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Comentário: Identidade e
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COMENTÁRIO

Identidade e iberismo

EUSTÁQUIO GOMES


Michel Debrun, um estudioso da alma brasileira, tinha seus pontos de vista sobre a identidade nacional. O Brasil tinha ou não identidade consolidada? Debrun achava que ainda não, "apesar do consenso em torno do futebol, do samba e da caipirinha". Identidade requer elementos de cidadania não assenhoreados ainda pela totalidade dos brasileiros. Mas ele era otimista quanto a isso, embora não tanto quanto Darcy Ribeiro, que extraía do caldeirão étnico brasileiro o visionarismo de uma nova civilização.

Para um não-acadêmico a serviço da simples informação, eu brincava com a idéia de que, se Darcy exagerava (como exagerou há um século o Conde de Afonso Celso), Debrun bem que poderia condescender em que um país continental de uma só língua, mesmo que dilacerado por diferenças socioeconômicas, apresentava uma certa unidade na sua diversidade cultural.

Mas a identidade, é claro, não se faz à custa do simples desejo.

Tudo isto vem a propósito da belíssima análise que nesta edição faz o professor Edgar de Decca de nossa questão identitária com Portugal, o país que não somente nos colonizou (bem ou mal, é um assunto fértil) mas que também nos deu a língua, parte substancial de nossa cultura, diversidade étnica (freqüentemente por vias tortas), um certo aventureirismo e essa crença insólita num eldorado que parece parte intrínseca do caráter brasileiro médio.

De Decca parte esta semana para Portugal, onde vai inaugurar a cátedra da Unicamp no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, durante três meses. Seu assunto será exatamente este: os liames identitários entre os dois povos. Não por acaso, ele leva em sua bagagem uma cópia de uma tese inédita de Sérgio Buarque de Holanda que o próprio De Decca levantou do espólio do escritor depositado na Unicamp, e que em algum momento será publicada. Nessa tese, o tema de Sérgio não é outro senão o desvendamento de nossas relações culturais e afetivas com o mundo ibérico.

A abertura dessa cátedra é uma experiência acadêmica que seguramente tem seu lugar no campo das aproximações entre dois mundos, além de ser um passo importante nas relações da Unicamp com o universo acadêmico português e, por que não?, na busca de nossa identidade. Portanto, boa viagem, De Decca.

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