| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 339 - 2 a 8 de outubro de 2006
Leia nesta edição
40 Anos
40 Anos, ano a ano
Reitor Tadeu Jorge
Roberto Romano
Vanguarda das decisões
Artigo: Luiz Gonzaga Belluzzo
Ciência que gera riqueza
Metas institucionais
A cápsula do tempo
Excelência
Artigo: Carlos Eduardo Berriel
Avanço na pesquisa
Artigo: Francisco Foot Hardman
Pós-graduação
Artigo: Ricardo Antunes
Extensão
Plano Diretor
Artigo: José Roberto Zan
Música Popular
O velho Zefa
 

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Ciência que gera riqueza

Cerca de 100 empresas já nasceram a partir da Unicamp, que também
assume a liderança em pedidos de patentes ao Inpi

Laboratório da Optolink, que atua na área de fotônica: uma das doze empresas originadas no IFGW nos últimos 20 anos (Fotos: Antoninho Perri/Neldo Cantanti)Transformar conhecimento científico em negócios bem sucedidos tornou-se uma especialidade entre ex-alunos e ex-pesquisadores da Unicamp. Só nas últimas duas décadas cerca de 100 empresas nasceram a partir das salas de aula da Universidade, considerada um dos pólos de excelência em pesquisa acadêmica no país. Juntas, as “filhas” da Unicamp já respondem por um faturamento que ultrapassa a casa dos R$ 500 milhões por ano. Mesmo quem preferiu seguir na carreira acadêmica está conseguindo demonstrar que ciência também gera riqueza. Desde abril, a Unicamp assumiu a liderança no ranking de pedidos de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), posição até então ocupada pela Petrobrás.

A maior parte das empresas constituídas por ex-alunos e ex-professores é voltada para tecnologia da informação, um mercado que não pára de crescer e já movimenta anualmente cerca de R$ 20 bilhões. “A Universidade nos ensinou a continuar aprendendo sempre”, diz César Gon, que concluiu mestrado em Ciência da Computação em 1995 e hoje é um dos proprietários da Ci&T, especializada no desenvolvimento de softwares aplicados em tecnologias web. Há apenas 12 anos no mercado, a empresa deverá encerrar 2006 com um faturamento em torno de R$ 30 milhões. A carteira de clientes do ex-aluno inclui gigantes como Avon, BankBoston, BM&F, Caixa Seguros, CVRD, Editora Abril e HP.

Fachada  do prédio de 1.200 m² da Ci&T: faturamento de R$ 300 milhões em 2006 e 315 funcionários, 65% formados na UnicampAo lado dos sócios Bruno Guiçardi e Fernando Matt, também ex-alunos da Unicamp, César Gon acaba de abrir um escritório em Londres e uma subsidiária na Filadélfia (EUA). A intenção, segundo ele, é se aproximar dos atuais clientes norte-americanos e potencializar as oportunidades de negócios com o país. Com a nova filial, a empresa espera faturar um total de R$ 3,6 milhões ainda este ano, alcançando assim um crescimento de 150% nas suas vendas para os Estados Unidos.
Natural de Amparo, no Circuito das Águas, Gon se surpreende com a trajetória bem sucedida à frente da Ci&T. “No começo tínhamos apenas nossos PCs em um quarto de fundos numa casa modesta”, conta. Hoje, a empresa ocupa um prédio de 1,2 mil metros quadrados no Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (CPqD), é equipada com recursos de última geração, mantém filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória, e conta com 315 funcionários – 65% deles oriundos da Unicamp.

Outras empresas surgiram no rastro da privatização da Telebrás. É o caso da Optolink, que atua na área de fotônica. Trata-se de uma das doze empresas originadas no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp nos últimos 20 anos. Seu foco está voltado para o desenvolvimento e produção de componentes utilizados em linhas de fibras ópticas. Esses componentes servem, principalmente, para garantir que o sinal que contém informação se mantenha constante ao viajar dentro da fibra. Seu proprietário, o ex-aluno Ildefonso Félix de Faria Júnior, estava entre as primeiras levas de técnicos que ajudariam a formar o CPqD da Telebrás. Com a privatização da estatal, em 98, Faria Júnior decidiu continuar no ramo, só que em próprio negócio. “Decidi arriscar e não me arrependo”, assegura. A empresa, que em seu primeiro ano de funcionamento faturou R$ 40 mil, em 2005 alcançou a casa de R$ 600 mil.

José Ripper Filho, ex-professor: desenvolvendo a primeira fibra óptica do BrasilAinda no ramo de comunicações ópticas, um dos destaques é a Asga, dirigida por um ex-professor da Unicamp, José Ellis Ripper Filho, e pelos sócios Francisco Carlos de Prince e Francisco Mecchi, ambos egressos do Instituto de Física. Formado em engenharia pelo ITA, com pós-graduação no MIT (Massachusetts Institute of Technology), Ripper coordenou, em 1971, o Programa de Comunicações Ópticas, uma parceria entre a Universidade e o Governo Federal que permitiria o desenvolvimento da primeira fibra óptica no Brasil – e que mais tarde daria origem ao CPqD, formado basicamente com professores do IFGW. Ao longo das duas décadas seguintes, muitos deles se tornariam empresários.

