questão.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção nacional de tomate é da ordem de 53 toneladas por hectare. Nas propriedades tomadas para estudo, essa média sobre para 79 toneladas por hectare. “Muitos produtores acreditam que quanto mais água colocarem nas culturas, maior a produtividade. Mas isso não é necessariamente verdade. No caso por nós analisados, apenas 30% da água usada na irrigação é efetivamente aproveitada, sendo que mesmo esse volume está 80% acima do necessário. O restante é desperdiçado”, insiste o docente da Feagri. Uma maneira de tentar conscientizar os tomaticultores para a necessidade de minimizar os impactos ambientais gerados pela atividade é usar o argumento financeiro.

O professor Daniel destaca que, para levar a água até os pés de tomate, é preciso fazer o bombeamento, normalmente por meio de equipamentos elétricos. Ou seja, ao bombear mais água do que necessário, o agricultor está desperdiçando energia elétrica e, conseqüentemente, dinheiro. “Outra possibilidade futura é a cobrança pelo uso dessa água. Pagando por isso, as pessoas tenderão a usar esse recurso natural de forma mais racional e sustentável”, imagina. Além dos impactos ambientais decorrentes do sistema de irrigação por sulcos, Jane e seu orientador verificaram outros problemas relacionados à atividade dos tomaticultores.

O uso indiscriminado de agrotóxicos, por exemplo, é flagrante em muitas propriedades. “Em 120 dias, contabilizamos o emprego de 37 diferentes defensivos, em 35 aplicações. Ou seja, a cada três dias ocorria uma pulverização. O que chamou a atenção é que muitas aplicações eram feitas de maneira ‘preventiva’. Isto é, jogava-se o produto não para combater, mas para evitar possíveis pragas”. Outro problema subjacente é de ordem social. Conforme os pesquisadores, os trabalhadores normalmente atuam sem equipamentos de segurança e boa parte deles não é registrada em carteira. “Isso certamente demandaria outros estudos, já no âmbito das ciências sociais, por exemplo”, sugere o docente da Feagri.

A expectativa da autora da tese de doutorado é que seu trabalho sirva de ferramenta para orientar eventuais políticas na área de planejamento ambiental, relacionas à atividade agrícola. “Vamos dar conhecimento dos resultados do estudo às autoridades e técnicos. Esperamos que eles possam auxiliar na definição de planos de manejo que assegurem o uso racional e sustentável dos recursos naturais”, reafirma Jane. A pesquisa conduzida por ela foi financiada pela Fapesp e a bolsa de estudo concedida pelo CNPq.

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