Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 271 - de 25 a 31 de outubro de 2004
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Pesquisa comprova relação entre fenômeno
climático e composto orgânico de alta volatilidade

Cientistas desvendam mecanismos de formação das chuvas amazônicas



JEVERSON BARBIERI


O coordenador da pesquisa, professor Marcos Eberlin: descoberta é fundamental para fechar o ciclo (Foto: Antoninho Perri)Entender o mecanismo de formação das chuvas e sua estreita relação com o meio ambiente sempre foi objeto de estudo de pesquisadores de várias partes do mundo. E, nessa relação, entender o funcionamento do sistema climático da Amazônia sempre foi um desafio, devido ao alto índice pluviométrico da região e a importância vital das chuvas na conservação da floresta amazônica. Ao longo dos anos, ocorreram relatos esporádicos que apontavam para o envolvimento do isopreno, um composto orgânico de alta volatilidade emitido em grande quantidade pela floresta tropical brasileira, no mecanismo de formação das chuvas na Amazônia. Não havia, porém, nenhuma comprovação científica.

Liberação de isopreno se dá pelas plantas

O trabalho desenvolvido no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, do Instituto de Química da Unicamp (IQ), confirmou essa hipótese. O coordenador da pesquisa, professor Marcos Eberlin, explica que a idéia de comprovar experimentalmente a efetiva participação do isopreno na indução de chuvas na Amazônia surgiu a partir de uma pesquisa publicada na revista Science, em fevereiro desse ano. Nesse trabalho, uma equipe de cientistas de todo o mundo envolvidos no projeto Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), e coordenadas no Brasil pelo professor Paulo Artaxo, da USP, descobriu na atmosfera da Amazônia compostos bastantes polares constituídos de 5 átomos de carbono (polióis), e postulou serem estes elementos fundamentais na condensação de nuvens e precipitação de chuvas. Foi então sugerido que estes polióis eram formados a partir do isopreno, por conter também 5 átomos de carbono.

O que faltava nessa ponte era então a confirmação de que a fotoxidação do isopreno era mesmo a fonte destes “fabricantes” de chuvas. A partir daí, Eberlin convidou o professor Rodinei Augusti, de Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais, especialista em fotoxidação, e Leonardo S. Santos, pesquisador de Laboratório Thomson, para estudar este processo.

Experimento – A hipótese a ser testada era a de que se o isopreno, liberado pelas plantas, seria mesmo oxidado na atmosfera pela luz solar e conseqüentemente gerava os polióis que, devido suas altas polaridades e hidrofacilidades, serviam então como germes nucleadores que atraem moléculas da água. Atraídas, as moléculas de água condensariam e formariam nas nuvens as gotas de água das chuvas. Utilizando um espectrômetro de massa de última geração, os pesquisadores reproduziram as condições atmosféricas que provocariam a reação do isopreno com radicais hidroxilas, medindo assim as massas e determinando as estruturas químicas dos produtos obtidos durante o processo. A fotoxidação foi realizada com grande êxito e eles conseguiram observar a formação dos mesmos polióis propostos como núcleos eficientes de condensação de nuvens. De acordo com o professor Eberlin, este resultado confirma a hipótese levantada recentemente na revista Science sobre o papel vital do isopreno, e que está agora, com o “elo perdido” que faltava, totalmente comprovada cientificamente. “Essa descoberta é fundamental para fechar o ciclo e compreender com perfeição o mecanismo completo da precipitação de chuvas na maior e mais importante floresta tropical de nosso planeta”, completa Eberlin.

O trabalho intitulado Mimetizing the Atmospheric Photooxidation of Isoprene: Interception and Characterization of the Key Polyols Acting as Could Condensation Nuclei in the Amazon Rain Florest by Electrospray Ionization Mass and Tandem Mass Spectrometry foi submetido à publicação alemã Angewandte Chemie.

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