No caso de José Ripper Filho, a mudança resultou de uma sucessão de fatores da conjuntura econômica. Nos anos 80, ele passou a trabalhar como diretor-técnico da Elebra, empresa do grupo Docas de Santos. Em 1987, o ex-professor e seus sócios compraram a parte dedicada à fabricação de componentes para fibra óptica e criaram a Asga. Passados quase 20 anos, a empresa consolidou-se como maior fabricante de equipamentos de comunicações ópticas do país, com faturamento de R$ 60 milhões em 2005.

Juniores
Roberto Lotufo, diretor da Inova: estimulando a cultura de negociar tecnologias universitáriasO sucesso alcançado por ex-professores e ex-alunos reflete, de certa forma, o clima favorável ao empreendedorismo existente na Unicamp. Ao lado das atividades científicas há um leque de programas extracurriculares que oferecem inúmeras opções aos estudantes que sonham com outros horizontes. O exemplo mais marcante nessa área são as 17 empresas juniores em atividade no campus. Juntas, elas alcançam um faturamento da ordem de R$ 500 mil por ano. Nesses pequenos núcleos, centenas de alunos das diversas áreas do saber unem pesquisa e empreendedorismo para conhecer de perto a realidade do mercado.

César Gon, por exemplo, lembra que a passagem por uma empresa júnior da Universidade foi fundamental para sua formação empresarial. “Pude vivenciar como funciona do mercado e aprendi a conciliar conhecimento tecnológico com capacidade administrativa”, observa. Originárias da iniciativa dos estudantes, mas com supervisão de professores especializados, as juniores prestam serviços de consultoria, apoio técnico e desenvolvem estudos e projetos em geral. Em média, o custo dos serviços prestados pelos alunos-empresários é 50% inferior ao da praça. “Pesquisa e empreendedorismo são duas áreas que se complementam”, afirma o pró-reitor de Pesquisa, Daniel Pereira. Segundo ele, o sucesso profissional, seja como pesquisador ou empreendedor, está associado à qualidade da formação.

Ildefonso de Faria Jr., ex-aluno do IFGW: entre os técnicos que ajudaram a formar o CPqDAs empresas juniores não constituem, porém, o único caminho para o empreendedorismo dentro da Universidade. Criada em 2001, a Incubadora de Empresas da Unicamp (Incamp) já contribuiu para a formação de nove empresas de base tecnológica e abriga outras onze. Algumas produzem serviços e equipamentos que até pouco tempo tinham de ser importados. É o caso da Griale. Depois de passar oito meses incubada, a empresa, dirigida pelo engenheiro eletricista Iron Daher, lançou seu primeiro produto no mercado, o Rex2, um dispositivo de controle de acesso baseado no reconhecimento das impressões digitais. “Nossa tecnologia é inovadora porque dispensa a digitação de senhas exigida por outros dispositivos”, informa.

Patentes
Outra comprovação de que pesquisa científica pode gerar riqueza com impacto social é o crescente número de patentes registradas e licenciadas. Desde abril, a Unicamp lidera, pela primeira vez, o ranking de pedidos de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Segundo levantamento referente ao período de 1999 a 2003, a Universidade tem 191 depósitos. Em seguida vêm a Petrobras, com 177 pedidos; a Arno, 148; e a Multibrás Eletrodomésticos, 110.

César Gon, mestrado em Ciência da Computação: passagem foi fundamental por empresa júniorSomente em 2005, a Agência de Inovação (Inova) da Unicamp realizou o depósito de 66 patentes. A Inova também foi responsável pela assinatura de 41 acordos para projetos de pesquisa em parceria com empresas. Estes acordos são chamados de pesquisas colaborativas, onde empresas buscam o apoio da Universidade para encontrar respostas tecnológicas que atendam a suas demandas específicas. Além disso, a equipe da Agência realizou 12 contratos de licenciamento de tecnologia, entre produtos, processos e know-how.

O desempenho expressivo nessa área levou a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, a reconhecer a Unicamp como a instituição que melhor faz inovação tecnológica na região Sudeste. A cerimônia de premiação aconteceu no dia 20 de setembro em Vitória (ES). A Inova, criada para fortalecer a cooperação entre a Universidade e as empresas, em três anos de atividade, fechou 250 contratos de transferência de tecnologia e de serviços tecnológicos.

Roberto Lotufo, diretor executivo da Inova, explica que o Brasil não tem uma cultura de comercialização de tecnologias universitárias e, nesse contexto, o papel da agência é estimular o desenvolvimento dessa cultura através da proteção e do licenciamento de propriedade intelectual. “No começo deste semestre conseguimos depositar mais patentes que a Petrobrás, mas a contribuição mais importante de nosso trabalho é a capacidade de comercialização, é promover a inovação através da comercialização dessas patentes”, afirma.


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