| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 308 - 7 a 13 de novembro de 2005
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Trabalho sobre cuidados
paliativos conquista prêmio

JEVERSON BARBIERI

A oncologista Nancy Mineko Koseki: "A população e os profissionais da saúde precisam se conscientizar" (Foto: Antoninho Perri)O trabalho de descentralização do atendimento a pacientes com câncer avançado e sem possibilidades de cura, elaborado pela oncologista Nancy Mineko Koseki, do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp, ganhou o 2º Prêmio de Oncologia Novartis Saúde Brasil. O objetivo do trabalho, segundo Nancy, é criar condições de capacitação do profissional da área de saúde para a medicina paliativa. “Os profissionais da saúde estão preparados apenas para a medicina curativa e, muitas vezes, isto é frustrante”, disse ela. Porém, de acordo com Nancy, a implementação efetiva desse trabalho enfrenta um grande entrave que é a falta de compromisso político-institucional, fundamental para o sucesso do programa.

Capacitação foi feita em
sete cidades paulistas

Nancy explica que a pesquisa constatou um aumento da interface social dos serviços de saúde e, também, uma tendência de horizontalização do programa, nos municípios onde havia motivação por parte dos profissionais. Isso, segundo ela, facilitou a assistência ao paciente na sua cidade de origem e, muitas vezes, em seu próprio domicílio, principalmente nos municípios onde havia um modelo de saúde da família, além de uma organização não-governamental da área de saúde bastante ativa.

Para a médica, os fatores que limitam a assistência e o desenvolvimento mais qualificado das atividades são a falta de recursos para viabilizar visitas domiciliares rotineiras e problemas com o fornecimento de medicamentos. “Alguns postos de saúde não possuem medicação básica para oferecer à população carente”, ressalta Nancy.

A oncologista alerta para o fato de que é preciso conscientizar a comunidade e as autoridades médicas que comandam a área de saúde do Brasil, da necessidade de inclusão dos cuidados paliativos no programa nacional de saúde. Além disso, de acordo com ela, é preciso integrar efetivamente o tema nos programas nacionais de graduação e pós-graduação. “Temos dois programas nacionais. O de Educação Continuada em Dor e Cuidados Paliativos aos Profissionais de Saúde, da Associação Médica Brasileira (AMB) e, também, o de Assistência em Dor e Cuidados Paliativos do Ministério da Saúde. Infelizmente, ambos estão estagnados”, lamenta Nancy.

Metodologia – Para esse trabalho, a oncologista e sua equipe visitaram as cidades paulistas de São José do Rio Pardo, São João da Boa Vista, Amparo, Indaiatuba, Atibaia, Mogi-Mirim e Americana. Nessas visitas, a capacitação foi feita através de workshops, nos quais foram abordados os principais sintomas do paciente à medida que a doença evolui. Dessa forma, segundo ela, preparar o profissional para que ele possa oferecer os cuidados paliativos a esses pacientes sem expectativas de cura foi o grande objetivo.

Essa metodologia, além de objetivar um conforto para o paciente, evita que ele sofra e se sinta abandonado, muito comum nessa fase da doença. Além disso, acrescenta Nancy, ao utilizar o sistema de saúde local o paciente reforça a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) de sua cidade e evita que ele recorra aos hospitais-modelos, criados para atender doenças de alta complexibilidade.

Cuidados paliativos – O conceito de cuidados paliativos surgiu na Inglaterra no final da década de 1960, como hospice. Trata-se de um programa de cuidados paliativos e de serviços de suporte que proporciona cuidados físicos, psicológicos, sociais e espirituais às pessoas que se encontram em fase terminal da doença, e também a seus familiares. Esse conceito espalhou-se pelo mundo, porém, segundo Nancy, é impossível de ser implantado no Brasil da forma como foi constituído. “As estruturas são grandes e caras. Os países do primeiro mundo possuem mais recursos financeiros, têm dimensões geográficas menores e, conseqüentemente, uma população bem menor. Nossa realidade é muito diferente. Temos sérios problemas de recursos financeiros para a área de saúde. É preciso adaptar o programa à nossa realidade”, ressalta a médica.

No último dia 8 de outubro comemorou-se o Dia Mundial de Cuidados Paliativos e Hospice, e Nancy espera que as ações ocorridas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, possam proporcionar uma oportunidade de aumentar o entendimento e a natureza dos valores dos cuidados paliativos. É preciso, segundo ela, destruir alguns mitos como, por exemplo, de que esse tipo de cuidado é uma forma de ajudar a pessoa a morrer. “Medicina paliativa é, sobretudo, ajudar o paciente a ter uma vida o mais confortável possível diante de uma doença incurável”, disse. Trata-se de um modelo flexível e adaptável, que pode ser oferecido na casa do paciente ou mesmo em hospitais, e que deve ser estendido aos membros da família.

Nancy alerta também para o fato de que cuidados paliativos não devem ser vistos como o último recurso a ser oferecido ao paciente. Ele deve ser oferecido juntamente com o tratamento estabelecido pela equipe médica responsável. Além disso, a identificação e o reconhecimento desse processo na organização do sistema de saúde brasileiro coloca os municípios como parceiros privilegiados e, ao mesmo tempo, fundamentais na descentralização das ações de cuidados paliativos para pacientes com câncer incurável e, possivelmente, a todos com doença crônico-degenerativa. “A composição dos cuidados deverá ser ajustada às necessidades que a demanda impõe e, também, à disponibilidade de recursos financeiros de cada município”, finaliza.

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