194 - ANO XVII - 14 a 20 de outubro de 2002
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O ginecologista Maurício de Souza Arruda:  tempo médio de diagnóstico é de sete anosO endométrio não espera

Estudos avaliam prejuízos da demora da detecção da endometriose

ISABEL GARDENAL

A endometriose é uma doença que se manifesta em 20 a 30% das mulheres quando tecidos do endométrio se implantam em locais fora do útero, causando lesões dolorosas em vários órgãos (intestinos, bexiga e ovários, entre outros) e infertilidade em alguns casos. Infelizmente, o tempo médio para se chegar ao seu diagnóstico não é nada animador: tem demorado até sete anos, conforme pesquisa de mestrado feita na Faculdade de Medicina da Unicamp. E pacientes cujos sintomas iniciaram antes dos 19 anos levaram 12 anos para descobrir que tinham a patologia; em mulheres com idade entre 20 e 29 anos - quatro anos, e com mais de 30 - três anos.

"A idade, portanto, foi um fator significativo, alertando-nos que suspeitamos pouco de endometriose em pacientes jovens", conclui o ginecologista Maurício de Souza Arruda, na dissertação de mestrado "Avaliação do tempo decorrido entre o início dos sintomas e o diagnóstico de endometriose".

O médico investigou, orientado pelo ginecologista Carlos Alberto Petta, uma amostra de 200 pacientes do Ambulatório de Endometriose do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism).

De acordo com o que foi apurado, inúmeros sintomas são atribuídos à endometriose, sendo os mais significativos cólica menstrual, dor nas relações sexuais, dor pélvica não associada à menstruação e infertilidade.

Diagnóstico - Não há sinais patognomônicos que identifiquem a endometriose e nem achado no exame físico, apesar de haver sinais sugestivos como, por exemplo, pouca mobilização do útero ao toque, dor à palpação dos anexos, espessamento do ligamento uterossacro e nódulos no fundo da vagina.

Muitas pacientes atendidas nos ambulatórios de infertilidade têm endometriose (30 a 50%). Neste caso, têm seu diagnóstico num intervalo menor - quatro anos. Isso provavelmente porque a laparoscopia integra o protocolo da investigação de infertilidade.

Maurício arrisca algumas hipóteses para essas conseqüências: as mulheres demoram para procurar ajuda; é moroso o encaminhamento da atenção terciária para os centros especializados; sintomas de endometriose podem se confundir com outros que apenas exigem tratamento clínico; e o médico, em geral, subestima a queixa de dor.

O único exame que diagnostica endometriose, segundo Maurício, é a visualização direta das lesões na pelve, o que equivale a dizer que este diagnóstico requer procedimento cirúrgico, sendo a videolaparoscopia

Qualidade de vida fica comprometida

A fisioterapeuta Andréa Andrade Marques: dor teve papel relevante na pesquisaOutro estudo, intitulado "Qualidade de vida de mulheres com endometriose através do SF-36", de autoria da fisioterapeuta Andréa Andrade Marques, avaliou a qualidade de vida de 60 mulheres com endometriose (com e sem dor) atendidas no Caism. A conclusão foi pesarosa: tinham péssima qualidade de vida, física e emocional.

Como a idéia era traçar um perfil dessa população e descrever a vida e as dificuldades das mulheres estudadas, foi utilizado o SF-36, um questionário reduzido do Medical Outcome Study (MOS). As 36 questões relacionavam-se ao estado geral das mulheres. Para Andréa, a dor teve um papel relevante na pesquisa, embora as de intensidade forte e leve não mostrassem diferenças significativas entre si, exceto pelo baixo escore em todas. "Quem praticava atividade física apresentava melhores condições", salienta Andréa.

A pesquisa, que foi orientada pelo ginecologista Luis Bahamondes, comprovou a importância de dar um suporte físico e psicológico a elas - iniciativa tomada no Caism há quase dois anos, com a criação do Programa de Apoio a Pacientes com Endometriose. "Em um dos nossos trabalhos, pacientes que tinham qualidade de vida ruim antes da nossa intervenção agora alcançaram grandes progressos", conta Andréa.