Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 271 - de 25 a 31 de outubro de 2004
Leia nessa edição
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MultiCiência
Cultura X solidão
 

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Recém-criado, Departamento de Cinema
agrega especialistas e aposta na multidisciplinaridade

Para a cultura não
ser condenada à solidão



MANUEL ALVES FILHO


Fotos: Antoninho PerriNo final da década de 80, os filmes produzidos no Brasil representavam apenas 2% do mercado exibidor nacional. Menos de dez anos depois, esse índice saltou para 10%. Atualmente, as produções locais respondem por 25% do que é levado ao público nas salas de cinema. É neste contexto altamente positivo para a cinematografia brasileira que a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mais especificamente o Instituto de Artes (IA), acaba de criar o Departamento de Cinema (Decine). A nova estrutura organizacional nasce com o propósito não apenas de agregar os diversos especialistas que se dedicam ao tema, mas principalmente de possibilitar que o cinema seja pensado de forma mais ampla. “Estamos abrindo um espaço institucional para fazer uma reflexão mais abrangente sobre o cinema. Isso significa trabalhar, entre outros, com o cinema narrativo, o de vanguarda, o de ficção, o documentário e até mesmo a videoarte”, afirma Fernão Ramos, um dos seis docentes do Decine. “Queremos pensar o cinema não apenas como uma mídia entre outras e, sim, como um suporte imagético privilegiado da expressão das culturas humanas. Sem o cinema, uma cultura é condenada à solidão”, acrescenta o antropólogo Etienne Samain, chefe do Departamento.

Pesquisas ficavam antes dispersas

Etienne SamainOficialmente, o Decine foi criado em agosto último, após aprovação do Conselho Universitário (Consu). Antes, a proposta já havia sido acatada pela Congregação do IA e pela Câmara de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). De acordo com o professor Marcius Freire, um dos integrantes do sexteto, diversos docentes da Unicamp já tinham o cinema como tema de suas pesquisas acadêmicas. Ocorre, porém, que esses trabalhos estavam muito dispersos. “Com a criação do Departamento, nós tivemos a oportunidade de reunir esses especialistas, que estavam espalhados por diversas áreas. Um dos aspectos positivos dessa iniciativa está justamente em abrir a possibilidade para que o cinema seja estudado a partir de uma abordagem multidisciplinar”, explica.

Os professores do Departamento de Cinema, conforme Marcius Freire, trabalharão inicialmente com os alunos dos cursos de graduação e pós-graduação já existentes no IA. “Mas nós já observamos no horizonte a possibilidade da criação de uma habilitação em cinema – o projeto já existe - para formação de cineastas, críticos etc, que viria juntar-se à habilitação em Midialogia, atualmente em seu segundo semestre de funcionamento, no quadro do Curso de Comunicação Social do IA”, adianta o Fernando Passosdocente. Ainda segundo ele, o advento do Departamento, somado ao curso de graduação em Midialogia, reforça o segmento da comunicação no Instituto, mudando inclusive o seu perfil. “Em virtude dessa nova realidade, já está em discussão na Congregação, como parte das atividades do planejamento estratégico, a proposta de alteração da denominação da unidade para Instituto de Artes e Comunicação”, afirma.

O professor Fernão Ramos reafirma que a proposta do Decine é abrir o leque e trabalhar também com outras linguagens audiovisuais, como a televisão e a fotografia. O cinema, no caso, será o eixo em torno do qual os estudos serão conduzidos. “Sem essa espinha dorsal, correríamos o risco de tornar o projeto amorfo”, pondera Fernão Ramos. Para Fernando Passos, o estabelecimento de uma interface entre o cinema e outras áreas é fundamental. A idéia é trabalhar com o tema de forma transversal. Assim, haverá a oportunidade de uma análise conjunta, por exemplo, do cinema com as artes cênicas ou com a literatura. O docente reforça a importância de o Decine ter sido criado num momento importante para o cinema brasileiro, mas também mundial.

Fernão RamosDe acordo com Fernando Passos, a Associação Internacional de Escolas de Cinema, formada por 184 instituições, está montando uma distribuidora para trabalhar apenas com filmes universitários. A iniciativa, diz, vai ao encontro do conceito de globalização, mas privilegia o caráter cultural em detrimento do comercial. “O objetivo é promover a abertura do cinema, que no nosso entender não pode ser uma cultura fechada e nem ter um foco limitado”.

Segundo o chefe do Decine, professor Etienne Samain, estudar o cinema não é somente procurar compreender melhor a dinâmica das culturas humanas, mas, efetivamente, refletir uma maneira de ser ao mundo. “O cinema representa um estado do olhar e do pensamento com relação à realidade do mundo que nos cerca. Pensar o mundo dos homens com o cinema significa pensá-lo na sua dinâmica e fluidez, diferentemente, então, da maneira com que pensamos o mesmo mundo através de fotografias, isto é, através de fragmentos do real, de recortes do espaço e de golpes no tempo. Cada tipo de imagem tem sua singularidade”, reflete. Nuno César Abreu considera que o Decine dará maior consistência aos estudos que têm no cinema seu principal objeto. Neste aspecto, completa Etienne Samain, outra missão do Departamento será estabelecer cooperações nacionais e internacionais, de modo a conferir excelência às suMarcius Freire as atividades.

Embora tenha sido criado muito recentemente, o Decine já tem feito esforços nessa linha. Um exemplo foi a sua primeira atividade oficial, que consistiu no convite para que o historiador Marc Ferro, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, viesse proferir uma palestra no IA. Na oportunidade, o intelectual falou sobre cinema, arte e mídia, dando especial ênfase às imagens que produzem efeitos na história. De acordo com Ferro, o estudo da história não pode prescindir do trabalho com as imagens. Muitos estudos teóricos, no entender dele, deveriam ser cruzados com imagens para verificar possíveis contradições.

Além disso, no próximo dia 8 de novembro, o Decine estará co-organizando o lançamento em Campinas do filme “Nina”, do diretor Heitor Dhalia. A obra narra a história de Nina, personagem inspirada em Raskolnikóv, Nuno Ramos protagonista do romance “Crime e Castigo” de Dostoievski. Após a exibição, será realizada uma mesa redonda para a discussão do tema “Cinema e literatura”, que contará com a participação do escritor Marçal Aquino, ganhador do prêmio Jabuti de 1999 pela obra “O Amor e Outros Objetos Pontiagudos”. O evento será no Cine Jaraguá, que fica na Avenida Brasil, no Jardim Guanabara.

Ainda no próximo mês de novembro o Decine estará promovendo, juntamente com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), uma mostra de filmes sobre meio ambiente. As produções fazem parte do último festival de filmes sobre meio ambiente de Goiás. O Departamento de Cinema (Decine) do Instituto de Artes (IA) da Unicamp conta, inicialmente, com seis professores. São eles: Marcius Freire, Fernão Ramos, Etienne Samain, Nuno César Abreu, Fernando Passos e Lúcia Nagib.

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Os professores Etienne Samain, Fernando Passos, Fernão Ramos, Marcius Freire e Nuno Ramos que, juntamente com a professora Lucia Nagib, integram o corpo docente do Decine: cinema pensado de forma mais abrangente

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