| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição Especial 339 - 2 a 8 de outubro de 2006
Leia nesta edição
40 Anos
40 Anos, ano a ano
Reitor Tadeu Jorge
Roberto Romano
Vanguarda das decisões
Artigo: Luiz Gonzaga Belluzzo
Ciência que gera riqueza
Metas institucionais
A cápsula do tempo
Excelência
Artigo: Carlos Eduardo Berriel
Avanço na pesquisa
Artigo: Francisco Foot Hardman
Pós-graduação
Artigo: Ricardo Antunes
Extensão
Plano Diretor
Artigo: José Roberto Zan
Música Popular
O velho Zefa
 

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Curso de Música Popular,
uma ousadia

Fotos: Antoninho Perri/Antonio ScarpinettiEm 1989, a Unicamp tornou-se a primeira universidade brasileira a oferecer um curso de graduação na modalidade Música Popular. A iniciativa, aprovada pelo Conselho Universitário, refletia uma tendência verificada anos antes, em várias partes do mundo, de valorização do tema, notadamente como objeto de pesquisa. Em 1987, quando foi constituída a comissão para elaborar o curso, era uma proposta ousada, uma vez que a música popular, considerada pelo sociólogo Edgar Morin como “o mais cotidiano dos objetos de consumo” da sociedade moderna, não figurava de modo relevante nem mesmo como objeto de pesquisa de determinadas áreas do conhecimento como as ciências sociais, comunicações ou estudos da linguagem. O fato de ser ainda um tema periférico no meio acadêmico brasileiro, tornava essa proposta pouco provável. Porém, em outros países a situação era diferente. No início dos anos 80, um grupo de jovens intelectuais havia criado uma entidade que reunia pesquisadores de diversas áreas interessados em investigar a música popular sob diversos aspectos. Nascia, em 1981, a International Association for the Study of Popular Music (IASPM), que reuniria em poucos anos grande número de pesquisadores. Especialmente nos países anglo-saxônicos, multiplicavam-se cursos, modalidades e programas de pesquisa tratando desse tema.

Fotos: Antoninho Perri/Antonio ScarpinettiPercebendo essa tendência, os professores do Departamento de Música trabalharam durante alguns meses na elaboração do curso. No primeiro semestre de 1988, começava a tramitar nas comissões e órgãos colegiados da Unicamp a nova proposta de curso com as disciplinas previstas, com suas respectivas ementas, a lista de equipamentos necessários para seu funcionamento e um texto mostrando a sua importância.

Integrava essa comissão o saudoso e querido colega e amigo Valter Krausche, sociólogo e poeta que integrou o Departamento de Música de 1º de janeiro de 1985 a 10 de abril de 1988. Apesar de sua breve passagem, em função do seu falecimento prematuro, deixou sua marca na memória do Departamento e do próprio Instituto. Apaixonado por música popular, Valter deixou uma obra acadêmica pequena mas relevante para os estudos da cultura e da música popular brasileira. Sua participação na Comissão de Estudos de Música Popular que elaborou o projeto do novo curso foi decisiva. Vale a pena ler o trecho reproduzido ao lado, de um artigo publicado em 1988 na revista Trilhas, do Instituto de Artes, assinado pela comissão composta pelos professores Claudiney Carrasco, Eduardo Andrade, Paulo Pugliesi, Rafael dos Santos, Ricardo Goldemberg e o próprio Valter. Tenho certeza de que os colegas reconhecem a presença forte do estilo de Valter Krausche nesse documento que nos convence da necessidade e da importância do ensino da música popular na Universidade.

Refinamento constante

Fotos: Antoninho Perri/Antonio Scarpinetti Do que necessita a música popular? De um local onde manipular, onde aprender. Porque a prática de música popular, por mais paradoxal que pareça, alimentando-se da racionalidade proporcionada por equipamentos de controle e de leitura, não perde, ou antes amplia os poderes de improvisação. Um espaço de práticas, reflexão e pesquisa não anula o popular: mas aprofunda-o. A conquista da técnica, entre outras, não se desfigura: revigora-o. É tempo de deixar de lado o ‘dom de iludir´: a música popular nunca nasceu da precariedade, mas do refinamento constante, e historicamente comprovável, dos músicos dessa arte.

Há quem cante: samba não se aprende no colégio. É porque recebeu o recado do ‘morro´. Quem disse isso sabia: não queria trocar suas pulsações pelas regras acadêmicas. Porém, sabia que todo músico passa por um aprendizado. Pode ser que ninguém forme músicos populares, mas dá-lhes vazão. A idéia de que o músico popular nasce de um encanto, de uma heróica e intensa inspiração, de que ele não necessita de nenhuma técnica musical mais sistemática, ou que essa técnica resulta diretamente daquela inspiração, não passa de um modo de escamotear a realidade e a história da produção musical. Contribui para reproduzir o ‘mito´ da ‘simplicidade´ do músico popular. Isto é, colocá-lo em sua devida ‘inferioridade´.

O músico popular sempre precisou do espaço da aprendizagem, e hoje muito mais. Foi-se o tempo em que tal espaço oferecia-se de uma forma mais acessível em função da predominância de instrumentos e equipamentos mais facilmente transportáveis. A já citada incorporação de novas tecnologias ao fazer da Música popular tende a gerar ‘centrais de reprocessamento´ de sons, o que torna cada vez mais inacessível aos jovens interessados. Nesse sentido, impõe-se a urgência de uma conquista: a modernização do ensino da música para que o artista saiba responder aos desafios do seu tempo.

Fotos: Antoninho Perri/Antonio Scarpinetti































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